Será que, nos dias atuais, a forma como a maioria de nós foi alfabetizada, com a educação infantil trabalhando o conceito de leitura e escrita por repetição, daria certo? Eu, por exemplo, nasci em 1973. Naquela época, obviamente, não existia internet. Hoje em dia, no entanto, as crianças já nascem conectadas. Sabem mexer em tablets, computadores e smartphones melhores do que os adultos.
Os estímulos visuais, motores e cognitivos que recebem são diferentes. Não podemos pensar, portanto, em uma inserção ao mundo da leitura e escrita igual há 50 anos. Naquele período, decorávamos como escrever e ler corretamente, mas quando não tínhamos modelos para escrever ler, ficávamos inseguros e com receio de errar.
O que propomos é pensar a escrita como um sistema de símbolos organizado pelos homens para se comunicar e significar o mundo a sua volta. Portanto, a escrita nada mais é do que um conjunto de regras entre esses símbolos. Por isso, desde pequeno, os estímulos com contação de histórias, desenhos livres e cantar músicas com gestos espontâneos vão introduzindo a criança no mundo da leitura. E após decifrar o sistema da escrita por meio da leitura ele estará apto a escrever.
Precisamos pensar a educação infantil para além de saber escrever o nome completo e ler palavras sem sentido. O ideal é pensar a educação infantil como lugar de estímulos não só para ler e escrever, mas, também, como lugar de desenvolvimento de um ser integral, um ser que se coloca, mostra suas emoções, sabe lidar com situações de conflito. Alguém que saiba se colocar no lugar do outro, tem respeito pelas pessoas e também pelo ambiente e tudo que nele estiver. E, portanto, que a leitura e a escrita sejam aquisições importantes para ser e estar no mundo.
Pensar a educação infantil mais a fundo
Entender que para escrever é preciso primeiro saber ler, ter e querer falar, se expor e expor seus pensamentos e emoções. A escrita não pode ser pensada como uma atividade escolar, mas, sim, como uma necessidade social e cultural. Saber ler em seu sentido mais amplo possibilita interpretar, compreender e se posicionar sobre determinado assunto lido.
A educação infantil propicia isso quando, ao contarmos uma história, estimulamos a criança a falar o que irá acontecer na cena seguinte, ou o que ela achou ao final da história, se poderia ter outra conclusão. Estimular a criança a falar, a desenhar como forma de expressão, a ter o professor como escriba, mostrando que a escrita tem a função de memória. Dessa forma, estaremos dando sentido à leitura como diversão e imaginação, enquanto à escrita, registro.
Para escrever, o aprendente precisa entender como funciona o sistema de escrita e habilidade que é fornecida pela leitura. Sendo assim, ler para crianças pequenas, mostrar-lhes onde se está lendo, o que e por que ler tal texto, história, folder, ou qualquer outro material. Isso propicia a elas a aquisição dos conhecimentos necessários para colocar no papel o que foi aprendido com a leitura.
Uma criança que cresce em um ambiente onde há jornais, livros, revistas, ou até mesmo folder de propagandas, onde elas veem os adultos lendo e escrevendo, estará muito mais estimulada a fazer uso desses materiais e, portanto, aprender a ler e escrever.
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*artigo escrito por Ana Luisa Figueiredo de Abreu, professora de educação infantil há 27 anos, formada em Pedagogia pela Ufes, e pós-graduada em Psicopedagogia e Docência na Educação Infantil, e Autora do livro “Dialogando Com a Educação Infantil”