Em artigo publicado no blog do Fundo Monetário Internacional (How Emerging Markets Can Get Their Groove Back, iMF direct, October 7, 2013), Kalpana Kochhar e Roberto Perrelli abordam os desafios do crescimento para o países emergentes. Os elementos centrais dessa discussão já podem muito bem ser encontrados diariamente na imprensa brasileira.
A síntese dos argumentos aponta para o fato de que a análise atribui parcialmente a desaceleração [das economias emergentes] às forças cíclicas, incluindo uma menor demanda externa e, em parte, aos gargalos estruturais domésticos – infraestrutura, mercado de trabalho, o setor de energia (tradução livre). Essa desaceleração ocorreu em um contexto de termos de trocas ainda favoráveis, condições financeiras fáceis e com políticas macroeconômicas domésticas pró-sustentação da demanda agregada. Segundo o FMI, o potencial de crescimento das economias emergentes encolheu.
Kochhar e Perrelli sustentam que o crescimento mais lento pode ter vindo para ficar, caso os países emergentes não sigam o caminho das reformas institucionais. Conforme apontam os autores: os países terão de identificar as prioridades de reformas institucionais para eliminar gargalos do lado da oferta, aumentar a produtividade média e mover suas economias nas cadeias de valor. Isso significa enfrentar as persistentes barreiras ao crescimento de longo prazo, avançar no investimento em infraestrutura e melhorar o ambiente de negócios. Políticas anticíclicas de gestão da demanda de consumo não farão a grande diferença (tradução livre). Este debate está posto no Brasil.
As conquistas sociais dos últimos anos demandam o enfrentamento dos desafios do presente. Neste tempo de celebração dos vinte e cinco anos da Carta Magna (1988), parece haver um razoável consenso político de que avançamos em alguns temas. Não podemos olvidar que as legítimas manifestações sociais de junho foram feitas por pessoas que admitiram terem melhorado de vida ultimamente (cf. instituto Data Popular). No entanto, quando os aspectos gerais das vidas das pessoas melhoram, as suas expectativas podem muito bem descolar da realidade objetiva.
A política precisará enfrentar responsavelmente esses desafios, qualificando o debate público e buscando equacionar soluções a partir do diálogo permanente com a sociedade. O futuro se constrói no presente e a política é o instrumento civilizado para a busca de soluções coletivas.
Paulo Hartung é economista e ex-governador do Espírito Santo
Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)
Às vezes penso que o escopo de nossa Constituição se distancia, e muito, da realidade brasileira. Como assegurar diversos direitos à população se na época (e nem hoje) t(iv)emos o básico?