Sabedoria das ruas e coronavírus

Sempre aprendo com as ruas. Nesta semana, estava acompanhando o Carnaval Capixaba (com letra maiúscula mesmo, pois se trata do recarregar de baterias do nosso povo), e um garçom me disse: “Viu, professor? O governo parou o coronavírus na China. Agora é só festa, tô recebendo até em dólar”.

Desculpe-me ser engenheiro de obra pronta, mas disse: “Meu amigo, esse vírus já está no Brasil, e não me preocupa QUANDO chegou, mas sim COMO vamos detê-lo”. O gentil garçom me disse: “Mainha sempre falava: ‘Se tá pagando, pode tudo'”. Realmente a sabedoria popular é incrível.

Meus amigos, o Brasil é o país dos sonhos para o novo coronavírus: temos calor e frio; somos continentais, com milhares de quilômetros de fronteiras terrestres; recebemos o turista bem (tão bem que achamos feio verificar se o dólar trazido é real ou falso); temos aquele complexo de vira-latas que acha que tudo que é estrangeiro é melhor; somos latinos, então gostamos de abraçar, apertar mãos e beijar; nossa proxêmica é mínima (espaço médio entre as pessoas em ambientes fechados); nos automedicamos, temos medo de parecer “neuróticos” usando máscaras; o país NÃO tem uma cultura de mitigar riscos nem de treinar para catástrofes… Pergunto então: quantas vezes na escola, no edifício ou na empresa você fez simulação de incêndio, RCP…?). Ou seja, falta só um tapete escrito “welcome, coronavírus”.

Assim,  cabe a nós revermos conceitos bem mais amplos, por exemplo: questionar por que foi criado no imaginário do brasileiro que reclamar e cobrar nos tornam chatos. Que lutar pelo correto é ser cri-cri. Que tirar um fura-fila é ser “mal-amado”. Que chamar a polícia para um carro na vaga errada é ser mau vizinho.

Criaram em nosso imaginário que somos um povo pacífico e que por isso somos felizes. Não sei qual é a relação, pois o Alemão me parece bastante feliz e, se você furar a fila, é preso. O Australiano me parece “de boas”, mas chama a polícia se a festa passar um minuto da hora de terminar.

Você pode estar pensando: “Mas, tio Flávio, como isso está ligado ao coronavírus?“ . Eu lhe respondo: já parou pra pensar que não houve barreiras sanitárias para a entrada de turistas no carnaval? Que todos beijaram MUUUUUUUUIIIIIIITOOOOOOOO? Assim, relaxa, o coronavírus já está aqui… Cabe a você se proteger, pois nós somos a barreira agora! E estamos todos do mesmo lado, não tem esquerda e direita, Fla nem Flu, mulher ou homem… Só nós contra o coronavírus.

 

Flávio Cavalcante é palestrante e professor

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