por Fernando Repinaldo
Na nossa região metropolitana os transportes coletivos são pouco eficientes e caros, tanto pelos fartos subsídios aplicados, quanto pela baixa qualidade dos serviços oferecidos, promovendo uma fuga progressiva de passageiros. Apesar da insustentabilidade financeira e operacional do nosso transporte de massa ser anterior à pandemia, até agora nenhuma discussão abrangente sobre a mudança do sistema foi trazida ao debate com a sociedade civil organizada.
Em tempos de covid, o colapso do sistema já é uma sentença proferida. As restrições atingiram impiedosamente nosso debilitado serviço de transporte coletivo e ameaça a mobilidade da população. No transporte de massa o contato humano é maior e as contaminações certamente se alastram rapidamente. Mesmo que a atividade econômica retorne ao normal, o transporte coletivo levará mais tempo para se recuperar, pois ônibus muito cheios, devido à facilidade de contágio, serão rejeitados por passageiros que tiverem outra opção de deslocamento.
Concomitantemente, concessionários do transporte público negociam pacotes de salvamento financeiro de forma a permitir a continuidade dos seus serviços em modos tradicionais. Observamos esforços dramáticos na tentativa de sobrevida de algumas empresas, que dificilmente subsistirão ao impacto recebido. A resolução exclusivamente financeira de um sistema que já estava à beira do colapso se torna inviável a curto, médio e longo prazo. Será apenas uma luta quixotesca.
A realidade não sabe esperar, exige mudanças estruturais de todo o sistema de transporte público. Novas licitações sobre os sistema de transporte coletivo obrigatoriamente terão que ser feitas sob novas bases, com dados atualizados de origem e destino, com novos modelos contratuais e metas operacionais claras, pois é inevitável o financiamento público a esses serviços. Além disso, todos os modais em operação deverão ser integrados ao sistema de transporte público de massa. Também é imprescindível a coordenação e regulamentação pelas prefeituras dos transportes alternativos para pequenas distâncias, devidamente integrados, facilitando o acesso dos usuários à rede, além de resolver o “gap” da primeira e última milhas. Nesta perspectiva, incluem-se as Barcas com média capacidade, que terão papel relevante na eliminação de gargalos, pois são seguras, rápidas, sustentáveis e não promovem aglomerações.
Abordamos apenas situações que, entre tantas, requerem um enfrentamento sério, abrangente, transparente e pragmático. Trouxemos algumas propostas alternativas para a reestruturação e sustentabilidade de um sistema que enfrenta problemas históricos de eficiência e qualidade do serviço.
Nossa visão crítica não tem a pretensão de fazer um juízo de valor, mas sim a intenção de provocar as autoridades e os cidadãos a um debate mais contundente que poderá amenizar e, talvez, nos livrar do perigo que correremos em um futuro imediato.
Fernando Repinaldo é Especialista em Administração Pública, Gestão de Projetos e Engenharia de Tráfego