A família constitui uma estruturação psíquica na qual cada um de seus membros ocupa um lugar, uma função que se organiza diante de fatores conscientes e inconscientes. Elas vão além dos cumprimentos de tarefas, estabelecidos culturalmente e exercidos pelo casal, como educação, amor e cuidados. Por meio do surgimento da psicologia e os estudos das relações humanas, passou-se a perceber as construções psíquicas que surgem dentro das relações familiares. Descobriu-se, dessa forma, como a relação da mãe/pai com criança e as projeções nos filhos podem afetar nas escolhas do pequeno no decorrer da sua vida adulta.
Tornar-se pai e tornar-se mãe é um momento profundo e marcante na vida do ser humano, é um ato de muita coragem e disposição. Afinal, educar e formar uma criança requer uma desconstrução em questões da própria criação, vivências, pensamentos e idealizações.
Portanto, o bebê, antes de nascer, já representa uma fantasia no desejo dos pais que evocam expectativas e aspirações profundas, sonhos narcisistas e também podem provocar hostilidade destrutiva, o que influencia seriamente na subjetividade do bebê. O período gestacional já é uma fase rica para análise da função parental, favorecendo um melhor vínculo paterno-filial.
Projeções nos filhos
O percurso de parentalidade resgata e ressignifica as vivências na própria infância. Há alterações psíquicas nesse processo de mudança de identidade do seu genitor. Agora é o pai/a mãe responsável por uma pessoa dependente e frágil e que, ao mesmo tempo, traz consigo uma nova personalidade e criatividade, ou seja, totalmente diferente.
Um trauma esquecido e não resolvido pode ser reatualizado, não intencionalmente, de geração em geração por meio de identificações projetivas, como comparações da infância dos pais com os filhos que pode gerar uma angústia na criança, uma vez que essa comparação é transmitida, negligencia o desenvolvimento e construção de subjetividade desse sujeito criança/adolescente, na construção de sua própria identidade, novas experiências e vivências.
Nesse confronto de gerações, aparecem os estilos de pais diferentes dentro de uma criação, como aqueles que tentam moldar os filhos à sua imagem e semelhança. Eles não permitem que desenvolvam sua própria identidade. Além disso, têm aqueles que fazem de tudo para seu filho, esquecendo das próprias necessidades. Ou aqueles servis que tratam os filhos como “intocáveis”, servindo-os como a um rei, o famoso “sem-limite”.
Você se identificou com algum desses?
É certo que não existe fórmula mágica para criar um filho. O importante é atentar que as relações são aprendizados. E, portanto, o adulto é responsável por alguém que necessita de cuidados, amor e ensinamentos, que está em constante desenvolvimento também. Para todas as relações deve haver respeito ao tempo do outro, somos seres individualizados. A criança só se beneficia ao ter um genitor mais maduro com seus sentimentos infantis e frustrações elaboradas suficientemente. E, dessa maneira, novos sentimentos possam vir a ser formados para o adulto em contato com o filho. Assim, é uma boa possibilidade de manter a singularidade de cada um.
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*artigo escrito por Melina Comerio Moraes. Formada em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pós-graduação em Psicologia Hospitalar e da Saúde pelo IPV.