Desde o início de 2011 se intensificou o debate sobre as dificuldades da indústria instalada no Brasil. Motivos não faltam tributação, infraestrutura inadequada, câmbio, custo do capital, entre outros. Essa discussão chegou ao governo federal, apesar da resistência de algumas pessoas com relação ao tema desindustrialização.
A crise externa não estava resolvida e o BCB decidiu elevar a taxa básica de juros no primeiro semestre do ano passado, posteriormente iniciando o ciclo de descida ainda vigente. Os efeitos não tardaram a se manifestar. Já é de conhecimento público que a economia se manteve praticamente estagnada no primeiro trimestre de 2012.
Investimentos estão sendo postergados, pois expressiva capacidade ociosa existe em diversos setores comercializáveis no mundo. A indústria vem sentindo as adversidades externas e domésticas. Para se ter uma ideia em relação ao mês de abril do ano corrente, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Carta Iedi n.524 – Indústria no primeiro quadrimestre), nos últimos doze meses a indústria acumulou queda de 1,1%. São Paulo, Minas e Rio de Janeiro acumulam quedas acima de 1% nesse mesmo período.
O Nordeste não se saiu muito melhor, queda de 1,2%, e o Espírito Santo apresentou um crescimento de 1,9% nos últimos doze meses em relação ao mês de abril, sendo que sua produção industrial no primeiro quadrimestre do ano acumula queda de 2,9% em relação ao mesmo período do ano passado.
Números divulgados pelo IBGE, a base das análises do Iedi, apontam ainda que o crescimento da economia brasileira muito provavelmente será menor do que o realizado em 2011. Há quem já estime um crescimento aquém dos 2%, o que estaria bem abaixo do PIB potencial brasileiro.
Dentre os números divulgados pelo Iedi, destaca-se que o nível de emprego está seguindo a produção. Produção em queda significa empregos também em queda, com alguma defasagem no tempo. O Iedi aponta ainda que para a indústria geral no primeiro quadrimestre de 2012 o emprego caiu 1,3% e a produção 2,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Para a indústria de transformação, as quedas são de respectivamente 1,5% e 3%. A indústria extrativa, por sua vez, apresentou 4,4% de crescimento no emprego, porém crescimento zero para a produção.
Segundo levantou The Economist, os preços das commodities estão em queda, variação de aproximadamente 17% em relação ao período de um ano. Commodities industriais chegaram a cair 25% no mesmo período, algo que deveria preocupar os países que concentram, voluntariamente ou não, suas apostas de competitividade em indústrias internacionalmente classificadas como de baixa intensidade tecnológica.
Nesse contexto, compreende-se que empresários adiem investimentos produtivos. Deve-se compreender também que ocorram ondas de fusões e aquisições que visem regular os preços nos mercados através da redução da oferta e da concorrência. Para contrabalançar o desinvestimento produtivo privado, os governos precisam acelerar investimentos, garantindo a qualidade no gasto público bem planejado e orientado.
A nossa prioridade deveria ser a redução do custo Brasil infraestrutura, educação e saúde, por exemplo. Para tanto, o governo federal precisa ousar um pouco mais no momento. Quem sabe ele não acolhe sugestões que apontam para a troca do indexador da dívida de estados e municípios, do IGP-DI mais pelo menos 6% ao ano para a TJLP, liberando mais espaço fiscal para investimentos públicos no Brasil? Não parece que o receituário de 2008 terá muito fôlego nessa fase da crise.
Rodrigo L. Medeiros (D.Sc.) é membro da World Economics Association (WEA)