Pouco mais de sete dias após o final dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e a pergunta que esteve presente ontem, pós-Copa do Mundo, e que por nosso histórico deve estar presente amanhã, pós-Paralimpíadas, é a mesma que nos confronta atualmente: qual o legado deixado?
Legado, entre seus tantos significados, traz a definição de algo transmitido, mas não obrigatoriamente, como herança. Algo deixado para um todo e não para um. Algo que recebemos basicamente no modo “automático”. Que nos pertence sem ao menos esperarmos. Está além do material, atravessa o simbólico e pode chegar ao emocional. Se tratando de esportes então, o brasileiro só tem o emocional. Bom ou ruim, legado é algo que realmente fica, e vai ser sempre lembrado, ou melhor, vai sempre ficar como lembrança.
Seja vibrante como o ouro de Rafaela Silva. Nas alturas, como Thiago Braz no salto com vara – aliás, lembram da cara do francês? Na garra, como Alison e Bruno. No braço, a exemplo de Isaquias Queiroz. Esperado, como foi com Arthur Zanetti, ou até mesmo inesperado, como a inédita medalha de ouro conquistada por Robson Conceição, que nocauteou as dificuldades da vida e no ring só teve o prazer de comemorar.
Então quer dizer que nosso legado se resume a medalhas? Não! É profissional, familiar e, principalmente, individual. Vai além do material. É saber que, por trás de cada conquista, há uma história. E se fica marcado na história do Brasil, é nosso. Nosso! E um legado para os próximos.
Os próximos que ainda vão ouvir falar de Serginho, que aqui, em sua terra, encerrou sua carreira no vôlei, e de maneira brilhante. Vão ouvir de Neymar, Gabigol, ‘Jesus’, Renato Augusto, Weverton e sua trupe, que antes julgados, saíram de pé, com medalha e até certa moral. Por falar em sair de pé, coloque na “lista de legados” mais uma participação das meninas em Olimpíada, que com Marta, Formiga e companhia, mostraram que futebol também é coisa feminina, e que toda rima, para demonstrar apoio e credibilidade, é bem-vinda. E como é!
É nítido que, após competições como essas, não é apenas o Rio de Janeiro que continua lindo, que ganha, que entra para a história. Não são apenas os atletas que disputaram. O protagonista é você, sou eu, é quem acredita, mesmo sem motivos diários para tal. É mais que ouro, prata e bronze. É ver, ou melhor, sentir, a real essência do brasileiro. Brasil é emoção, é parar tudo para torcer, e juntar todos para torcer.
E não! Não é hipocrisia querer ver o lado bom das coisas. Não é tapar os olhos para as coisas ruins, mas sim escolher o que prefere ressaltar, espalhar, mostrar, deixar… como legado. Acredite mais! Brasileiro é bom nisso.
Ana Carolini Mota, jornalista do Folha Vitória