Por Bárbara Campos Fernandes, mãe de Davi e Luca (gêmeos autistas), psicopedagoga, fundadora do Grupo de Apoio a Pais de Autistas Força Azul ES.
Eu sempre tive um sonho: ser mãe! Estávamos há quase dois anos tentando quando Deus nos presenteou com uma gravidez gemelar. Fomos pegos de surpresa. Justamente no momento em que iríamos investigar por que não conseguíamos engravidar, descobri que já estava com dois meses de gestação: o milagre da vida chegou ao nosso lar.
Tive uma gravidez tranquila, nenhuma intercorrência aconteceu, mas Davi e Luca nasceram prematuros. Ficaram na UTI neonatal por 11 dias devido a um desconforto respiratório ao nascer. Ainda assim, o desenvolvimento dos meninos transcorreu normalmente até os 18 meses de vida. Foi quando percebemos que ambos pararam de executar ações que uma criança dessa idade teria como bater palmas, apontar e falar.
Em uma consulta de rotina com a pediatra, o Davi fez um movimento chamado de “flap” (balançando as mãos por euforia) e essa atitude chamou a atenção da médica, que nos encaminhou para um neurologista. Nós, que já havíamos procurado uma fonoaudióloga devido ao atraso da fala, rapidamente providenciamos uma consulta com a especialista.
Inicialmente, ela não fechou um diagnóstico, mas nos pediu para matricular as crianças em uma escola para melhorar a socialização deles. Encontramos uma instituição de ensino maravilhosa, relatamos que estávamos investigando o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ali se formou uma parceria excepcional entre família e escola.
A direção nos sugeriu procurar uma Terapeuta Ocupacional para trabalhar algumas questões sensoriais e sociais nos meninos. E nós assim fizemos, mas ainda não tínhamos nenhum diagnóstico. Foi quando nos orientaram a procurar outro especialista da área neurológica. E na primeira consulta com esse profissional soubemos que nossos dois filhos estavam dentro do Transtorno do Espectro do Autismo. Meu chão se abriu.
Os filhos perfeitos que eu tinha idealizado não estavam mais ali comigo. Agora eu era mãe de duas crianças com deficiência. Qual seria o futuro deles? Vários medos e interrogações consumiam meu interior. Com eles vieram o luto, a negação e a culpa. Desenvolvi depressão, síndrome do pânico e ansiedade. Não eram somente meus filhos que necessitavam de tratamento, eu também precisava de ajuda.
Depois de alguns meses percebi que não adiantava questionar os porquês e decidi enxergar o Transtorno do Espectro Autismo com outros olhos. Percebi, então, que precisava ajudar meus filhos. Foi quando decidi pesquisar e aprender mais sobre o TEA.
Fiz cursos, busquei conhecimento em entidades nacionais e internacionais. Trabalhei infinitas vezes as habilidades sociais deles na padaria, no shopping e no supermercado. E, com ajuda da escola, do neurologista e das terapeutas, Davi e Luca começaram a se desenvolver. As comunicações verbal e social retornaram.
Porém, a dor de que maternidade perfeita tinha se esvaído por minhas mãos com o diagnóstico continuou. Foi quando tive ideia de criar um grupo de apoio para pais e mães de pessoas autistas. Para ajudar e ser ajudada, como uma aldeia.
E assim que nasceu Força Azul. Nesses três anos, realizamos palestras e lives com profissionais que atuam com autistas, buscamos dialogar e debater sobre políticas públicas e orientamos essas famílias para que esses indivíduos possam ter um futuro digno.
Nossa batalha é para que a sociedade conheça melhor o transtorno e contribua para uma maior inclusão de pessoas com TEA. Queremos que nossos filhos sejam autônomos a ponto de, em um futuro próximo, eles possam ter uma profissão, pagar seus impostos, constituir famílias e viver uma vida mais próxima da normalidade.
Nosso intuito é que os autistas não sejam vistos somente como “antissociais”, mas como pessoas extremamente corretas, organizadas e capazes de contribuir para uma sociedade mais justa!