Por José Antonio Bof Buffon
Governos, Universidades e Empresas precisão estar atentos e ligados neste novo mundo que avança sobre nós em velocidade estonteante e precisarão atuar e cooperar como nunca fizeram. A verdade é que não faz mais sentido se falar em transmissão e transferência de tecnologia entre universidades e empresas, mas sim em desenvolvimento conjunto, cocriação e outros formatos interativos e colaborativos. Os processos de inovação nas empresas vão ser transformados radicalmente e, para tanto, serão requeridos profissionais com formação e perfil completamente distintos: além dos conhecimentos específicos, ligados às suas respetivas áreas de fronteira da ciência e da tecnologia, serão exigidas, destes profissionais, competências atitudes próprias e adequadas para o diálogo construtivo e cooperativo com as Universidades e com as Instituições de Fomento.
No Espírito Santo, o FindesLab, inaugurado há pouco menos de um ano, foi concebido e implementado para funcionar em conformidade com o este novo paradigma da Indústria 4.0, que, a par de todos os seus requisitos e especificidades técnicas, se apresenta como uma unidade de integração e cooperação entre os entes envolvidos no processo de desenvolvimento do Espírito Santo.
No último artigo publicado neste espaço eu assinalei que a Ciência de Dados, substanciada na Inteligência Artificial, a Ciência dos Materiais e a Biotecnologia vão desenhar o mundo e influir na vida de cada um nos próximos anos. Cidades, regiões e países serão transformados rápida e profundamente.
Países que se pretendem soberanos na futura ordem mundial precisarão estar atentos a todos os imperativos desta perspectiva que se abre a se aprofunda. O Brasil não está fora deste contexto. Nossas universidades foram protagonistas de um enorme salto científico neste Século XX. Grosso modo, fechamos a lacuna que existia entre a nossa participação no PIB mundial e a nossa participação na produção da ciência mundial: participação do Brasil no PIB do mundo era significativamente maior do que na produção de ciência. E devemos perseverar neste caminho e fazer o País avançar nesta proporção; devemos também avançar na transformação desta ciência em empresas baseadas (ou suportadas) em conhecimento.
Nossas Universidades e Institutos de Pesquisa precisarão, cada vez com mais intensidade e frequência, visitar a fronteira técnico-científica dos novos campos do conhecimento e, sempre que possível, influir na expansão e nos caminhos desta fronteira. Sem isto nosso futuro como nação de primeira ordem poderá estar comprometido.
Mas também isto não é tudo. Estar atento, atualizado e ter capacidade de influenciar a fronteira do conhecimento é crucial para o futuro do Brasil, mas não menos importante é a nossa capacidade de efetuar a reconversão produtiva dos nossos setores tradicionais, imprimindo-lhes padrões de gestão e conteúdos próprios deste novo paradigma técnico-científico.
Indústrias tradicionais continuarão a existir, sempre. Todas elas são (ou serão) palco de necessidades e oportunidades engendradas pela generalização da III Revolução e pela Indústria 4.0. Têxtil, confecções, couro e calçados, alimentos e bebidas, material de construção, madeira e móveis, metalurgia e mecânica, entre tantos outros ramos industriais ensejados pela I e II Revolução Industrial, são setores que formam e imprimem complexidade ao tecido industrial de qualquer país que se pretende desenvolvido. São segmentos imprescindíveis para proporcionar um maior equilíbrio na matriz intersetorial, sem o qual o país estará sempre sujeito a limites e gargalos que obstruem seu crescimento, geram inflação e restrições externas, quando não engendram a própria estagnação da economia.
Para tanto serão necessárias pesquisas, desenvolvimento tecnológico, cooperação, fomento, cocriação, ambientes de inovação, estruturas de funding adequadas, métodos e processos inovadores nas empresas, um novo perfil de profissionais e apetite para inovar. Caso contrário, nos tornaremos obsoletos a passos de gigante.
Em outras palavras, na atual etapa de desenvolvimento da III Revolução Industrial, sob o formato específico do que se convencionou chamar de Industria 4.0, o sucesso ou o fracasso dos países está também intimamente associado à capacidade de cada um em reconverter competitivamente seus setores tradicionais.
Este alerta nos remete para o agronegócio brasileiro, que é competitivo não por conta da natureza, mais pela enorme capacidade de assimilar continuadamente conhecimento, sobre a forma de métodos e técnicas de gestão e de produção (manejo). No agronegócio já existe os ambientes de cooperação e cocriação que dão solução e sustentação às necessidades e oportunidades pautadas pelo segmento.
A criação da EMBRAPII não deixa de ser uma tentativa, talvez inconfessa, de levar para indústria o que já funciona bem no agronegócio, sob enorme influência e contribuição da EMBRAPA.
José Antonio Bof Buffon é economista e comentarista de economia da PanNews Vitória. Ele também atua como Diretor Executivo da UVV Business School e professor de Economia da UFES.