Em um novo e provocante artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo (25/11/2013), O Brasil deu certo?, o ex-ministro Rubens Ricupero argumenta que ainda há muito a ser feito entre nós. Não existem grandes dúvidas de que o Brasil evoluiu em aspectos gerais nos últimos vinte anos.
Entre os manifestantes do mês de junho, 68% declararam que melhoraram de vida nos últimos anos (Data Popular, 07/2013). Insatisfações gerais, por outro lado, cresceram porque as pessoas teriam se tornado mais críticas e exigentes com a ascensão social. Alguns cidadãos, algo em torno de 87%, acreditam que melhoram de vida por conta própria, apesar das instituições e da política. Não nos deveria causar maior espanto que as instituições de Estado e políticas tenham sido questionadas nas ruas.
Utilizando-se de dados quantitativos, Ricupero afirma: Cedo ou tarde se esgotarão os recursos para transferências sociais, inviabilizando continuar a reduzir a pobreza e a desigualdade, acarretando a seguir a inelutável erosão dos ganhos conquistados. Sua preocupação principal encontra-se no baixo crescimento econômico, vigente e potencial, e um decorrente conflito distributivo no plano social, algo que colocaria em risco a estabilidade da economia brasileira.
O caminho trilhado no presente deveria ser o dos ganhos de produtividade na economia e, para tanto, a coerência intertemporal das políticas públicas é relevante educação, infraestrutura e instituições. Há dificuldades nesse sentido. Entre 1999 e 2012, transferências de renda a famílias representaram 84% da elevação das despesas não financeiras do governo federal. Desde 2003, esse número superou 91%. Segundo ponderou Ricupero, o problema é que num país com consciência de culpa pelo passado de escravidão e injustiça, transferência social soa como algo ilimitadamente desejável, do qual jamais se poderá ter o bastante.
Não será simples o desafio da liderança política esclarecida em nosso país. De acordo com Ricupero, depende da liderança política a iniciativa de educar o país a fazer a distinção entre o mais e o menos desejável nas transferências, que vão da Bolsa Família aos benefícios do INSS, da Loas para idosos e doentes, aos mais abusados seguro-desemprego e abono salarial. Essa é uma questão relevante para as possibilidades de desenvolvimento sustentado do Brasil.
Questões ideológicas radicais devem ser abandonadas rapidamente. Conforme enfatizou Keynes (1936), no capítulo 24 do seu clássico livro: Não é a propriedade dos meios de produção que convém ao Estado assumir. Se o Estado for capaz de determinar o montante agregado dos recursos destinados a aumentar esses meios e a taxa básica de remuneração aos seus detentores, terá realizado o que lhe compete. Ademais, as medidas necessárias de socialização podem ser introduzidas gradualmente sem afetar as tradições generalizadas da sociedade. Nesse sentido, a qualidade do jogo político brasileiro precisará melhorar muito nos próximos momentos.
Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)
A sensação que eu tenho com essa política econômica adotada é que depois da Copa alguns problemas irão eclodir, principalmente os sociais. Este governo está usando muita “maquiagem” para esconder as incompetências e também de outros interesses.