Não terminamos ainda de viver 2012 e já podemos notar sinais claros de que o ano eleitoral de 2014 está intensamente presente nos debates midiáticos. Os fracos desempenhos da economia sob o governo Dilma (PT) já provocam críticas diversas. Alguns simpatizantes das oposições, por sua vez, evocam um tempo passado em que o País esteve no caminho certo, apesar daquele caminho ter sido popularmente rechaçado por três vezes consecutivas desde então.
Nesse contexto de discussões, publicou-se recentemente que a confiança do leitor na imprensa tradicional caiu: o percentual de pessoas que “confiam muito” na imprensa caiu de 31% para 22%; o percentual daqueles que “não confiam” de jeito nenhum nos jornais subiu de 18% para 28%. Uma explicação razoável alegada por alguns analistas estaria na partidarização dos grandes grupos de comunicação social. Tal cenário não contribui para o amadurecimento das instituições democráticas brasileiras e tampouco favorece efetivamente o oposicionismo político-institucional ao PT.
Cabe ao jogo democrático a legítima disputa política por ideias, propostas e pela ocupação de espaços de poder. Os partidos de oposição não ganham com a eventual terceirização desse jogo. Eles precisam entrar em campo, suar a camisa e marcar diferenças em relação à situação governista. Não creio que a mera evocação racional de um passado de contribuições políticas seja suficiente para ganhar corações e mentes numa eleição futura porque vivemos no presente e a sensação geral de conforto socioeconômico persiste ainda no Brasil, apesar do desempenho fraco da economia.
O relatório de mercado Focus, de 14/12, revela que a perspectiva de crescimento do PIB em 2013 caiu pela quinta semana consecutiva e a expectativa da produção industrial apresentou queda consecutiva de três semanas para o mesmo período. A oposição política institucionalizada deveria insistir no discurso econômico, sem maiores saudosismos dos anos 1990. Todos os governantes recebem heranças de seus antecessores, algumas boas e outras ruins. O mundo mudou, girou desde a década de 1990 e as perspectivas intervencionistas na macroeconomia constituem um novo cenário de atuação política, algo que afetará as convenções e o conjunto das convergências globais.
Vejamos brevemente alguns prováveis desdobramentos. A situação na eurozona está longe da pacificação de tensões sociopolíticas e se o banco central dos EUA, o Fed, for efetivamente perseguir a redução do desemprego com o relaxamento da meta de inflação doméstica, estendendo a facilitação quantitativa monetária (QE, em inglês), não há como o resto do mundo simplesmente ignorar esses fatos no campo da política econômica internacional.
A oposição política brasileira deveria estar pensando nessas questões, ao invés de queimar tempo e espaço midiático disputando um passado de heranças benditas. Afinal, o que pensam efetivamente no presente os partidos políticos de oposição no Brasil sobre as rodadas seguidas de QEs? Eles acreditam que devemos buscar zerar o déficit fiscal nominal e empurrar o setor privado doméstico para o déficit o mais rápido possível?
Balanço do Setor Privado Doméstico + Balanço do Governo Doméstico + Balanço Externo = 0
Para que o governo alcance superávit, portanto, o setor privado doméstico teria que reduzir o seu balanço superavitário ou até entrar em déficit, dependendo do comportamento do balanço externo. O que o Brasil deveria fazer do ponto de vista institucional para viabilizar esse novo cenário de crescimento do investimento produtivo doméstico e elevação da participação do mesmo na formação do PIB, evitando bolhas especulativas? O que pensa, afinal, a oposição sobre as tensões federativas presentes e os governos de grandes coalizões conflitantes?
Em qualquer regime político democrático a alternância no poder é saudável e necessária. O arco da oposição política brasileira precisa melhorar sua comunicação com o povo, apresentando diferenças reais em relação ao que está posto no presente. As oposições políticas estão muito fragilizadas no plano federal, o que é bastante ruim para a nossa democracia porque apequena o debate nacional. Elas são as maiores responsáveis por essa incômoda posição, pois não conseguiram construir até o momento um discurso razoável capaz de criar interlocução e sintonia com os anseios populares. Esse jogo poderá mudar até 2014? Possível, mas pouco provável quando se analisa o comportamento dos grandes protagonistas do jogo político brasileiro.
Ondas de renovações de ideias e quadros partidários se fazem urgentemente necessárias porque a tranquilidade dos ciclos políticos dos governos de grandes coalizões partidárias conflitantes se esgotou. Fadiga de material, se pode dizer. A guerra federativa por receitas fiscais revela que as fissuras estão abertas entre nós. O oposicionismo poderia muito bem apresentar um discurso político coerentemente articulado e algumas propostas federativas razoáveis de conciliação nacional. Não convém terceirizar o jogo político para 2014.
Rodrigo Medeiros (D.Sc.)
Recomendo a leitura de https://www.folhavitoria.com.br/geral/blogs/livrepensar/2012/10/16/competitividade-ou-baixo-crescimento/