Encerrado o segundo turno das eleições municipais de 2012, o cidadão brasileiro aguarda o início das novas administrações para verificar o que efetivamente mudará em suas vidas. Não devemos esperar por milagres na política, pois ela é feita por pessoas para buscar corrigir os problemas que essas mesmas causam a si próprias.
A política foi uma grande invenção que os antigos nos legaram. Com ela buscamos equacionar problemas coletivos de forma civilizada pelas vias da negociação e da transformação da realidade. Mudanças em sociedades democráticas ocorrem gradualmente por acumulação de insatisfações e com base em forças sociopolíticas transformadoras, não por rupturas da ordem estabelecida. Há quem já anuncie vencedores e perdedores em 2012. Quem conhece um pouco o sistema político brasileiro sabe que é muito cedo para tal diagnóstico precipitado porque os partidos precisarão administrar e muito provavelmente haverá um rearranjo dentro da lógica do que se convencionou chamar de governabilidade. Talvez não seja uma mera coincidência que 19% dos eleitores, seis milhões de cidadãos, não tenham comparecido para votar no segundo turno. O descrédito com o jogo político vigente, já apontam pesquisas e analistas políticos, poderia fazer com que 50% dos eleitores não votassem caso não fossem obrigados pela legislação.
PMDB (23,1 milhões), PSDB (16,5 milhões) e PT (27 milhões) governarão quase 50% dos eleitores brasileiros a partir de 2013. De certo modo, pode-se dizer que o jogo político de 2014 já está aberto. Alguém sensato poderia negligenciar o papel do PMDB nessa próxima disputa? Outros partidos políticos auferiram resultados expressivos em cidades de tamanhos e orçamentos variados. Nas cidades com mais de 200.000 eleitores, PMDB e PT apresentaram desempenhos inferiores aos de 2008, quedas de 47% (9 prefeitos eleitos) e 20% (16 prefeitos) respectivamente. PSDB e PSB cresceram nesse segmento, 15% (15 prefeitos eleitos) e 175% (11 prefeitos). O PSB comandará o maior numero de capitais, 5 no total. PSDB e PT o seguem com 4 capitais. Esses números oficiais não consideram as coligações políticas eleitorais e os rearranjos de governabilidade que certamente se processarão no curto prazo.
Muitos esperam sinceramente mudanças e melhorias em suas vidas. Creio que devemos ser muito realistas: como num teatro de ilusão, a política não revela seus significados ao olho descuidado. A realidade e a ilusão são categorias centrais do estudo político (Kenneth Minogue, Política: uma brevíssima introdução. JZE, 1998, p.15). Não há motivos para pessimismo, mas não convém exagerar nas expectativas positivas em relação a um sistema político no qual as alianças são extremamente instáveis e difíceis de explicar em muitos casos, além do seu quadro partidário ser bastante fragmentado. Ao encerrarem-se essas eleições, encerram-se temporariamente as disputas políticas das pequenas diferenças e tudo volta a ser como dantes no quartel de Abrantes. O cidadão brasileiro observa esse jogo, atentamente ou não.
Certos analistas políticos apontam que a tese da renovação ganhou força em 2012. Talvez seja ainda muito cedo para sabermos até que ponto esse novo representa efetivamente uma renovação política. O tempo dirá se os novos prefeitos serão capazes de ir além das práticas e dos costumes enraizados na política brasileira ou se eles se adaptarão ao sistema vigente para sobreviver ao jogo. Estaremos observando.
Rodrigo L. Medeiros (D.Sc.) é membro da World Economics Association (WEA)