A crise financeira mundial continua em maior ou menor grau, dependendo da região que se olha. A Europa parece estar em pior situação no momento.Os Estados Unidos um pouco melhor e a Ásia mantendo seu impulso, ainda que mais moderado.
Esta crise, segundo a visão de alguns analistas de cenários globais, parece estar indicando a aproximação do final de mais um dos ciclos tecnológicos de Kondratiev, um jovem economista russo que por não seguir as teorias marxistas de análise da realidade, foi enviado por Stalin para o gelado exílio siberiano, onde morreu sem ver o fim do capitalismo tão propagado pelos marxistas àquela época, mas não contando com o entusiasmo de Kondratiev.
Em poucas palavras, esta teoria prevê que as economias se desenvolvem através de ciclos de mais ou menos 50 a 60 anos quando passam por crises econômicas demoradas, com dividas, desempregos, instabilidades sociais, guerras, mas também com grandes invenções e novas tecnologias, que impactam o modo de vida das sociedades. E em cada Ciclo,como que imitando a natureza, há uma primavera, (que dura uns vinte e cinco anos de expansão e implementação das novas tecnologias); um verão (que dura uns 5 a 10 anos, quando a expansão atinge seu pico); o outono (que dura uns 10 anos de estabilidade e o inicio da crise) e o inverno. O inverno dura uns 18 anos onde prevalece um baixo crescimento das economias mundiais, até que se chegue a uma nova primavera. Segundo esta teoria, o mundo já passou pelos seguintes ciclos tecnológicos:
Ciclo da Mecanização inicial (entre 1770 a 1820); Ciclo do Vapor e das Ferrovias (1820 a 1870); Ciclo da eletricidade e da engenharia pesada (1870 a 1930); Ciclo da Produção massificada, das linhas de montagem (1930 a 1980) e o Ciclo atual da Telemática (1980 a 2030?).
Nesta crise, como nas outras, observam-se três comportamentos: as Empresas passam por grandes dificuldades financeiras devido a uma maior competição entre si e entre países, muitas delas desaparecendo do mercado. Há uma forte desindustrialização.
Os Consumidores tornam-se mais receosos e, buscando melhor utilização do seu salário, ficam mais seletivos nos seus gastos e tentam estender sua vida nos empregos abrindo menos oportunidades aos mais jovens, e prolongando sua entrada na aposentadoria, contribuindo para um alto desemprego como o que estamos vendo atualmente nos Estados Unidos e principalmente na Europa. E a longa expansão do crédito para aumentar o consumo, vira dívida e isto transforma a mente do consumidor que aumenta sua aversão ao risco e, portanto, afeta toda a dinâmica das economias.
Isto faz com que mudem as forças do consumo, crescendo nos países emergentes, mas não o suficiente para compensar a queda brusca nas maiores economias, onde o desemprego elevado e as dívidas acima do suportável, geram insegurança quanto ao futuro. E finalmente, como comportamento típico deste final de ciclos, os Governos passam a ter um ativismo maior e para suportarem suas economias nacionais, aumentam os gastos e a expansão monetária e relaxam com a inflação; Buscam proteger a indústria doméstica taxando importações e dificultando a entrada do capital estrangeiro, principalmente para evitar aquisições estratégicas; partem para estatizações ou maior participação nas principais empresas do país que estão em dificuldades financeiras sejam bancos ou empresas consideradas entre as mais competitivas; aumentam as regulações do mercado; lançam pacotes pontuais de estímulo ao consumo.
Em geral, isto faz com que mudem as forças do consumo nos países emergentes que até crescem, mas não o suficiente para compensarem a queda brusca nas maiores economias.Com as altas dívidas, quebram economias de países, das empresas e das pessoas, provocando recessão ou baixo crescimento.
A partir destes fatos, devemos analisar as tendências sociais e as potenciais crises, para então ver como nos prepararmos e tirarmos proveito destes momentos difíceis que estamos enfrentando.
As tendências sociais podem ser vistas de vários ângulos e eu chamaria a atenção para algumas delas que podem impactar as economias e a qualidade de vida das nações: estamos vendo um novo avanço na idade média do ser humano, já atingindo 78 a 80 anos e podendo chegar em breve a 95 e depois a 125 anos de idade; a rápida tríplice alfabetização (da língua pátria, inglês e da linguagem da matemática) impactará nas novas formas de trabalho e na sua globalização; as novas formas de trabalho, seja em rede, em casa ou em movimento, impactarão as cidades, os costumes, as necessidades e, por consequência, os mercados.
Quando a eletricidade apareceu, criou-se um novo mundo e um novo mercado ativo durante a noite, com a iluminação pública, bares, cinemas, entretenimentos diversos e tantas outras oportunidades. Que outros impactos estas e outras mudanças trarão no futuro? Que outras mudanças podem já estar ocorrendo?
Alem disto, veremos ainda o aumento dos conflitos étnicos, distúrbios advindos da grande imigração, gastos com o terrorismo e com o combate às drogas.
Também veremos outros impactos como a sobrecarga das aposentadorias devido ao aumento do tempo de vida útil e do aumento da idade para aposentar, impactando o a oportunidade de emprego para os mais jovens, gerando desesperanças e mais problemas sociais. O aumento da vida útil e o aumento da população nos países emergentes impactarão fortemente sobre recursos fundamentais como alimentos, petróleo e água.
Todos estes impactos refletem aumento de custos e são geradores de inflação.
Os Estados, mais protagonistas, tendem a ficar mais gordos, mais ineficientes e com o crescentes gastos com guerras, com o combate ao terrorismo e às drogas, demandarão mais impostos, impactando diretamente na rentabilidade dos negócios e na vida das pessoas, tornando as empresas menos competitivas e o poupador mais longe de conseguir seus objetivos. E sem poupança fica difícil investir, seja nos países, nas empresas ou na vida privada.
Mais impostos e mais inflação, parece ser uma “receita” perigosa para uma longa recessão mundo afora. Levará ao aumento dos juros, com impacto na vida dos negócios.
E o que fazer diante deste cenário? Estamos mesmo vivendo um final de ciclo ou apenas uma crise passageira? De qualquer maneira, algumas medidas devem ser tomadas para se prevenir, seja qual for o cenário.
Parece que uma das formas de resolver alguns dos problemas levantados acima, será via novas invenções e novas rupturas tecnológicas, novos modelos de negócios e novos blocos econômicos a nível mundial. Já vimos aqui mesmo no Brasil o quanto cresceu a produção de grãos por hectare, via adoção de novas tecnologias agrícolas desenvolvidas pela Embrapa, numa demonstração clara de que não podemos ficar parados ou atrasados na educação, inovação e no desenvolvimento tecnológico.
Se observarmos os Estados Unidos, vemos que os departamentos da Defesa e de Energia, têm investido maciçamente em novas tecnologias como: nanotecnologia, biotecnologia, neuro ergonomia, medicina avançada, bicombustíveis, novas gerações de energia, inteligência artificial, economia de baixo carbono, shale gás, terapia de genes, chips de memória humana,etc. São sinais de que, na terra das invenções e da alta tecnologia, está havendo um grande movimento à procura de uma nova era tecnológica?
Os americanos e europeus já deram um passo importante quando decidiram estudar a formação de um mega bloco econômico entre eles.
Os asiáticos estão cada vez mais tomando conta da África, onde ainda tem grandes recursos naturais a serem explorados. O mundo está se movimentando debaixo das nuvens escuras da crise.
Como o Brasil está se preparando para atravessar este aparente inverno econômico e a nova onda tecnológica que cada vez mais se aproxima? Como fortificar nossa indústria e torná-la competitiva no novo mundo tecnológico que vem por ai ou melhor, que já está aí?
Que rumos seguir? Vamos formar um bloco latino americano com seu prós e contras, ou vamos tentar formar novos blocos econômicos com os grandes mercados consumidores do mundo, levando alguns latinos conosco? Vamos nos fechar mais como aconteceu em épocas passadas ou vamos atrair talentos e trocar ciência e tecnologias?
Não sou político e nem geopolítico, vou me ater mais ao mundo das empresas, emprestando minha visão com um pouco da experiência de vida no mundo corporativo.
Acho que os líderes empresariais, nesses tempos de incertezas, devem proteger e reforçar os fundamentos de seus negócios, os fundamentos financeiros e proteger sobretudo seu faturamento. Com isto, quero dizer que devem buscar ao máximo a redução das dívidas, ser muito assertivo no controle e corte de custos, diminuir capital de giro, postegar investimentos que não mostrem um retorno breve e elevado, renegociar com fornecedores, aumentar a flexibilidade de seus modelos de negócios.
Mas isto é apenas defensivo e pode não ser o suficiente. É preciso então ter estratégias mais agressivas como participar das fusões e aquisições; entrar na bolsa; desativar negócios que os consumidores já condenaram ao desuso; aumentar os gastos em pesquisas e desenvolvimento; buscar novas tecnologias ou mesmo novos negócios; entender as mudanças comportamentais dos consumidores; selecionar e manter clientes que estão antenados com as mudanças do mercado. Enfim, gerar valor em vez de controlar patrimônios.
Em resumo, temos que estar com o radar ligado para as mudanças que estão em pleno andamento e que estão fazendo desaparecer indústrias e tecnologias maduras, substituindo por novas formas de produção e de atenção aos “novos” consumidores.
Deixo as reflexões aos leitores do Livre Pensar.
Abraços,
Carlos Aguiar
Meu sonho de consumo…. rs