Livre Pensar com Carlos Aguiar: Do Ceará ao Espírito Santo, um caminho rico de experiências

DivulgaçãoSinto-me muito honrado pelo convite de meu amigo Fernando Machado para escrever no “Livre Pensar” do Folha Vitória.

Inicio por me apresentar: sou  Carlos Aguiar, nascido no Ceará. Vivi em Camocim, uma pequena e especial cidade litorânea. Nesta bela cidade, que abrigou uma base americana, vivi minha infância vendo idas e vindas de navios, trens e até aviões, chamando a minha atenção para um mundo distante que, na visão infantil, já merecia ser visto. Lá fiz o ginásio, ouvi as primeiras músicas americanas legadas pela antiga base aérea, que depois contribuíram para me tornar um amante do jazz.

Ouvi muitas histórias de gente ilustre que por lá passou durante a Segunda Guerra. Todo esse ambiente me fascinava e me entusiasmava, me incentivando a querer conhecer o mundo.

Também tinha o estímulo de meus avós, por quem fui criado. Eles me incentivavam a estudar para me tornar “presidente” quando eu nem imaginava o que isso poderia significar. Mesmo com sua pouca capacidade financeira, me fizeram ir além dos estudos formais. Estudei piano, por exemplo, o que depois me foi muito útil para pagar algumas contas na época de faculdade e para meu próprio deleite em muitos momentos de alegria e convivência com amigos. Acho que me ajudou muito nos exercícios de liderança que tive de conduzir durante minha vida profissional: o racional amenizado pela sensibilidade no trato das relações humanas.

Para continuar os estudos, fui para Fortaleza, onde fiz o científico e também a faculdade de Engenharia Química, quando acompanhei de perto os movimentos estudantis. Era pleno 1964. Li muito sobre política, cinema, psicologia de massas e outros assuntos que me chamavam a atenção àquela época. Mas ao se aproximar o fim do curso, descobri que as utopias e sonhos de estudante precisavam baixar à terra. Então, parti para ganhar a vida de forma ética e determinada, como me ensinaram meus avós.

Casei antes do fim do curso com uma moça com quem namorei durante cinco anos através de cartas e de encontros nas férias. Inteligente e paciente, ela me fez repensar os sonhos de criança, de avançar para o mundo e sair da esfera dos empregos públicos típicos do Ceará daquela época, e me lançar na iniciativa privada, buscando a competição, eficiência e crescimento. Através dela, fiz estágio numa empresa de celulose e papel e, ao terminar a faculdade, nos mudamos para Lages, na serra catarinense, para trabalhar justamente numa empresa americana. Uma mudança tão brusca quanto feliz. Deixei pra trás meus avós, minha família, o sol maravilhoso de Fortaleza, amigos, clima ameno e inquietudes filosóficas e políticas juvenis para me deparar com costumes, clima, trabalho e ambientes totalmente diferentes. Um choque cultural, climático e profissional.

Por essas incríveis lições  da vida, iniciei meu primeiro trabalho profissional logo com americanos, que durante meus anos de faculdade eram por nós criticados e combatidos. Nesta convivência profissional comecei com grandes reservas e terminei com um grande respeito por este povo tão empreendedor quanto solidário, que respeitava as diferenças políticas, que defendia a liberdade e a democracia como valores fundamentais, sem jamais nos pressionar por termos pensamentos contrários. Foi de fato uma lição de vida, compreensão do mundo, valorização das liberdades e do homem pelo seu trabalho, pelo livre pensar, pela individualidade.

A visão já liberta das ideologias da época de faculdade me fez sonhar mais alto e ir para São Paulo, principal centro econômico, tecnológico e empreendedor do país. Queria me comparar aos que eu considerava os melhores do Brasil e, mesmo sabendo das dificuldades de muitos nordestinos que viviam no Sudeste, eu queria vencer e provar para mim mesmo que poderia ganhar mais essa etapa.

Já tinha duas filhas, minha esposa gostava do Sul, morávamos em um lugar pequeno e aconchegante, numa casa relativamente grande e iríamos largar tudo para ir para a maior cidade do país. Com trânsito congestionado, aluguéis caros, morar num apartamento que era metade de nossa casa. Enfim, fazer uma mudança novamente bastante desafiadora para todos nós. Mas sua compreensão foi maior do que sua rejeição pela cidade grande e fomos para São Paulo, cheios de sonhos. Não para ficar rico, como dizia o cearense, mas para aprender mais, me educar mais, conviver com os melhores do meu setor, construir um projeto profissional e de vida.

Aquele  projeto profissional se frustrou, não deu certo. Corri o risco de ficar sem trabalho, mas nunca aprendi tanto e tão rápido quanto naqueles momentos de crise profissional, pessoal e existencial. Durante o projeto, que durou alguns anos, tive decepções ao descobrir que causas nobres como as ambientais eram por vezes usadas como moeda de troca. Vi políticos que atacavam o projeto para fins eleitoreiros, além de outros interesses. Mas também convivi com engenheiros de alto nível, do Brasil e do exterior. Conheci pessoas de alto calibre ético e profissional, enfim, tive uma boa amostra da vida e fiquei mais maduro, mais forte e mais qualificado para a busca de um novo desafio.

Entrei mais uma vez em campo e, literalmente, subi ao Espírito Santo. Cheguei neste belo estado em 1981. Iniciei como engenheiro na Aracruz Celulose e galguei posições. Disposto a dar uma vida digna a minha família, com o aprendizado dos primeiros chefes, com a eficiência dos paulistas e, sobretudo, com a mente aberta à minha nova terra. Uma terra mais próxima de minhas origens, mais quente e à beira do mar, que me transportava à infância dando-me, assim, uma conjunção de fatores ideais para ali plantar uma raiz profunda e viver por muitos anos. Uma vida feliz, eficaz e de muitas realizações. Tornei-me um cidadão capixaba e passei a me orgulhar desta terra.

Cresci na empresa e na vida. Tornei-me coordenador, gerente, diretor, vice-presidente e, finalmente, presidente de uma grande companhia. A “profecia” de minha avó se realizava. Colaborei para dobrar e triplicar o  valor de minha empresa. Ajudei no que esteve ao meu alcance no desenvolvimento de nossa sociedade. Passei dificuldades na crise de 2008 e, finalmente, dediquei o melhor de mim para a formação da Fibria, hoje uma das maiores e melhores empresas globais.

Com isso, considerei que havia concluído meu ciclo como presidente e que deveria procurar outros caminhos para continuar minha jornada. Entre as oportunidades que surgiram, aceitei honrado o convite do Grupo Votorantim para integrar o Conselho da Fibria, o que me permite continuar a contribuir para essa grande empresa, sob uma perspectiva estratégica.

É assim com muita satisfação que ocupo este espaço, para compartilhar com o leitor o que considero, além da família e dos amigos, meu mais precioso tesouro: o acervo de idéias e experiências de quem trabalhou – como líder ou liderado – com pessoas de todos os tipos, viajou por todos os continentes, enfrentou e venceu grandes desafios e, talvez o mais importante, mantém vivo o entusiasmo por aprender, realizar e servir.

Carlos Aguiar

3 Respostas para “Livre Pensar com Carlos Aguiar: Do Ceará ao Espírito Santo, um caminho rico de experiências

  1. Prezado Carlos, demorei para responder porque queria realmente ler seus artigos com o tempo, cuidado e profundidade. obrigada por compartilhar conosco sua bela história, que tanto nos orgulha e que nos faz seguir adiante. uma história de coragem, determinação e persistência. E que privilégio ter aprendido com você como profissional – um líder com alma – e, agora, poder ler seus artigos que trazem sempre uma visão global e profunda, um ponto de reflexão, um questionamento, um incômodo que nos faz pensar o que cada um de nós está fazendo para tornar este mundo melhor. a você, meu carinho, respeito e admiração incondicionais. grande abraço!

  2. Sr Carlos Aguiar, assisti sua entrevista e achei encorajador suas explicações de como o Sr. começou sua longa jornada na vida e como hoje o Sr vê todas as lutas, desafios e conquista diante da difícil tarefa de ser um cidadão de bem no mundo em que vivemos. Mas o Sr. falou uma frase que me chamou atenção!!
    A entrevistadora disse que o Sr. queria estudar filosofia. E o Sr disse que gostaria de entender algumas coisas sobre a vida ou seja “. Os porque da vida”. Sabe Sr Carlos, o verdadeiro DEUS esta muito interessado em pessoas assim como o Sr. Pessoas cônscios de sua necessidade espiritual. Pessoas que querem aprender a verdade sobre o verdadeiro DEUS. Olhei o Sr. com os olhos que DEUS vê. Um DEUS de Amor. Por favor acesse o Site JW.ORG, o Sr encontrara respostas a todas as perguntas que quiser saber.
    Esse Site tem ajudado pessoas sinceras como o Sr. a encontrar respostas tais com: Qual o proposito de DEUS para terra? Qual é o objetivo da vida? Poque ha tanto sofrimento? Deus é culpado por nosso sofrimento? Porque morremos? O que acontece depois da morte? O que é o Reino de Deus que Jesus nos ensinou a orar pela vinda desse Reino? A guerra e o sofrimento acabarão algum dia? O que é preciso fazer para DEUS ouvir minhas orações? Como posso encontrar a felicidade?. – Milhões de pessoas encontraram as respostas na Bíblia. E nós teremos o prazer em ajuda o Sr. também. Mais uma vez parabéns pelo exemplo de pessoa que o Sr é.
    Atenciosamente,
    Rosana Paula Engelhardt – Vitória – ES.

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