Antes de mais nada é preciso destacar a relevância da Bett Brasil, sem dúvida o mais importante evento do setor de educação de toda a América Latina. E este ano não foi diferente, acredito que os 35 mil visitantes, conforme divulgaram os organizadores, saíram de lá com a certeza de terem aprendido um pouco mais e com novas ideias e planos para um futuro próximo.
Nas palestras e nos estandes, quatro coisas me chamaram atenção. A primeira delas, sem nenhuma surpresa, girou em torno do debate da Inteligência Artificial na educação, majoritariamente sobre o Chat GPT. Muitas palestras tiveram como foco o debate a respeito da entrada da tecnologia no setor, algumas mais otimistas e outras mais conservadoras, mas de uma maneira geral, com uma visão positiva de como essa tecnologia pode mudar a forma como hoje enxergamos a educação, mas sempre com o pé no chão buscando uma regulamentação prévia.
A segunda coisa que me chamou bastante atenção foi a presença forte do bilinguismo, notadamente com destaque para o inglês, entre os estandes. Esse movimento na rede privada já acontece há algum tempo, mas nessa edição, havia várias soluções com diferentes projetos para uma maior adesão do bilinguismo nas escolas privadas, obviamente, já que o evento é majoritariamente focado para o setor privado. Inclusive trazendo pautas como línguas indígenas, libras entre outras que não estão no “mainstream” da dupla formação linguística.
O terceiro ponto, e confesso que achei muito importante, foi a presença de palestras e cases de escolas e empresas que passaram a utilizar análises de dados para melhorar seu serviço e entregar o melhor para o aluno. A implementação de um “modus operandi” voltado para análise e interpretação de dados, pode trazer excelentes resultados, e sabemos que o setor educacional tem muito a melhorar nesse quesito. Os exemplos foram desde gestão escolar até gestão de municípios referências no Brasil em termos educacionais.
Por último, mas certamente não menos importante, tivemos uma grade muito extensa de palestras que debatiam a inclusão social e traziam à tona as desigualdades que vemos, sabidamente em todas as esferas da vida, mas também, no setor. Essa pauta sempre está presente na Bett Educar, mas este ano veio para contrabalancear a evolução tecnológica na educação, evidenciando que, antes de começarmos a pensar em novas soluções de ensino, precisamos fazer o básico e garantir um acesso a uma educação de qualidade a todos.
Sai do evento feliz, com a certeza de que tudo o que foi mostrado lá, pode ser implementado nas escolas. Não só acredito como foram demonstrados exemplos práticos de usabilidade tanto da inserção da inteligência artificial, quanto a aplicação de análises de dados educacionais, que permitem dar um melhor direcionamento na gestão.
Em tempos pós-pandemia, acredito que a utilização de dados de maneira sistêmica e individual, e também da personalização do ensino que a IA pode oferecer, são excelentes estratégias para revertermos o quadro de atraso educacional que foi gerado. O extenso posicionamento do bilinguismo na educação mostra que é e será por um bom tempo um modelo aplicado nas escolas, principalmente na rede privada.
Não somente nas palestras, mas também nos estandes, vi um movimento quase que síncrono dos grandes sistemas de ensino em trazer o Chat GPT para as suas respectivas plataformas, principalmente na forma de um chatbot para interagir com os alunos. Acredito que em um curto espaço de tempo teremos novas funcionalidades e uma inserção cada vez mais forte da tecnologia, como é o caso do Khan Academy, que abriu as portas para essa aplicação, e vem colhendo frutos relevantes no Brasil com parcerias com a rede pública de ensino.
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*artigo escrito por Lorenzo Tessari. Chief Operating Officer (COO) da Gama Ensino, startup de tecnologia desenvolvedora de um algoritmo proprietário que identifica os gaps de aprendizado dos alunos para o direcionamento dos seus estudos.