por José Antonio Bof Buffon
No começo de março o Brasil encontrava-se com a economia sem perspectivas de crescimento e a com a moeda que mais havia se desvalorizado no mundo: incertezas, estagnação e fuga de capitais compunham o cenário naquele momento.
Convém esclarecer que os fatores externos impulsionam a valorização (ou a desvalorização) do Dólar frente às diversas moedas nacionais. Mas são os fatores domésticos que explicam o quanto o Dólar se valoriza (ou se desvaloriza) em cada país.
As razões internas para a elevada valorização do Dólar no Brasil, naquele momento, eram bem claras e evidentes. Não tem como se fugir dos fatos: a combinação de juros baixos com incerteza elevada, potencializadas pela falta de confiança na condução dos destinos do país. Estas eram as condições antes da eclosão da crise desencadeada pelo covid-19. Estava claro, portanto, o cenário de que o Brasil não teria um ano de crescimento elevado.
Com os juros em queda o dinheiro tende a fugir das aplicações financeiras, que estão rendendo pouco, e procuram outros destinos. Em regra, a Bolsa de Valores e o Dólar. Muitas vezes, quando os recursos são externos, passam pela Bolsa e vão para o Dólar, gerando intensa agitação nesses mercados caracterizados por alta liquidez.
Bolsa e Dólar são mercados líquidos, suportam movimentos diários de entrada e saída de investidores. São, portanto, o palco predileto para a atuação de especuladores, que jogam com as informações verdadeiras e com os boatos, para perturbar o mercado, gerar pânico, e ganhar nas compras e nas vendas, o que exacerba a instabilidade inerente a estes mercados. Mas as ondas especulativas necessitam de fundamentos que lhes dão sustentação.
O ambiente político interno já oferecia fatos (e fakes) todos os dias para dar oportunidade e estimular a especulação na Bolsa e no mercado de divisas. Junte-se as incertezas e a instabilidade do ambiente internacional derivados de desacordos entre Estados Unidos e China e vamos ter claro, então, que era bastante natural, naquele momento, aquela gangorra de subida e descida naqueles mercados.
Mas fica a questão: Porque o dinheiro que saia das aplicações financeiras não rumava para o investimento privado?
Simples. Porque não havia (e não há!) no Brasil um horizonte longo, claro e estável, que ofereça os parâmetros para o cálculo econômico. Os investimentos produtivos, estes que movem a economia, em última análise, necessitam um horizonte de cálculo longo o suficiente para ensejar o cálculo econômico. Sem este horizonte não há como se fazer projeções confiáveis.
Nestas condições, de exacerbada incerteza, as empresas (e também as famílias), seguram, adiam suas decisões de gasto para um momento mais seguro, mais oportuno. As empresas multinacionais adiam seus projetos no país, o que faz diminuir a entrada de dinheiro para investimento direto, ao mesmo tempo em que suas filiais, que operam no Brasil, aumentam suas remessas de recursos para suas matrizes, para os recursos serem aplicados em outros mercados, mais estáveis e mais seguros, o que reforça a pressão sobre a moeda nacional.
Observamos, nos primeiros dias de março um contorcionismo intelectual para justificar o crescimento de 1,1% para o PIB em 2019. Pois bem, não há nada de surpreendente naquele crescimento pífio e o mesmo poderia se esperar para 2020, naquele momento.
Esta era a previsão, desde o início do ano. Previsão dos economistas sensatos, que não se iludem com cortinas de fumaça, com projeções de operadores do mercado financeiro, e trabalham com a boa teoria e com a realidade dos fatos.
O que aconteceu desde então foi uma dramática quebra naquela tendência. Uma quebra para pior. Àquela tendência de crescimento medíocre foram acrescentadas todas as consequências decorrentes da pandemia. Para se ter uma ideia, a quebra no nível de atividade econômica na última quinzena de março foi de tal monta que jogou no negativo o PIB de todo o primeiro trimestre.
E onde estamos, agora, no início de junho? O cenário externo continua com as mesmas incertezas que emergem da relação entre Estados Unidos e China, ao passo que o ambiente interno se encontra ainda mais hostil ao crescimento. E a fuga de capitais continua…
Retire-se, então, a covid-19 do cenário e sobrará apenas uma economia com perspectivas e crescimento ainda piores que as do início do ano, em uma nação sem rumo. E vale lembrar que as sequelas da pandemia sobre as empresas e as contas nacionais sinalizam para um futuro desalentador. A melhora do ambiente político é a condição sine qua non para estabilizar e alongar o horizonte de cálculo. Pena que as chances para isso acontecer são praticamente nulas.
José Antonio Bof Buffon é Economista. Comentarista de Economia da Pan News Vitória. Diretor Executivo da UVV Business School. Professor de Economia da UFES.