A missão dos pais e dos educadores é semear no coração dos pequenos, os valores da vida e da fé, transmitir vivências, formar virtudes, que só o tempo poderá garantir os frutos. Com certeza a semente plantada é de ótima qualidade, porém isso não é suficiente. É preciso também preparar o solo onde ela será plantada; com isso pode-se esperar uma colheita satisfatória.
Ao mesmo tempo que tudo foi feito com cuidado, tudo na hora certa, mesmo assim no meio daquele trigo plantado com todo cuidado, nasce também o falso trigo. São duas plantas muito semelhantes, que juntas no plantio se confundem facilmente. O que fazer para que uma não atrapalhe a outra? A primeira reação é arrancar o falso e deixar o verdadeiro.
Na comparação que Jesus faz no Evangelho de Mateus, se referindo a essa relação do bom e do falso trigo, Ele deixa claro que os dois devem crescer juntos. A separação se dará na hora da colheita, para que arrancando o falso, não arranque o verdadeiro também.
A pergunta dos operários, que trabalharam na seleção e no plantio da semente, não podia ser outra a não ser: Quem plantou o trigo falso? E Jesus responde: Durante a noite o maligno veio e semeou o falso trigo. Por mais capricho com que foi feito o plantio, por mais cuidado que tivesse na seleção da semente, o maligno, não deixa de atuar na escuridão da noite enquanto todos dormem. A ação maléfica, a presença do inimigo, não pode ser ignorada no trabalho da formação e educação; dos verdadeiros valores da vida humana e espiritual.
É necessário ter a consciência clara de que ao lado do bem, existe o mal. A ação é conjunta, se dá ao mesmo tempo, e sempre de maneira silenciosa. Por isso que se faz necessário banir de todo o processo formação, em casa, na escola, na comunidade religiosa, todo tipo de negligência. “Deixa crescer depois ele ou ela escolhe”. “Não devo interferir em nada porque senão tiro a liberdade dele ou dela”.
“Não posso manipular a inteligência do meu filho”. São todas santas desculpas e falsas justificativas para tirar o corpo fora da missão de pai e mãe, de educador e facilitador na aquisição de princípios que fundamentam o verdadeiro sentido da vida. Ainda hoje tem muita gente repetindo a atitude de Pilatos. “Lavo as mãos do sangue deste justo”! Isso tem levado muitos ao profundo sentimento de culpa e de fracasso, pois, só fica a pergunta: Quem foi que semeou o falso trigo no coração dos meus filhos?
Ninguém substitui ninguém. A missão é minha e não posso passar a procuração pra quem eu quiser. Fugir ou delegar, é sempre uma missão subsidiária, nunca em primeira pessoa. Por isso que por mais perfeita que seja a instituição de ensino, por mais competente que sejam os educadores, jamais vão substituir a norma suprema da educação que é o testemunho dos pais. “As palavras convencem, os exemplos arrastam”. Na prática não parece ser tão simples assim. Não é simples, como também não é fácil explicar que a falsa semente foi semeada na escuridão da noite pelo maligno.
Aos pais e educadores, quero dizer: tenham a ousadia necessária para promover a boa educação. Semeiem o Reino de Deus. Mesmo quando tudo parece ruir, sem perspectiva, sem visão de futuro, a semente plantada vai produzir seus frutos na quantidade certa, na hora certa, pois um é que planta outro é o que colhe.
Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá (PR)