Artigo: A verdade vos libertará

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Ao celebrar a Independência do Brasil, nós brasileiros, vivemos uma mistura de sentimentos que vão desde a revolta até a indiferença. Para considerável parte da população trata-se de mais um feriadão para sair, descansar, encontrar amigos, curtir a vida.

A maioria fica sem saber se grita – como Dom Pedro nas margens do Ipiranga – ou chora as mágoas de uma crise política e econômica cujo foco principal é a corrupção e os corruptos.

O clima não está para festas.

Mesmo em ânimo para comemorações é preciso lembrar o valor simbólico da data. O nosso amor pelo Brasil, pela Pátria, nasce desta terra de onde tiramos o pão de cada dia, onde sabemos usar as riquezas para o bem de todos, sem privilégios e ganância. “Não perguntes o que a tua pátria pode fazer por ti. Pergunta o que tu podes fazer por ela” (John Kennedy).

Como seria bom se todos pudessem pensar como Ayrton Senna: “O fato de ser brasileiro só me enche de orgulho”. Certamente temos muitas razões para nos orgulhar desta “Terra de Santa Cruz”, como também muitas razões para nos indignar e pedir perdão. Vivemos uma grave crise ética. E neste sentido recordo Mário Covas: “No Brasil, quem tem ética parece anormal”.

Devemos celebrar a Independência do Brasil não porque tudo vai maravilhosamente bem e sim porque amamos essa “Terra cor de brasa” e sabemos que aqui é o nosso chão, o chão que provê o pão para todos.

Mesmo em um tempo de desesperança, devemos sonhar e ter esperança. Precisamos ter uma meta maior, humanitária. É necessário sempre que a Pátria lute para que consigamos chegar a um patamar digno em que poderemos festejar: “Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos” (Papa Francisco).

Na crise temos a oportunidade de mudarmos para melhor. Não existe tempo e momentos que não sejam oportunidades novas de um novo recomeço. Essa é a oportunidade para sair do mundo hipócrita, de uma economia de privilégios e assumir uma economia de dignidade para todos. Mentiras, roubos, enganação, corrupção constituem a lenha para queimar no inferno todos os que as praticam.

Temos diante de todos nós, povo cristão e temente a Deus, um único caminho que nos leva para a verdadeira liberdade e dignidade para todos: “Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.

Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres?

Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado (Jo 8,31-34).
Não queremos viver no pecado que semeia sofrimento, discriminação, exclusão social, pais de escravos. “Onde mora a liberdade, ali está a minha pátria” (Benjamin Franklin). Queremos a verdade, a dignidade, justiça social, para sermos realmente livres.

Façamos nossa as palavras de Dom Pedro I no dia 07 de setembro de 1822: “Viva a independência e a separação do Brasil. Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro promover a liberdade do Brasil. Independência ou Morte”! Que a mentira e a corrupção morram e que renasça uma Pátria livre.

Que Deus nos abençoe!

Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá-PR

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