O novo Ensino Médio estabelece uma reforma na matriz curricular dos alunos nos três anos desta etapa escolar. A Lei nº 13.415/2017, que institui as alterações, estabelece maior integração entre disciplinas e a oferta de itinerários formativos. De acordo com o levantamento realizado pelo portal Observatório, que monitora dados sobre a implementação do novo Ensino Médio em cada estado do país, 21 das 27 Unidades Federativas já enviaram seus currículos de referência ao CEE (Conselho Estadual e Distrital de Educação). Destes, 11 estados já tiveram seus currículos homologados pelos conselhos. A integração entre as disciplinas será dividida em quatro áreas do conhecimento:
- Linguagens;
- Matemática;
- Ciências da Natureza;
- Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Muitos professores ainda têm dificuldades com relação a maneira de como fazer a integração das disciplinas. Além disso, consideram um desafio trabalhar em conjunto com outros profissionais que ministram aulas de disciplinas que compõem a mesma área que a sua matéria.
Entretanto, há caminhos que podem ser percorridos e tornar esse processo mais fácil. O primeiro passo é entender como as áreas são separadas e qual é a principal função deste agrupamento de disciplinas.
áreas de conhecimento
Na área de linguagens, por exemplo, os alunos aprenderão de forma integrada, conhecimentos ligados à língua portuguesa, língua inglesa, educação artística e educação física. Essa junção das quatro disciplinas tratando de um mesmo assunto com diferentes pontos de vista é o grande diferencial dessa nova maneira de ensinar e aprender.
De acordo com a doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC – SP, Maria Tereza Arruda Campos, o conhecimento por áreas é uma forma de ensino mais fácil para o aprendizado dos alunos. “Abordar assuntos por áreas é uma forma de ensino mais orgânica de construir o conhecimento. Isso porque as disciplinas reúnem componentes que podem se completar sobre um determinado assunto. E no caso de linguagens, incentivar a capacidade de ler e se expressar no mundo.”
Maria Tereza, com 35 anos de experiência como educadora, explica que o sucesso do aprendizado dos alunos está estreitamente ligado à organização dos professores com relação ao material que será oferecido aos estudantes.
“Os professores de cada área devem fazer um planejamento disciplinar abrangente. Dessa maneira, os alunos poderão ampliar o repertório e ter contato com diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto. Isso pode contribuir com a formação de um sujeito mais apto a ler criticamente a realidade.”
os benefícios do trabalho em equipe
“A divisão das disciplinas por áreas causou um estranhamento inicial em muitos alunos e professores. A preocupação era de que essa organização do currículo tirasse um pouco da autonomia de cada matéria. Mas, ao entender o conhecimento de forma integrada, as novas orientações curriculares podem enriquecer o aprendizado.” É o que diz o mestre em Linguística pela Unicamp e doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Lucas Sanches Oda, que atua há mais de 20 anos como professor de língua portuguesa e autor de livros didáticos.
“Nós, professores, tínhamos receio dessa mudança do Ensino Médio, pois acreditávamos que os alunos poderiam sair prejudicados. Após alguns estudos e discussões com colegas da classe, percebemos que, desta maneira, o conteúdo fica mais atrativo para os estudantes. Estes poderão aprender assuntos importantes com uma nova forma de ensino”.
caminhos mais fáceis
De acordo com Maria Tereza e Lucas, há algumas sugestões que podem ser seguidas pelos professores para tornar o processo de ensino integrado mais fácil e conseguir atingir o objetivo de aprendizado dos alunos.
Além de palestras e workshops ministrados por especialistas no assunto, a dica mais importante é o planejamento de ensino. Os professores de cada área têm que se reunir e planejar o que é relevante e como podem desenvolver assuntos que sejam de interesse dos alunos, utilizando todas as disciplinas que fazem parte de determinada área.
Outro ponto importante, de acordo com os especialistas, é que a implementação desta metodologia deve ser gradativa. Os professores precisam considerar o cenário em que a escola está inserida para não prejudicar o aprendizado dos discentes.
Maria Tereza e Lucas apontam também que, além das sugestões já mencionadas, pode ser proveitoso os docentes consultarem os estudantes para descobrir que interesses eles têm. Dessa forma, conseguem alcançar o objetivo final de ensino e aprendizagem, reduzindo não apenas a evasão escolar como também contribuindo para a formação de bons cidadãos.
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A BNCC criará uma enorme dificuldade para professores e alunos, em particular, ao impor uma reforma sem definir uma transformação nos graves problemas que atormentam a educação, como carga horária elevada de trabalho, ausência de condições físicas escolares (escolas onde falta tudo, onde a tecnologia não chega), planejamento constante, forçando encontrar temas que sejam peculiares às disciplinas, diminuição da importância de algumas disciplinas, como história, geografia, filosofia e sociologia, básicas para o entendimento do mundo e do sistema dominante, enfim, há um despreparo às condições gerais das escolas. Daí, escolas particulares estarem buscando, para atender, a sua realidade, manterem às disciplinas atuando em grupo, como propõe a lei e, individualmente. Não esqueçamos que há no Brasil duas escolas: uma pública, incapaz de preparar e outra privada, voltada para o mercado. O objetivo final é colocar as duas a serviço do empresariado, ou melhor, aos cuidados do mercado. Pobre Brasil!
Ótima análise!
Nem é preciso complementar, você disse tudo.
Meu é Natanael Borges. Trabalho desde 2004 com essa realidade de integração se algumas disciplinas, com a chamada Educação Baseada em Competências. Quando retornei a dar aulas no Brasil em 2009, fiquei muito chocado e decepcionado em constatar que no meu país de origem essa maneira de fazer a educação acontecer…, ainda estava em pequenos círculos do Ensino Superior, visto que na Europa, América do Norte e no Caribe já era uma realidade sentida, ou seja, o”pão nosso de cada”.
Espero que esse novo Ensino Médio seja implementado (ação-reflexão-ação) mas que seja de uma forma coerente com as demandas de cada Comunidade Educativa e que os professores tenham apoio dos seus respectivos gestores.
Acho lindo e até concordo com a integração das disciplinas. Contudo, a dificuldade dos professores não é entender os benefícios e nem as vantagens do conhecimento integrado, e sim em como é que isso vai ser feito na prática. As escolas reais são feitas de tijolos e cimento e eles estão fixados em determinados lugares. As escolas reais seguem uma rotina administrativa definida de cima para baixo e que não parece ter sido repensada para abrigar essa novidade. A reforma foi feita sem ouvir os professores, sem ouvir os alunos e sem ouvir os gestores. E ainda por cima, num contexto em que não se pretende realizar investimentos tão cedo. Não temos espaço, não temos tempo, literalmente. E é isso que não foi considerado quando empresários, políticos e pedagogos sem experiência como professores de educação básica resolveram impor suas visões sobre educação.
Esta proposta causou uma rejeição sem precedentes, os professores dizem que vai diminuir carga horária, que vai causar demissão, que o aluno terá dificuldade de aprender, etc., o certo é que não se avançou o quanto devíamos… mas, uma coisa é certa, que temos que avançar pra modelos e projetos curriculares mais sintéticos, temos…
Como farão os professores, por exemplo, de Linguagens para planejarem, trocarem ideias se professores de famílias têm que trabalhar em várias escolas para conseguir um salário melhor, períodos exaustivos mais de quarenta horas… Já é impossível planejar com o professor da mesma área, agora imagina integrar quatro…
Como que os alunos vão ‘escolher’ itinerários formativos se em centenas de escolas nem tem professor formado nas áreas e não há pluralidade de opções???????? Enganação formativa parece o nome mais real. Tenho feito feito coleta de dados com professores das redes estadual e municipal, a grande maioria fez em média 20 a 40 horas de formação sobre BNCC, ou seja, nada. Como executar algo que não conhecem???????
Gostaria que a tão falada autonomia na Educação também fosse usada para ouvir os professores. É só ver os comentários aqui e todos verão que há uma distância enorme entre a teoria que o poder empurra para nós e a prática, tão diversificada, pela dimensão continental que o Brasil tem.
Que triste é e revoltante saber que as mudanças ocorrem no campo teórico sem levar em consideração a prática real. O texto cita: “é importante que os professores de área planejem juntos”. Ai questiono: QUANDO? Os tempos da escola na prática não são ideais, eles são reais e não comportam planejamento, construção, reflexão e ação. Além disso, para manter um nível básico de remuneração os professores precisam complementar a carga horária em escolas com estrutura precária e com estudantes advindos de regiões problemáticas e com inúmeros problemas sociais. Meus caros e caras, os desafios são enormes, mas os governos e a academia ( sem generalizar) continuam a pintar a educação com cores distantes da realidade vívida.