Li nas manchetes há alguns dias, que o nosso futebol foi rebaixado mais uma vez, ficando em décimo oitavo lugar no ranking da FIFA. Pergunto-me como um país que foi campeão do mundo por cinco vezes, vice-campeão duas vezes, tem seis ou sete clubes campeões mundiais, tem Pelé como atleta do século e por fim, vai sediar sua segunda Copa do Mundo, pode cair tanto e ficar tão mal colocado. Faço-me outra pergunta: por que nosso futebol, nosso campeonato brasileiro não despertam a mesma atenção que os campeonatos inglês, italiano, espanhol, alemão e agora até o francês?
O Corinthians tem torcida enorme, tradição, títulos, um estádio em construção, muita mídia e um bom time de futebol. Como é possível um clube de tal calibre ser praticamente ignorado por muitos torcedores e jornalistas europeus? Acho que não é só pela má vontade deles…
Em minhas viagens pelo mundo, facilmente vejo na televisão, jogos destes campeonatos mencionados e com sorte, vejo quando muito, os gols do campeonato brasileiro, de forma resumida e limitando-se aos grandes times. Por que o futebol pentacampeão é tão pouco visto mundo afora e ainda assim, em todos os lugares as pessoas sabem os nomes de Pelé, Romário, Ronaldo, Neymar…?
Tentando responder às minhas próprias perguntas, primeiro acho que nosso futebol perdeu a capacidade de reter seus grandes talentos e, menos ainda, de atrair talentos de outros continentes. O futebol é hoje um grande show midiático, onde tudo é profissionalizado e muito bem organizado. E, num show, o artista é fundamental. Muitos brasileiros assistem os campeonatos europeus para ver os craques brasileiros ali jogando.
Mas não basta apenas o grande artista. Quando vamos, por exemplo, a um show na Brodway, queremos ter a facilidade de adquirir ingressos na internet, táxis, metrôs, ônibus disponíveis, queremos um horário de show de nossa conveniência, queremos ter bons assentos, palcos grandes e bonitos, teatro cheio, com muitos aplausos, orquestras afinadas e bem ensaiadas, tudo isto é claro, associado a artistas super profissionais, muito bem treinados e cheios de talento.
Na Europa, o futebol já é hoje um grande show, com estádios bem localizados, gramados perfeitos,cadeiras confortáveis, programação conhecida com um ano de antecedência, comida e bebida próximos dos assentos, segurança no ir e vir aos estádios. Um grande estádio é esvaziado em menos de 10 minutos, os transportes públicos estão disponíveis e os horários dos jogos permitem que se saia do trabalho e vá direto ao jogo e chegue em casa antes da meia noite, num respeito ao torcedor que terá de voltar ao trabalho cedo, no dia seguinte.
Os jogadores têm consciência de que são artistas da bola (aqui no sentido do respeito ao público e não no malabarismo técnico de cada um) por isso são muito bem pagos e devem satisfações a seu público. A partida é um show que deve ter o máximo de bola rolando, o mínimo de reclamação com os juízes, não caindo a cada empurrão ou encontro mais firme, o fairplay é uma virtual regra do jogo, não simulando faltas que só irritam as plateias. Enfim, sabendo que ali eles têm de fazer jús ao elevado salário que ganham e ao ingresso pago por milhares de torcedores que querem exatamente ver um show do futebol.
Fora dos palcos, ou seja, dos gramados, as televisões dão verdadeiro shows de transmissões indo a detalhes que nos permitem ver as simulações e a falta de respeito ao público e tudo isto é corrigido e punido, tornando os jogadores e juízes cada vez mais conscientizados de seu papel naquele grande espetáculo.
No campeonato brasileiro, ainda vemos um número elevado de faltas, interrupções do jogo o tempo todo, muitas simulações dos jogadores, erros de juízes, imperando em muitos casos a velha malandragem brasileira, o que só concorrerá para a irritação do torcedor lá do outro lado do mundo. Com tudo isto, o tempo jogado é muito baixo em relação ao que se vê nos campeonatos de fora e isto tira o telespectador da frente da TV, pois ele tem a concorrência do futebol europeu, da NBA, do football americano, do beisebol e de tantos outros esportes já transformados em grandes espetáculos de TV e de estádios.
Os horários dos jogos noturnos não respeitam o trabalhador brasileiro, principalmente das grandes cidades que têm de acordar por volta das 4h da manhã para ir trabalhar e com os jogos iniciando às 10h da noite, impossível ter um descanso decente e merecido. Isto leva a outro problema que é o acesso aos estádios, a precabilidade do transporte público, engarrafamentos, dificuldade de estacionamento, insegurança pessoal elevada com assaltos e roubos de carro, fazendo com que os jogos tenham menos da metade do público que deveria ter, tornando o estádio um lugar de poucos aplausos, de assentos semivazios, empobrecendo o espetáculo e a transmissão das televisões.
Nossos gramados com raríssimas exceções são de qualidade duvidosa, recebem shows musicais próximos a jogos importantes e o que se vê são deficiências que acabam por influir no espetáculo e na formação de um visual agradável aos olhos de quem terá de gastar 90 minutos à frente da TV. Temos torcidas maravilhosas, que sabem como fazer verdadeiros shows para a televisão. É só ver um FLA-FLU por exemplo, mas muitos destes clássicos têm sido esvaziados por falta de bons jogadores nos times, por horários difíceis para trabalhadores, não atraindo desta forma, um grande contingente que possa criar um ambiente festivo e digno de uma transmissão a nível mundial.
Fora dos gramados, nossa organização deixa a desejar e ainda acontecem casos extremos como o abandono de campo de um time argentino jogando em São Paulo, o que sem dúvidas é inaceitável para os padrões mundiais de transmissão de shows pela televisão. Parte pode ter sido culpa dos argentinos, mas com certeza nosso futebol também teve participação neste infeliz evento. Ter seguranças truculentos, não deixar o time aquecer no gramado, são coisas provocativas, típicas de uma mentalidade que não mais condiz com o veloz mundo da internet, da transparência, do show global.
Além disto, ainda temos contra nós o fuso horário, pois um jogo aqui às 22 horas, significa uma ou duas horas da manhã na Europa ou 9 ou 10 horas da manhã na Ásia. Num continente as pessoas estão dormindo e no outro estão no trabalho. Como melhorar isto? Se os jogos iniciassem aqui às 19h30, seriam 22h30 na Europa, tornando-se mais palatáveis para aquele público, caso os demais fatores sejam corrigidos, transformando nossos jogos em verdadeiros shows de futebol, tornando nosso país mais conhecido, mais respeitado e nossos talentos mais valorizados. E, com certeza, na Ásia muita gente acordaria mais cedo, só para ver os Pelés, Zicos, Ronaldinhos, Ronaldões, Romários, Neymares, etc jogarem. Os torcedores brasileiros também gostariam, pois sairiam direto do trabalho como se fossem para um happy-hour.
Tais mudanças visariam dar projeção mundial ao nosso futebol, atraindo investidores que viriam para o Brasil de forma organizada, profissionalizando nossos clubes, com certeza, multiplicariam o valor dos mesmos e injetaria grandes somas no negócio futebol, garantindo não só a permanência de nossos melhores jogadores, mas até atraindo os estrangeiros para a terra do futebol.
A arena do Grêmio foi inaugurada, dando-nos uma esperança de que, a partir dos novos estádios, esta mentalidade de espetáculo comece a ganhar corpo e em alguns anos, após ganharmos a Copa do Mundo, nosso futebol tenha adquirido esta mentalidade profissional e se torne um verdadeiro espetáculo para vermos os novos craques mais bem preparados e conscientes de que ao entrar em campo, serão vistos pelo mundo todo.
Isto lhes daria uma grande responsabilidade de jogar sempre bem, dar tudo de si a cada jogo, não usar de meios ilícitos para simulações que são mostradas pelas câmaras… Enfim, tornando nosso show um dos melhores da Terra. Desta forma, um Corinthians chegaria ao Japão muito bem conhecido e teria milhares de torcedores japoneses comprando sua camisa e se associando ao clube, lhe dando nova fonte de arrecadação e, portanto, novas formas de manutenção de um grande time de futebol.
Carlos Aguiar