A intolerância demonstrada nas mídias sociais tem sido alvo de análises sobre o comportamento humano pós moderno. E o despreparo das pessoas em usar essas novas tecnologias está em evidência. Uma amostra dessa realidade está em levantamento divulgado pela Organização Não Governamental (ONG) Safernet.
O número de denúncias de crimes de ódio cometidos na internet cresceu 84% com as discussões na rede sobre as eleições. No País, foram 8.429 denúncias envolvendo crimes de ódio no Facebook e Twitter, no período de 1º de julho a 6 de outubro. No mesmo período de 2013, foram 4.583 denúncias. As reclamações incluem páginas com conteúdo relacionado a racismo, homofobia, xenofobia, neonazismo e intolerância religiosa.
A psicóloga clínica Luciene Lima diz que o mundo virtual encoraja as pessoas a falarem demais. Ali não existe o cara a cara, logo a pessoa está livre de um olhar feio ou de uma expressão desaprovadora. Com o tempo isso se torna comum e o indivíduo se habitua a falar tudo o que pensa nas redes sociais, se torna insensível e com uma postura de Senhor da Verdade.
Para Luciene, a falta do debate agrava a situação. Quantas vezes digitou alguma coisa e não deu enter? A postura de uns se expressarem e outros não acaba por permitir que um continue sua prática sem se preocupar se está ofendendo o outro.
Vale um alerta. Ao contrário do que pensa muita gente, a internet não é mundo livre de regras jurídicas, onde as pessoas podem expor e falar o que desejam sem enfrentar as consequências de seus atos.
Em princípio, qualquer ato ilegal praticado por alguém na internet pode gerar consequências jurídicas por parte daquele que se sentir ofendido. De forma geral, a responsabilidade por atos na internet é idêntica àquela causada por atos no mundo físico. Não há norma jurídica que dê isenção às pessoas para praticar atos ilegais na internet.
3 olhares
As manifestações de intolerância na internet preocupam a psicóloga. A internet permite que utilizemos máscaras, então a agressividade exacerbada do sujeito pode ser fruto da proteção que o mundo virtual oferece. Nosso comportamento deve sempre passar por um crivo de equilibro pessoal, sob três olhares: o meu, o de alguém totalmente contrário àquilo e o de alguém totalmente a favor. Avaliando prós e contras, e escolhendo as palavras com equilíbrio.
Essa prática não é difícil, afirma Luciene. No início talvez demore um pouco para a pessoa fazer esse exercício, mas logo essas análises passarão a ser cada vez mais rápidas e automáticas. Quando atingir esse ponto denotamos maturidade e preparo adequados para tornarmos uma parte saudável em um meio social equilibrado. Esse é um processo que vivemos diariamente na escola, em casa, no trabalho, seja onde for. Então, para não ser vítima de exageros, é preciso que nos recordemos todo o tempo, que o personagem estampado naquela rede social, ainda sou eu!”
Luciene Lima é psicóloga clínica, especialista em Psicologia Junguiana, formada pela UFES, integrante do Núcleo Estadual do Ministério de Comunicação Social da Renovação Carismática Católica/ES.
Pra pensar
“Viver é ficar se equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências” – Jean-Paul Sartre
*Fotos: divulgação, cedida pela fonte.