Menos de seis meses para a implementação do Novo Ensino Médio, as escolas de educação básica do Brasil, públicas e particulares, vivem o desafio de programar as mudanças e adaptações em meio aos danos causados pela pandemia à rotina educacional.
Aprovado em 2017, o Novo Ensino Médio se desdobrou na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – homologada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), em 2018 – e na definição dos itinerários formativos: conjunto de unidades curriculares que possibilitam que o estudante aprofunde os conhecimentos e se prepare para dar prosseguimento aos estudos ou para atuar no mundo do trabalho, de forma a contribuir com a construção de soluções para problemas específicos da sociedade.
Até o início do ano letivo de 2022, a reformulação deve estar implementada em todo o país. Mas, será que as escolas estão preparadas diante dos impactos negativos provocados pela crise sanitária?
De acordo com Claudio Sassaki, mestre em Educação pela Universidade de Stanford e cofundador da Geekie, a demanda pela implementação é legítima e a motivação do grande debate que se estabeleceu para a Reforma do Ensino Médio tem base em análises do desempenho dos estudantes conduzidas por organizações como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).
Os resultados – no Brasil, 43% dos estudantes ficaram abaixo do nível básico de proficiência em três áreas avaliadas, sendo 55% em Ciências, 68% em Matemática e 50% em Leitura – reforçam a necessidade de questionar o ensino e criar arranjos novos para gerar experiências de aprendizagem capazes de elevar esses resultados de aprendizado e de endereçar soluções para os danos causados pela pandemia na educação.
“Esses números, em um contexto anterior à pandemia, mostram que 50% dos nossos jovens não conseguem identificar a ideia principal em um texto de extensão moderada. Mais da metade não dá conta de interpretar e reconhecer a explicação correta de fenômenos científicos familiares. Então, a nossa forma de ensinar não está endereçando os desafios da aprendizagem. Essa reflexão explica a necessidade de repensar e remodelar a educação no Brasil”, detalha, acrescentando que a iniciativa do Novo Ensino Médio tem sido apontada pelos especialistas como um grande avanço educacional.
Lançado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e apoio técnico do Todos pela Educação, o estudo A Educação no Brasil: uma Perspectiva Internacional explora os principais desafios de qualidade e equidade, além de indicar os 10 passos para melhorar os resultados educacionais na nação.
“Interessante notar que na análise dos avanços obtidos nas últimas três décadas – que endereçam a necessidade de reparar a dívida histórica que temos em relação à educação pública, principalmente – estão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Novo Ensino Médio e a expansão da Educação Profissional e Tecnológica”, destaca Sassaki.
Na análise da OCDE dos 10 passos, o oitavo se refere à necessidade de aumentar a relevância da educação para os alunos – que dialoga diretamente com a reestruturação do Ensino Médio e o respectivo aumento de itinerários disponíveis para os estudantes, com a oferta de formação prática e opções profissionais nessa etapa do ensino.
“A publicação traz que as reformas educacionais atuais, incluindo a do Ensino Médio, têm como um dos objetivos aumentar a motivação, o engajamento e o sucesso dos alunos fora das escolas. Uma opção apresentada pelo estudo é o desenvolvimento de programas em nível local, em colaboração com empregadores para responder ao engajamento e à demanda pelas habilidades envolvidas, além do desenvolvimento de itinerários profissionais que possam alimentar essa vivência do aluno”, analisa Sassaki.
Novo Ensino Médio e o combate à evasão escolar
Em uma perspectiva complementar, Sassaki aponta que há um quadro grave de evasão escolar no Brasil, problema que aumentou com a pandemia. “O desafio tem sido superar a barreira da falta de interesse e de engajamento dos estudantes, tornando a escola mais significativa do ponto de vista do aluno. A elaboração de itinerários formativos que unam as demandas do mercado e da vida aos interesses dos estudantes tem como uma das justificativas a troca de um currículo engessado por novas possibilidades de estudo”, afirma.
De acordo com o especialista, se antes o aluno percorria três séries do Ensino Médio com um currículo fechado e sem opções, com a reforma, esse aluno tem a possibilidade de criar diversos ambientes de aprendizagem, ou seja, ele pode escolher algumas disciplinas.
“É importante que pais e responsáveis saibam que a Reforma do Ensino Médio é o primeiro passo para transformar o processo de ensino e aprendizado; ela tem o potencial, real, de tornar a escola – na percepção do aluno – mais significativa”, reflete.
Na percepção de Sassaki, há três alterações que ele considera como as principais mudanças na Reforma do Ensino Médio. Todas elas estão atreladas ao objetivo de trazer mais protagonismo aos jovens, garantindo o exercício dos direitos de aprendizagem.
A primeira é a ampliação da carga horária de 2.400 para 3.000 horas até o início do ano letivo de 2022. A segunda, a elaboração dos currículos com conteúdos norteados pela Base Nacional Comum Curricular. E, por último, os estudantes podem selecionar caminhos distintos de formação, optando pelos que estão mais em sintonia com os projetos de vida deles.
Como mensagem aos pais e responsáveis que estão preocupados com o impacto da pandemia no cronograma de implementação da Reforma do Ensino Médio, Sassaki salienta que esse é um processo benéfico para o futuro dessa geração.
“Os alunos que estão na escola, hoje, têm necessidades e perspectivas de vida muito diferentes das registradas nas gerações anteriores. O modelo do Novo Ensino Médio, no entanto, há muito tempo não era adaptado à luz das mudanças geracionais; agora houve um redesenho para fazer frente a dados tão preocupantes quanto à conclusão da educação básica e à qualidade da aprendizagem ofertada neste segmento”, finaliza o especialista.
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Excelente reflexão, ótima solução dada por Romeu sassaki e nós professores temos de aderir e nos adequarmos ao novo! Vamos que vamos rumo ao futuro bem próximo.
O novo ensino médio camufla disciplinas. Se o projeto de vida do aluno estiver relacionado às Artes, o que ele fará? Isto não está claro. Além do mais, definir projeto de vida na adolescência é complicado…força a barra….pode gerar é mais evasão, a carga horária de matemática e português será cavalar e aluno que não tiver inteligência matemática desenvolvida ou pouca habilidade com a língua portuguesa perderá o estímulo. Tudo errado….
Se temos reforma para o Ensino Médio é importante também mudar a graduação e pesquisa e extensão. Pois, não adianta inovação se o Ensino Superior não se adequarem também.
Será um grande abismo !
Boa noite, quais são as áreas de estudo no novo ensino médio ?
Muito interessante essa reforma do Novo Ensino Médio , porque vai trazer grandes resultados com certeza na vida das gerações que virão!
Mtos alunos não se interessavam nem em estudar os conteúdos principais, imagina agora, com um volume maior de conteúdos…