As Olimpíadas de Londres terminaram e vêm aí as do Rio de Janeiro. Terminamos com uma medalha a mais que na anterior, num crescimento pouco lisonjeiro para quem sediará as próximas Olimpíadas. Não foi surpresa, mas podemos mais que isso.
Chamou minha atenção certa dose de conformismo de muitos de nossos atletas quando entrevistados após um resultado ruim. Quase sempre eles diziam: Eu dei o meu melhor, eu fiz o meu máximo ou eu trabalhei muito, tentei, mas não deu…. Parece que foram treinados para falar isso. Duas ou três exceções foram mais sinceras ao dizer que foram mal em suas performances ou poderiam ter feito melhor. Estes serão melhores nas próximas oportunidades, pois buscam a excelência e querem ganhar e não apenas competir.
Tivemos até um atleta que sequer fez a última tentativa em seu salto, apelando para o vento forte que poderia lhe causar algum acidente. Na contramão, vimos atletas de Cuba, USA e Rússia, com vento e com chuva, tentarem por mais de uma vez vencer os mesmos obstáculos, no mesmo esporte, com os mesmos riscos. É aceitável que depois de anos de preparação alguém deixe de fazer sua última tentativa?
Dada a falta de estrutura e de patrocínios, não temos dúvidas da maratona de dificuldades que a maioria de nossos atletas têm de vencer até o dia da grande prova, com exceção do vôlei e do futebol, que já têm meios mais avançados e bons patrocínios. Talvez por isso o vôlei tem nos dado mais medalhas. É, portanto, até compreensível que os atletas se sintam fazendo o seu melhor, embora este “melhor” não tenha sido o necessário para estar entre os melhores, numa competição de alto nível como esta. É compreensível? Talvez, mas não devíamos nos conformar com a falta de ambição pela excelência, tanto dos atletas quanto do país.
Também fiquei preocupado com o nível de crítica de nossa imprensa esportiva, que talvez movida pelo politicamente correto e para atrair audiência, debate pouco sobre os problemas reais que precisamos resolver, para que possamos fazer um papel bem mais bonito na nossa Olimpíada, no Rio de Janeiro. Após a única vitória de nossa seleção feminina de basquete, que aliás perdeu quatro partidas, nossas meninas foram chamadas de heroínas. Claro que também ouvi críticas a resultados fracos obtidos, portanto, cumprindo parte do papel que a imprensa tem para com seus leitores e ouvintes.
Que a falta de estrutura e de ajuda é grande, todos sabemos, mas em outras ocasiões nosso basquete feminino fez muito mais bonito e talvez até com menos suporte. Tinham mais talento? Tinham mais raça? Tinham mais conjunto? Treinavam mais? Eram mais heroínas? Minha visão é de que não podemos aceitar resultados pífios com elogios, que só deveriam ser dados aos reais vencedores, como no caso do vôlei feminino, do boxe, do judô, da natação, do vôlei masculino e de praia e tantos outros que, apesar do pouco suporte, se empenharam a fundo, se uniram em torno dos objetivos, venceram problemas internos e externos e nos deram algumas medalhas importantes e muitas alegrias.
Não estou advogando aqui a crítica severa ou punição aos atletas, talvez os menos culpados, embora alguns não tenham se concentrado integralmente em suas funções. Mas sabemos que uma gestão focada e competente pode transformar o país numa potência esportiva, que reputo uma grande necessidade ao desenvolvimento de nossa juventude e ao orgulho de nossa população.
Eu gostaria de ver na imprensa esportiva um diálogo com opiniões diferentes, com debates focados na experiência de outros países, mais debate sobre o nosso atraso esportivo e como vencê-lo. Eu queria ver mais debates sobre a falta de preparo mental para competir de igual para igual, explicar por que em momentos decisivos vários de nossos atletas têm muito mais dificuldades e perdem a concentração. Enfim, gostaria de ver debates sobre causas e consequências das atuações (derrotas e vitórias) e que ações poderíamos tomar para o futuro.
Por que num país com 200 milhões de habitantes não temos condições de competir bem em todos os esportes? As verbas são comparáveis a outros países? Por que não usamos nossas escolas para desenvolver o gosto pelo atletismo, por exemplo? Por que não somos pragmáticos e copiamos o que já há de melhor dos países que têm tido boas atuações nas olimpíadas? Por que não trazemos mais técnicos do exterior, que venham agregar conhecimento e força mental? Por que somos o sexto PIB do mundo e o vigésimo no esporte olímpico e nas olimpíadas da matemática? A sociedade precisa deste contraditório para desenvolver pensamentos mais estratégicos e mais profundos e vencer as barreiras que teremos até 2016.
O ofício da crítica, como o da oposição, não pode ser visto com reservas. E é por isso que gostaria também de ver na nossa imprensa, uma crítica mais profunda ao nosso futebol que, tendo uma natural formação de talentos, não se organiza de forma apropriada, não tem uma governança moderna e profissionalizada,com rotação de comando, não consegue ganhar uma medalha de ouro numa olimpíada onde não enfrentamos as grandes potências da modalidade. Não tem um calendário bem estruturado para ajudar a seleção sem prejudicar tanto os clubes, não tem tido renovação em sua forma de jogar, sempre previsível, dependendo dos lampejos dos craques cada vez mais escassos e bem marcados. Não traz treinadores de outros países para arejar nosso modelo cada vez mais fossilizado, com dois cabeças de área sem habilidade, não inova nas bases para entregar novos talentos com outra visão de jogo. Não enxerga no futebol um espetáculo que concorre com a TV e outros lazeres e, assim, não consegue encher estádios e obter rendas que deem maior sustentação aos seus clubes. Sequer luta por seus horários de jogos noturnos para dar mais conforto aos clientes que vivem em cidades inseguras e com transporte público deficitário.
Gostaria de ver mais debates e propostas de mudanças, quando se aproximam dois eventos importantes para o Brasil,como a Copa do Mundo e as próprias Olimpíadas.
Deixo aos amigos estas reflexões, com o meu abraço
Carlos Aguiar