Ensino cíclico: uma nova alternativa ao velho ensino linear

Ensino cíclico
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Todos os conteúdos possuem um momento exato para serem abordados e assim assimilados pelos alunos, independente das diferenças cognitivas e do repertório de cada um. Você já deve ter percebido que estamos falando do modelo de ensino tradicional, no qual o cronograma segue de maneira linear sem possibilidade de retorno.

Em outras palavras, na maior parte das vezes, cada conteúdo é visto apenas uma única vez no ano letivo. Mas caso não seja assimilado pelos alunos, gera-se uma lacuna no conhecimento do estudante, lacuna que vai se acumulando ao longo da vida estudantil. No final do ano, o aluno percebe que não conseguiu acompanhar o ritmo e ainda não entende as matérias mais “complexas”.

A causa para isso, muitas vezes, está ligada à uma lacuna que foi formada inicialmente no processo de aprendizagem linear. Contudo, e se houvesse uma alternativa para tal problema? Pois bem, existe uma nova tendência que busca sanar as fragilidades do modelo tradicional, o ensino cíclico.

Fundamento teórico do ensino cíclico

O modelo cíclico apoia-se no famoso ciclo PDCA (Plan – Do – Check – Act) popularizado por William Edwards Deming, na década de 1950. O ciclo PDCA, que é hoje uma ferramenta muito usada para gestão de projetos e atividades, se apresenta como um looping contínuo de ações em quatro etapas. Elas têm como objetivo de facilitar a tomada de decisão e o alcance de metas:

Planejamento

Contempla a análise de dados iniciais, conhecimento dos problemas e das oportunidades e organização dos passos a serem tomados.

Execução

É a fase de colocar em prática tudo o que foi planejado na etapa anterior.

Checagem

São analisados os dados obtidos na etapa de execução, e comparados com o que foi proposto inicialmente no planejamento. Esse é o momento de identificar os problemas que ocorreram no processo e propor novas melhorias para alcançar os resultados desejados.

Ação

Busca pôr em prática todas as melhorias propostas na etapa anterior. Além disso, realiza ações corretivas que buscam o aperfeiçoamento do processo em questão.

Feito isso, o ciclo recomeça sob uma nova perspectiva, com um processo melhor adaptado e mais próximo do almejado ao seguir essa mesma sequência de ações em busca da melhoria contínua. No entanto, como isso pode ser adaptado de forma prática à educação e ao ensino?

Ensino cíclico vs. ensino linear tradicional

Seguindo as premissas de um ciclo PDCA, o ensino cíclico tem como proposta entender o repertório do aluno, os objetivos que ele precisa atingir e direcioná-lo para uma execução adequada, estratégica e eficiente.

Após isso, faz-se uma análise dos resultados obtidos e assim são realizadas as devidas intervenções, redirecionando a jornada do aluno ainda em processo. Por outro lado, no ensino linear tradicional, a jornada é estabelecida logo no início e independe dos resultados intermediários gerados.

O currículo é engessado e as intervenções não ocorrem ou quando ocorrem não redirecionam o aluno para um novo ciclo, já que as instituições têm um compromisso de apresentar o mesmo conteúdo no tempo determinado. Em outras palavras, independentemente se um aluno aprende ou não, o planejamento pedagógico avança, frequentemente acompanhado de momentos desconfortáveis para o aluno quando o mesmo possui dúvida de base e não consegue saná-la, pois “a turma precisa avançar”.

Assim, no final do ano ou do curso, a única certeza que se tem é que todo o conteúdo foi apresentado para todos os alunos. Mas sabemos que cada estudante possui pontos fortes e fracos, repertório adquirido e velocidade de aprendizado de maneira singular. Isso cria alunos com uma grande defasagem curricular.

Já o ensino cíclico leva em consideração as defasagens dos alunos, buscando saná-las logo no ciclo seguinte, antes de acumulá-la a outras futuras lacunas. Com isso, é natural que os alunos evoluam mais rapidamente em alguns tópicos e não em outros. Bem como comparando alunos entre si aonde uns irão mais devagar do que outros.

Aplicações do ensino cíclico

Por olhar o aluno de maneira individual, há de se questionar a viabilidade de tal modelo na prática e/ou em larga escala. Contudo, o avanço da tecnologia e a possibilidade de adaptação do modelo educacional estão levando as empresas a criar variações desse método em diversos níveis da formação pedagógica, que vem sendo aplicadas tanto de maneira síncrona quanto assíncrona.

Gama ensino

A Gama Ensino é uma edtech (startup de educação) que possui metodologia cíclica e uma inteligência de dados própria que compõem o “Método Gama”. O Adaptive Learning da startup é aplicado na Gama Pré-vestibular. Lá os alunos pré-vestibulandos fornecem dois inputs para se traçar seu percurso até a aprovação: sua bagagem cognitiva prévia (avaliado por um teste de proficiência) e seu vestibular foco.

A partir daí, o software reconhece as lacunas cognitivas do aluno e traça uma rota prioritária que maximizará sua pontuação no vestibular desejado. De maneira síncrona, os alunos são alocados de acordo com suas prioridades em cada módulo (uma divisão temática das disciplinas escolares). Então cada aluno possui uma grade de horário individual por ciclo. Ou seja, um aluno pode estar em um nível básico em matemática, mas avançado em biologia.

Após os períodos de aula, os alunos são reavaliados por um teste. Isso gera novos resultados, fechando-se um ciclo e recalculando a rota para o ciclo seguinte. Assim, a empresa consegue realizar um modelo cíclico na modalidade síncrona, no qual cada aluno segue sua própria trajetória de forma mais eficiente e estratégica.

Gestão 4.0

O Gestão 4.0 é uma empresa voltada para o desenvolvimento de líderes e gestores empresariais. Ela foca no melhoramento e na aplicação de práticas e ferramentas para potencializar os resultados corporativos.

A plataforma do grupo identifica o ponto de partida e o destino pretendido, criando um caminho com acompanhamento sempre de maneira cíclica. A mensuração de desenvolvimento é feita por um sistema chamado “Skill Gap Based Learning”, levando a um aprendizado contínuo das habilidades buscadas.

Metodologia AZ

A metodologia da Rede AZ utiliza formas inovadoras para criar uma trilha personalizada focada na obtenção de melhores resultados dos alunos. Com o uso de ferramentas digitais, os alunos de ensino médio gerenciam sua vida acadêmica e interpretam o seu desempenho semanal, verificando no que evoluíram e no que precisam melhorar.

Com o auxílio de inteligência artificial, o estudante tem sua rotina semanal de estudos desenhada. A interação com o sistema é totalmente personalizada e alinhada à proposta dos itinerários formativos. E, após uma semana, seu plano é redesenhado com base em seus resultados. Nesse sentido, a plataforma digital auxilia o aluno a executar suas metas semanais com orientações de estudo individualizado, segundo os seus objetivos específicos.

Anole

A Anole é uma empresa focada em métodos de estudos que tem como objetivo criar ou fortalecer os hábitos de estudos dos alunos. Todos os ingressantes recebem de seu mentor um planejamento semanal de acordo com o objetivo e o material que o estudante dispõe.

A partir daí, os resultados são reportados em uma plataforma, analisados pelos mentores e um novo plano é montado para a próxima semana, visando sempre a supressão das deficiências dos alunos de maneira individual e o alcance dos resultados obtidos.

Salman Khan, criador da Khan Academy, disse em seu livro “The One World Schoolhouse: Education Reimagined” (“Um mundo, uma escola”, 2013), que é comum as pessoas e as instituições se preocuparem erroneamente com a educação variando a aprendizagem e fixando o tempo, enquanto o certo seria variar o tempo e fixar a aprendizagem.

Dessa forma, o ensino cíclico buscar desenvolver rapidamente as habilidades a que se tem maior talento e mais lentamente as que possuem necessidade de reorientação para que o indivíduo domine com efetividade as habilidades e as competências escolares, mas respeitando de maneira individual, o tempo necessário para que isso ocorra, ou seja, priorizando a aprendizagem e não o ensino.

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*artigo escrito por Lorenzo Ferrari Assú Tessari, especialista em aprendizagem e metodologias de ensino e diretor e cofundador da Gama Ensino e da Anole.

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