Os anos 90 iniciaram com a hiperinflação brasileira e com a crise asiática impactando fortemente os negócios no Brasil e no mundo. Os diversos planos econômicos lançados por diferentes governos não resolviam o problema e nada contribuíam para vencer esse dragão que empobrecia impiedosamente as camadas pouco possuidoras de recursos financeiros.
Trazia implicações também às empresas, aos investimentos e o país remava contra uma maré forte, com crescimento pífio, incapaz de proporcionar novos empregos à grande massa de jovens saída das escolas. Precisava urgentemente de um novo plano, que desta vez fosse bem estudado, à prova de demagogias, que de fato trouxesse a verdade dos fatos, pois escondíamos anos de baixa produtividade atrás da inflação corrigida pela correção monetária, dando a ilusão de termos encontrado a resposta milagrosa para combater este mal. Era preciso acabar com as ilusões e os milagres. Ter acerto, coragem e determinação, coisas que os líderes de verdade têm de ter, seja nos países ou nas empresas.
Depois do Plano Cruzado, do Cruzado Novo, do Cruzeiro e do Cruzeiro Real, veio finalmente o Plano Real, que de fato abateu o grande dragão. Deu uma moeda forte e uma referência ao país e trouxe de volta a dignidade de grande quantidade de brasileiros antes marginalizados pela inflação draconiana. O Plano Real entrou este mês de julho em sua maioridade, tendo completado 18 anos.
Como tudo tem no mínimo duas faces, a estabilização da moeda trouxe, por outro lado, fortes reflexões sobre nossas ineficiências, improdutividades, falta de competitividade, e então fomos chamados à realidade e todos tivemos de iniciar rapidamente o mais difícil, mas o mais seguro caminho para a sobrevivência. E o sucesso era uma comparação com o mundo externo, a utilização de novas tecnologias, inovar para a diferenciação, a busca de parcerias, tudo no sentido de produzir mais e melhor, com menos recursos e com mais eficiência. O câmbio de 1 dólar igual a 1 real, no início do Plano, nos fez cair na real, sem trocadilhos.
Aí descobrimos, por exemplo, que precisávamos do dobro de pessoas que a Finlândia para produzir uma tonelada de celulose. Que usávamos muito pouco as novas tecnologias de informação já adiantadas nos países de nossos clientes. Que nossas organizações tinham níveis em demasia, dificultando a comunicação entre as diretorias e o chão de fábrica. Que os gastos com moradias, bairros, escolas etc. não tinham mais a inflação para compensá-los. Só para citar alguns exemplos.
Então, decidimos por modernizar a governança da empresa, lançar pioneiramente as ADRs (ações) nível-1 na bolsa de Nova York, agilizar a organização e as hierarquias, de modo a simplificar métodos, melhorar treinamentos e comunicação, mecanizar operações, automatizar e introduzir sistemas de controles operacionais e de gestão de ultima geração, melhorar treinamentos e comunicação. Investimos em novos modais de transporte de madeira e da celulose, aumentamos nossa aposta na pesquisa e desenvolvimento visando duplicar a produtividade de nossas florestas, descobrimos novos métodos de construção e montagem na implantação de nossa fábrica-C e na Veracel. Adquirimos a Riocell, no sul do país, enfim, reduzimos custos e despesas, mas também investimos bastante naquela década: mais de 2 bilhões de dólares, dos quais 1 bilhão somente no Espírito Santo. O estado tirou grande proveito com os investimentos sucessivos dos chamados grandes projetos.
Passamos em seguida a sonhar com a fusão entre a Aracruz e a VCP, o que veio ocorrer em 2009, após a crise dos derivativos e a crise internacional, mostrando que a estratégia continua apesar dos percalços do caminho. Formou-se, assim, a Fibria, uma empresa em rápida evolução para saltos maiores, com crescimento previsto para vários estados, inclusive com a possibilidade de fazer a Fábrica-D, em Aracruz. Foi para mim uma nova e grande experiência, juntar dois dos gigantes do setor para formar uma empresa de grandes oportunidades.
A parte mais difícil foi sempre a das reestruturações da organização, pois embora fundamentais para a competitividade da empresa, sempre me entristeciam intimamente por gerar tensões em muitos lares, até mesmo de amigos. Mas cabe aos líderes resolver e achar caminhos, ainda que difíceis, e urgentemente voltar à trilha do crescimento e das oportunidades para todos. Na continuidade, sempre aumentamos o número de empregados em nossa cadeia produtiva, pois os eventuais apertos de cinto nos preparavam para dar novos passos de crescimento. E os demos.
A busca da produtividade passa pela abertura ao novo, pela educação de nossos quadros, pelo conhecimento sobre os competidores, pela parceria com nossos clientes, pelos investimentos em inovação, pelo crescimento das empresas e pela capacidade de enxergar e decidir. Tudo isto feito de forma sustentável, olhando os prismas econômico, social e ambiental.
No meio destas grandes transformações que lideramos após a estabilização da moeda, ainda achamos uma boa solução de nossa vizinhança com as comunidades indígenas. Participamos do esforço, juntamente com outros atores públicos e privados, para modernizar a governança do estado, tirando-o da grave crise em que se encontrava e pautando-o por valores éticos e pela melhoria da gestão pública. Esse esforço, que teve como um dos seus pilares o Movimento Espírito Santo Em Ação, foi claramente bem sucedido, resgatando o sentimento de orgulho do capixaba por sua terra e permitindo que o estado reencontrasse a sua vocação de crescimento.
Hoje temos um estado fortemente exportador, dotado de uma infraestrutura já em fase de exaustão, com grandes desafios à frente após a perda do Fundap (Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias), mas com boas perspectivas com o desenvolvimento do petróleo e gás.
O país vai ter de enfrentar problemas por conta da crise internacional, mas também porque precisa buscar maior competitividade. Vai ter que apertar o cinto em muitos gastos, investir em infraestrutura e, fundamentalmente, dar um salto na educação, para poder igualar-se aos demais na inovação, tecnologia e no combate aos custos crescentes para atender a demanda das populações incluídas.
De novo precisaremos, aqui no Espírito Santo, do envolvimento de todos os atores para focar num dos itens que considero fundamental para o desenvolvimento: a educação. Foi com educação que uma pessoa originária de uma família humilde pôde construir uma boa trajetória de trabalho, pois sempre contei com o estímulo e os valores familiares sólidos, muita determinação de estudar e aprender sempre para, a partir daí, vencer. Tudo isso com um pouco de inspiração e muita transpiração.
Carlos Aguiar