por Herica Godoy
Quando criaram as malditas caixas? Não me refiro a essas utilitárias que usamos para organizar ou transportar objetos. Falo das caixas imaginárias criadas para armazenar pessoas, comportamentos, esteriótipos, pensamentos…
Há alguns anos eu tinha a sensação que tudo estava em seu devido lugar, que o mundo caminhava em direção ao progresso apesar de todas as dificuldades que sempre tivemos enquanto humanidade. Vivi até uma parte da minha adulta assim, alienada. Chegou o momento em que eu descobri que habitava numa dessas caixas que limitava meu poder de argumentação, podava meu direito de discordar sem ser punida, e pior, me fazia acreditar que eu já sabia o suficiente.
É preciso ter coragem para romper as barreiras que te aprisionam em tais ambientes. Como qualquer tipo de mudança, se libertar dos padrões impostos pela sociedade como ideais é trabalhoso, cansativo e em alguns casos, perigoso.
Todas as militâncias que vemos hoje são resultado de grupos que foram por muito tempo aprisionados nessas caixas limitadoras e sufocantes. De tempos em tempos surgia um fugitivo aqui, outro ali que escapulia da caixa e tentava se fazer ouvir. De fato, uma andorinha sozinha não faz verão e somente com a revoada em bando dos representantes da diversidade e da opressão, podemos ver em pauta assuntos tão necessários como homofobia, racismo, machismo e tantos outros.
Discussões importantes começaram a fazer parte da nossa rotina. O que antes era piada, hoje é inaceitável. As expressões racistas que usávamos frequentemente se tornaram abomináveis. Temos que nos policiar e pensar antes de falar algo para que não seja ofensivo a qualquer pessoa. Muitos reclamam, citam o passado como um tempo bom em que podíamos falar qualquer coisa e ninguém se ofendia. Chamam de vitimismo o que na verdade é um pedido de respeito.
As tais caixas existem para controle comportamental. Quem seguir as regras será aceito, quem quiser ser diferente vai sofrer as consequências de sua rebeldia. Muitos “rebeldes” surgiram nos últimos tempos e fico aliviada com a aparição deles porque agora sim estamos progredindo em conscientização e mudança comportamental. Num ritmo muito lento? Sim! Mas estamos nos movendo e é isso que importa. Quem quiser permanecer em sua caixa que o faça, desde que aprenda a respeitar quem não cabe nela. Não custa sonhar.