Pelo que indicam os números divulgados recentemente, desde o dia primeiro deste mês, a economia brasileira vem desacelerando ao longo dos últimos trimestres. Essa não é uma notícia muito agradável e as incertezas do exterior não ajudam a elevar o otimismo.
Pesquisas divulgadas pela Markit sobre o Brasil apontam estagnação nas manufaturas e contração marginal nos serviços em maio. Enquanto as primeiras encontram-se constrangidas por custos crescentes e concorrência externa, os segundos muito provavelmente sofrem os efeitos de encadeamentos à indústria de transformação. As pesquisas apontam queda do otimismo em relação ao futuro próximo. Deve-se destacar que esse estado de confiança poderá variar de acordo com as mudanças de circunstâncias nos próximos momentos.
Há quem diga que estaríamos repetindo o debate da década de 1930. Nesse sentido, Keynes ainda seria um ponto de passagem obrigatório: em economia não se pode condenar o opositor por erros, só se pode convencê-lo de que os cometeu. E mesmo que estejamos certos não conseguimos convencê-lo se a cabeça dele já estiver cheia de noções erradas.
Pode ser tarefa de Sísifo convencer quem tem interesse pecuniário direto no jogo econômico e deseja justificar suas propostas de austeridade fiscal como critérios de moralidade política e ciência positiva. A austeridade fiscal em um período longo de recessão (ou depressão) não é solução para a retomada do crescimento econômico e a redução do desemprego. Qual empresário manteria pesados planos de investimentos produtivos em um prolongado contexto adverso de estagnação e grandes incertezas?
Sem poder contar com expressivos investimentos produtivos privados para a recuperação econômica, dificilmente se deveria contar também com a expansão ilimitada do consumo das famílias. Incertezas crescentes e o estado de confiança em relação ao futuro imporiam limites à expansão do consumo pelas vias do crédito. Isso para não falar na restrição orçamentária doméstica. Deveríamos apostar no aumento das exportações, desde que o câmbio fosse competitivo? Esse seria um caminho interessante caso a crise não existisse no exterior.
O governo poderia acelerar investimentos públicos, eliminando pontos de estrangulamento e reduzindo o custo-Brasil. Refiro-me a questões institucionais e de infraestrutura física. Segundo divulgado, valores empenhados do orçamento federal passaram de R$3,9 bilhões nos primeiro quadrimestre do ano passado para R$2,9 bilhões em igual período de 2012. A grande queda no ritmo do investimento público se deu nos transportes, 46,2%. Essa foi considerada área prioritária pelo governo federal, que inclusive sancionou em janeiro do ano corrente a Política Nacional de Mobilidade Urbana.
A nova lei prioriza o transporte coletivo em vez do individual. Seria muito interessante pensar por um instante nos efeitos multiplicadores locais e/ou regionais na renda e no emprego dos investimentos em obras de infraestrutura que viabilizassem essa nova política de mobilidade nos espaços urbanos brasileiros. Ademais, deve-se considerar que tais investimentos trariam melhorias na qualidade de vida da população que circula de transporte coletivo nas principais metrópoles e um provável aumento de produtividade da economia porque se perderia menos tempo nos deslocamentos diários.
Essa agenda interessa aos postulantes a prefeitos em 2012? Por hora teremos que esperar um pouco mais pelos debates políticos e por propostas de governo para os municípios.
Rodrigo L. Medeiros (D.Sc.) é membro da World Economics Association (WEA).