O mês de junho terminou, mas deixou farto material sobre os protestos nas ruas, o que oferece ricas oportunidades de reflexão. Milhares de brasileiros saíram de suas rotinas cotidianas para marchar nas megalópoles e nas médias e pequenas cidades do nosso país. Os primeiros protestos, ocorridos entre 17 e 21 de junho, surpreenderam o Brasil. A partir de uma pequena mobilização contrária ao aumento das passagens do transporte coletivo em São Paulo, passou-se a uma gigantesca mobilização nacional com ampla presença da classe média brasileira, que ampliou a agenda dos protestos envolvendo um vasto leque de temas e reivindicações.
Dentre as diversas causas, podemos identificar dois eixos temáticos principais. O primeiro diz respeito à insuficiência e a baixa qualidade dos serviços públicos urbanos, sobretudo, segurança, transporte coletivo, saúde e educação. Como as manifestações coincidiram com a Copa das Confederações, cunhou-se a expressão queremos serviços padrão FIFA. O segundo eixo é a insatisfação com o sistema político/partidário que controla o estado brasileiro. Os recados vindos das ruas são vários: os cidadãos não se sentem representados, a corrupção é uma prática abominável, as decisões de investimentos públicos não atendem os interesses mais imediatos da população.
Análises e diagnósticos diversos destes primeiros movimentos apontam o seu caráter multifacetado, tanto em termos de pauta de reivindicações quanto acerca do método de convocação, mobilização e articulação.
Em geral, as insatisfações manifestadas nas ruas são especificamente contra o sistema, que teria envelhecido e que vem se recusando à renovação. Em A sociedade em rede (Paz e Terra, 1999), o sociólogo Manuel Castells sugere que uma nova sociedade demanda a renovação de conceitos e das práticas políticas. No prefácio desse livro, Fernando Henrique Cardoso afirmou que nada é mais alheio ao mundo da política do que a unilateralidade, a visão parcial, o universal abstrato. É necessário um olhar integrador capaz de agregar diversas dimensões da experiência humana.
É preciso reconhecer que a vida da população brasileira melhorou em muitos aspectos nos últimos anos. Mas há um clima de insatisfação, alimentado por certa insegurança quanto ao progresso futuro, pela retomada da inflação e pela evidente deterioração da qualidade de vida urbana.
Nas últimas semanas, houve uma mudança em termos de contingente e de perfil das manifestações. Assistimos a eventos com menor número de participantes e liderados por grupos tradicionais corporativos focados em reivindicações mais pontuais. Há muitas demandas sobre o setor público, o que unifica os manifestantes. Mas, há a necessidade de identificar formas de financiar os novos gastos necessários ao atendimento das reivindicações, o que gera polêmica entre os manifestantes e na população, tendo em vista, inclusive, a carga tributária nacional, que beira o insuportável.
Fica como recado das ruas. O País precisa retomar, pela via da política, uma agenda de reformas modernizantes, seja do seu padrão de desenvolvimento, focando na produtividade e na competitividade, seja das suas instituições. Afinal, não é possível convivermos em um mundo tão acelerado com leis que foram pensadas para um tempo passado. Precisamos acelerar investimentos produtivos para mantermos o clima de pleno emprego e gerar expectativas de vida positivas para os cidadãos, especialmente para os jovens. Os partidos políticos brasileiros não podem continuar agindo como no passado e alheios aos novos desafios da sociedade contemporânea. A renovação da cultura política torna-se necessária, porém não devemos esperar que ela se realize da noite para o dia. Trata-se de um processo social que requer paciência e o exercício incansável do voto cidadão. Os partidos políticos devem se abrir mais para a sociedade e isso deve começar pela da oferta de quadros renovados e qualificados nas próximas eleições.
O Brasil vive um momento rico e promissor. É preciso dar sequencia e consequência às necessárias mudanças indicadas pelas ruas.
Paulo Hartung é economista e ex-governador do Espírito Santo
Haroldo Correa Rocha é professor da Ufes
Rodrigo Medeiros é professor do Ifes
sará que o ex governador seguirá as idéias defendidas eliminando ele mesmo aliados que não possuem o perfil político exigido pela sociedade atual