Nosso País vive um contexto de reforma educacional desde 1990, a partir da Conferencia Mundial de Educação Para Todos realizada na Tailândia, sob os auspícios da ONU.
Naquela ocasião, com a presença de 155 países, inclusive o nosso, foram estabelecidos critérios para adoção de medidas por parte das nove nações classificadas com os piores índices indicadores educacionais do mundo (Brasil, Bangladesh, China, Egito, Índia, Indonésia, México, Nigéria e Paquistão).
Muita coisa deixou, no entanto, de ser feito e sinto vivermos hoje um momento oportuno para se rediscutir a situação da educação entre nós.
As taxas de evasão e repetência continuam sendo muito elevadas – 60 por cento no primeiro grau, evidenciando grande lacuna entre as propostas filosófica e metodológica e sua realidade na sala de aula.
Na década de 60, a criança brasileira obtinha, além da formação básica da educação escolar,uma formação alicerçada no conceito denominadocomportamental (Escola da Vida), ganhando destaque nacional a formação educacional nas escolas de Muqui, com o professor doutor Dirceu Cardoso; João Bley, em Castelo; Liceu Muniz Freire em Cachoeiro; Colegio Estadual de Vitória, entre outros.
Constata-se, nesses tempos chamados modernos, que falhamos no pressuposto da Unesco de que a educação básica deveria voltar-se para o pluralismo e para a tolerância que desencadeia uma barreira contra a violência, sustentando-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer,aprender a viver juntos, aprender a ser.
Mônica Ribeiro da Silva e Cláudia Barcelos de Moura Abreu, doutoras em Educação, História Política e Ciências Sociais, confirmam essa ótica pessoal, quando dizem nos faltar, para se alcançar os objetivos indicados pelos organismos internacionais , uma educação na qual se articulam cidadania e competitividade.
As escolas, infelizmente, não acompanharam os avanços tecnológicos nem deram a necessária atenção aos meios de comunicação social que transformam hábitos de comportamento e até da maneira de pensar, falar e agir.
Vale lembrar que o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), definido no governo Collor, apontava a direção da reforma do Estado e da economia que deveriam ser Implantadas conjugadas, com ela, mudanças na educação, incorporando muitas das orientações que vinham sendo debatidas pela Unesco e pelo Banco Mundial, desde 1990.
O tempo passou e parece que houve até regressão: cadernos prontos para professor e para aluno limitavam a criatividade que gera interesse e prende o aluno na escola. Para complicar, foi incluída no currículo de matemática a teoria dos conjuntos e foi esquecida a velha tabuada que leva a conhecer as quatro operações fundamentais. No ensino do Português, a nossa língua inculta e bela como escreveu o poeta, foi vedado ao aluno exercitar sua capacidade criativa, limitando-o a preencher os claros dos cadernos já prontos.
Talvez por isso, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira registrou que no Brasil, anos atrás, havia 16 milhões de analfabetos funcionais, 13 por cento da população. Dados do INEP mostram que 75 por cento das crianças na 5ª. Série não sabem ler e escrever com correção.
A verdade é que hoje, além dos problemas estruturais elencados na formação do cidadão, vem ocorrendo o fortalecimento , desde há três décadas, da brutalidade do sentimento humano.
Tornou-se chique ser malvado. A má leitura de alguns programas de televisão, a utilização do novo instrumento de comunicação, a internet, apontam o caminho mais fácil para ganhar dinheiro; respondendo a esse desvio de comportamento, as histórias em quadrinhos apelam para histórias violentas em que, muitas vezes, o vilão é o herói. Até a indústria de brinquedos aderiu ao novo clima que anima jovens e até crianças, produzindo simulacros de armas de fogo; as pegadinhas na TV exibem com sadismo situações de ridículo de pessoas; o cinema, a proliferação de violência contra a sociedade nos telejornais buscam audiência e leitura das pessoas que perdem pouco a pouco o sentimento de cidadania e tolerância.
Nunca, como agora, se torna imperiosa uma reflexão sobre os rumos que a sociedade está adotando. Começando pela família, pelo estudo, só assim poderemos mudar a escola da vida.
Lembro-me que em 1990 a Secretaria de Estado da Educação e Cultura SEDU iniciou a substituição da proposta curricular existente por uma nova definição que eliminava a avaliação seletiva entre 1ª e 2ª séries, com adoção do bloco denominado único e o retorno à matemática clássica e, em Português, ênfase na produção e interpretação de textos. Pretendia-se, com essas medidas, levar o aluno a pensar e desenvolver seu espírito crítico. Deixava-se de praticar a resposta única, marcada com um x, um quase jogo de acerto e erro. A proposta previa também o estudo de assuntos práticos ligados ao cotidiano, incluídos ai questões simples de Direito Constitucional, educação para o trânsito, uso de drogas e suas conseqüências, prevenção de doenças comuns ou sexualmente transmissíveis, folclore e ecologia.
A proposta foi fruto de uma pesquisa realizada com 3 mil e 500 professores, equivalente a 40 por cento de profissionais das escolas da rede estadual.
Não se deu sequência à proposta. Mas ainda há tempo e é urgente. Sem a hipocrisia da acomodação e da conivência, talvez seja essa a última oportunidade para um processo de mudança que irá reconduzir nossas crianças em idade escolar à nítida compreensão de seus deveres e direitos num país onde o regime político é a democracia, como a entendemos.
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