Memória capixaba, por João Baptista Herkenhoff

​João Baptista Herkenhoff
Juiz de Direito aposentado (ES), palestrante e escritor

Um povo só tem futuro se aprende a cultivar o passado. Memória é cidadania. Merece aplausos Antônio de Pádua Gurgel que, com ajuda de uma equipe de pesquisadores, pretende biografar 36 figuras de nossa História. É uma escolha simbólica. Essas vidas representam muitas outras.

O caminho de resgatar o passado através de biografias parece-me acertado: homens e mulheres é que são os construtores da História.

Os nomes femininos escolhidos são expressivos: Maria Stella de Novaes, que se debruçou sobre a História de nosso Estado; Zilma Coelho Pinto, pioneira da idéia de alfabetização universal; Nara Leão e Maysa, cantoras do amor e da ternura; Luz del Fuego, que arrostou o farisaísmo de seu tempo – apodava como imoral a exibição do corpo mas não via transgressão ética numa sociedade plantada na injustiça.

Serão biografados líderes religiosos que representam vários credos: Dom João Baptista da Mota e Albuquerque e Dom Luís Gonzaga Fernandes, Bispos católicos; mas também o Pastor Jayme Wright, um lutador contra a tortura; e o grande obreiro espírita Jeronymo Ribeiro.

Há figuras de um passado próximo mas também figuras do passado remoto, como Vasco Fernandes Coutinho, Pedro Palácios, Domingos Martins, Florentino Avidos, Muniz Freire, Jerônimo Monteiro e Padre José de Anchieta.

Há representantes dos vários ofícios humanos: o desbravador, o empreendedor – Ceciliano Abel de Almeida, que inaugura a coleção; o cientista, o naturalista – Augusto Ruschi; o advogado ético, servidor sem medo da causa da Justiça – Ewerton Montenegro Guimarães; o profeta que denunciou a iniqüidade da organização social que produz meninos de rua – Mário Gurgel; o médico, o pediatra, aquele que sonhou com um Brasil mais justo, “se a criança votasse” – Jolindo Martins; políticos que ocuparam trincheiras opostas, em vida, mas que a História uniu – Carlos Lindenberg, Jones Santos Neves, Francisco Lacerda de Aguiar; o artista – Homero Massena; cronistas que estão entre os maiores da Literatura Brasileira de todos os tempos – Rubem Braga e José Carlos Oliveira; magistrados que são símbolo – Carlos Teixeira de Campos e Renato José Costa Pacheco; o educador, o que viu com tanta antecedência o esporte como veículo de integração humana – Alaor Queiroz de Araújo; o político que fez da Educação uma bandeira – João Calmon; o folclorista, o que foi beber na alma do povo o fermento de sua vida – Guilherme Santos Neves; o mártir da causa ambientalista – Paulo César Vinhas; o político exemplar, aquele que foi o primeiro capixaba a ser Ministro da República – Eurico de Aguiar Salles; o empresário, cônscio de seu papel social – Américo Buaiz; o líder comunitário, um dos mais antigos de Vitória – Ítalo Batan Régis.

A iniciativa transpõe o momento em que se concretiza. Antônio de Pádua Gurgel, com seu brilhante projeto, emite um sinal para o futuro e um indicativo para outras realizações semelhantes.

 

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