Nos últimos meses, um assunto tem aparecido com bastante frequência para as famílias com filhos em idade escolar, sobretudo aqueles que estão finalizando o ciclo de ensino no Fundamental: o Novo Ensino Médio, consequência da reforma na Educação Básica expressa na Lei 13.415 de 2017, que promoveu alterações na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a fim de flexibilizar o currículo e tornar, aos olhos da corrente que defende as alterações, a escola mais atrativa. O Governo Federal tem divulgado na imprensa esse tema como uma benéfica inovação que trará maior autonomia para o estudante na escolha de seu percurso nesta etapa, prometendo também um salto na qualidade da educação. Cabe, portanto, analisarmos os problemas do “antigo” Ensino Médio que motivaram o desenvolvimento desse novo modelo.
O debate partiu do princípio de que o atual formato apresentava baixa qualidade e altos índices de evasão escolar e reprovação. Isso demonstrava a necessidade de torná-lo mais atrativo para os estudantes.
Abaixo são citadas algumas das adversidades enfrentadas pelos jovens hoje e que podem perdurar mesmo com a reforma proposta caso ela não seja implementada adequadamente.
- Infraestrutura inadequada das escolas;
- Necessidade dos jovens entrarem prematuramente no mercado de trabalho;
- Violência doméstica;
- Gravidez na adolescência;
- Bullying;
- Questões relacionadas ao currículo escolar.
Realizar mudanças curriculares no “antigo Ensino Médio” é o caminho?
Dessa forma, fica-nos o questionamento se apenas as mudanças curriculares poderão tornar o colégio de fato mais atrativo aos alunos. Da maneira como está sendo estruturado esse novo modelo, creio que sim.
O aumento da carga horária de 2400 horas para 3000 horas já mostra a intenção de aumentar a convivência dos estudantes com a comunidade escolar. Mas isso também gera uma responsabilidade extra da escola, que deve ter um olhar maior de acolhimento para dar-lhes apoio e orientações.
Cria-se, nessa situação, a necessidade de desenvolver projetos que avaliam toda a trajetória do estudante ao longo da vida escolar. O intuito é de auxiliá-los e ampará-los nesta que é uma das primeiras decisões que precisa tomar.
O desenvolvimento dos projetos de vida parece-nos fundamental, pois será o momento de convidá-los à reflexão sobre o que se deseja e espera para o futuro. Para tanto, a instituição deverá criar espaços e tempos de diálogo com os estudantes. Mas precisam torná-los protagonistas de suas escolhas, mostrando as possibilidades que podem se abrir, avaliando seus interesses e orientando-os.
O desenvolvimento do projeto de vida dos alunos permitirá que eles sejam capazes de fazer escolhas responsáveis e conscientes, em diálogo com seus anseios e aptidões. Mas, para isso, a escola deve também estar aberta a recebê-los, ouvi-los e guiá-los na escolha dos itinerários formativos.
Itinerários Formativos
De acordo com a Lei que cria o Novo Ensino Médio, os itinerários formativos são o conjunto de disciplinas, projetos, oficinas, núcleos de estudo, entre outras situações de trabalho, que os estudantes poderão escolher no ensino médio.
Os itinerários formativos podem se aprofundar nos conhecimentos de uma área do conhecimento (Matemáticas e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) e da educação técnica e profissional (ETP) ou mesmo nos conhecimentos de duas ou mais áreas e da ETP.
As escolhas dos itinerários serão realizadas pelas redes de ensino considerando um processo que envolva a participação de toda a comunidade escolar. Isso mostra a disposição de se ouvir e entender os mais envolvidos no processo.
Portanto, a escolha da escola deve estar vinculada ao que o aluno anseia para seu futuro. Avalie os itinerários oferecidos e qual o real valor que a escola dará ao desenvolvimento dos projetos de vida.
As famílias devem conversar com os gestores para entender os processos desse novo modelo que foi formatado para abrir o diálogo com a comunidade escolar e mantê-lo assim ao longo de toda a trajetória do estudante.
A reforma no “antigo” Ensino Médio é uma oportunidade de melhorar essa etapa da educação básica que não pode ser desperdiçada. Isso porque já passou da hora de oferecer oportunidades que podem de fato levar a transformações na vida profissional dos nossos jovens e impactar positivamente a sociedade de uma forma geral.
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*artigo escrito por Yan Navarro, doutor em Didáticas específicas pela Universidade de Valência e doutor em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.