Na cadeira home office, com uma xícara de café bem quente, diante dos seus computadores, eles começam mais um dia.
Celular na mão, olham as notícias de esportes nos principais portais e começam a fazer seu trabalho, que inicia agora e não tem hora para acabar.
Em grupos no WhatsApp e no Telegram, se reúnem com outras pessoas que também utilizam sites como o Major Sport, o 1Xbet e o Bet365, e se informam sobre estatísticas e probabilidades sobre os jogos do dia.
É assim que os novos jogadores têm tentado se tornado profissionais do esporte, sem precisar entrar em um campo ou em uma quadra, levantar peso, correr, lutar, aprender como usar um taco de golfe ou rebater uma bola de tênis.
Sem o desgaste físico dos atletas, mas com considerável desgaste mental e bastante pressão psicológica, é de dentro de casa que eles tentam fazer dos esportes sua fonte de renda. Mas, será que isso realmente é possível?
Há quem jure que sim, principalmente quem vende planilhas, palpites, bots que fazem apostas automaticamente (o que, segundo Pedro Mantos, especialista da BH Servers, é, inclusive, proibido por diversos sites de apostas e pode fazer com que os apostadores percam todo seu saldo) ou cursos sobre como tornar as apostas em jogos uma profissão, mas é preciso ficar muito atento a todos os riscos que estão envolvidos nesse tipo de aplicação financeira, principalmente ao encará-la como investimento ou profissão, o que já é feito por 43% dos apostadores do Brasil, segundo a pesquisa Industry Insights.
Os perigos mais óbvios, claramente estão relacionados com os riscos de perdas financeiras irreversíveis, por se tratarem de aplicações sem nenhum tipo de garantia de retorno ou pagamento, mas eles, definitivamente, não são os únicos, e se estendem a problemas de segurança digital que podem desencadear exposição de dados sensíveis como senhas e informações pessoais, sequestro de aparelhos, e por fim, altas probabilidades de danos à saúde mental e física de quem mergulha nesse universo.
O professor Gustavo Assed Ferreira, da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP explica que há riscos de contaminação por vírus durante os acessos aos sites de apostas: “Um fator preocupante é a segurança dos sites destinados a esses jogos, esse acesso pode comprometer seu smartphone ou computador […] Algumas empresas de fato são bastante corretas e agem num limite muito firme do que a legislação permite, outras, nem tanto.”
Em relação aos danos para a saúde, eles começam com os mais “simples possíveis”, relacionados ao uso excessivo de computadores e celulares, como inflamações nas articulações, não apenas em relação à digitação, mas também pelo tempo excessivo que os jogadores passam sentados.
Ficar muito tempo com o pescoço abaixado, olhando para a tela do celular, também pode desencadear sobrecarga da coluna cervical, causando dores e danos ao longo do tempo. Segundo a revista científica Surgical Technology International, ao ficar com o pescoço inclinado para baixo, o peso da cabeça passa de aproximadamente 5 kg para 27 kg.
Além dos danos às juntas e à coluna, o tempo de exposição às telas também pode causar “falsa miopia”, que é um tipo de contração excessiva da musculatura dos olhos, que ocorre quando a vista é forçada por longos períodos olhando imagens próximas e acaba ficando embaçada quando a pessoa olha para longe.
Dr. André Aguiar, alergista no Rio de Janeiro, também explica sobre os riscos de infecções pela baixa exposição ao sol e o excesso de contato com computadores e celulares: “Embora não seja tão comum, se a imunidade do indivíduo estiver baixa, os micro-organismos presentes nesses equipamentos (mais de 23 mil fungos e bactérias) podem causar otite, conjuntivite, acne, infecções respiratórias, dermatites e outras irritações na pele”.
Apesar de todos os riscos à saúde física, os danos psicológicos podem ser ainda piores, e não estão relacionados apenas ao uso excessivo de computadores e celulares, visto que muitos apostadores podem dizer que não passam tanto tempo conectados e envolvidos digitalmente com os jogos.
Dora Góes, psicóloga do Programa de Dependências Tecnológicas do IPQ (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas), explica que: “O uso descontrolado da tecnologia causa prejuízos na vida das pessoas como um todo. Elas perdem o foco das coisas realmente importantes e têm uma qualidade das relações empobrecida. Isso é pouco percebido, principalmente por quem é viciado em jogos. A pessoa perde o foco, fica mais distraída, retém menos informações e tem uma diminuição da memória”.
Além desses problemas, mais difíceis de notar, e que só começam a causar danos a longo prazo, existe também o risco dos jogos se tornarem um vício, em que a prioridade passa a ser jogar e obter lucros que servem apenas para mascarar perdas muito maiores.
As pessoas ao redor podem perceber, criticar e tentar alertar o jogador, mas esse é um vício muito difícil de diagnosticar, visto que o dependente em jogos de apostas tem sempre a esperança de provar que todos estão errados, ganhando um valor considerável através do que considera um ofício.
Segundo informações do Royal College of Psychiatrists, instituição relacionada ao estudo da saúde mental, apostadores que se tornam viciados correm riscos sérios de desenvolver problemas secundários, como baixa autoestima ou depressão.
Além disso, quando uma sensação de prazer é repetida muitas vezes, a tendência é que ela libere cada vez menos dopamina no cérebro, fazendo com que o apostador precise arriscar cada vez mais, na tentativa de sentir novamente um prazer intenso ao conseguir uma vitória.
A forma mais fácil e óbvia de não correr esse risco é não apostar, e se for realizar esse tipo de atividade, fazê-la de forma recreativa, tendo em mente que os jogos devem servir como forma de diversão e lazer, e não como empreendimento.
Redação: Bruna Bozano.