As eleições daqui e as de lá: como o eleitor rejeita a velha política

Thomaz Tommasi é presidente da Assevila. Foto: Fabrício Lima

Este ano de 2024 foi marcado por mais um ciclo político e democrático importante, seja no Brasil com as eleições municipais ou no exterior, onde muitos países passaram por processos eleitorais importantes.

Muitas nações convidaram seus cidadãos a dizerem suas preferências nas urnas. Apenas como exemplos de que todos os continentes discutiram o poder político, perceba que nas américas tivemos pleitos no Chile, Uruguai, Brasil, Venezuela e EUA.

Na África, as disputas foram na Argélia, em Moçambique, além de outros territórios, assim como na Ásia onde Jordania e Sri Lanka permitiram eleitor se manifestar.

Também na Europa, com destaques para Áustria, Moldova e Lituânia. E completando a volta ao mundo, o Palau fez as vezes da Oceania.

Para aos mais atentos ao internacionalismo, alguns destaques, que passam totalmente despercebidos pelo olhar dos brasileiros chamam a atenção.

No Reino Hachemita da Jordânia, a Frente de Ação Islâmica (FAI) que é um partido de oposição, ganhou muitos assentos no parlamento, preocupando o mundo por ser um braço político da Irmandade Muçulmana.

Além disso, no Sri Lanka o partido marxista JVP elegeu Anura Kumara Dissanayake como o 10º presidente da república, em oposição ao 9º mandatário do país, que deixou o poder em 23 de setembro de 2024.

Mesmo muito longe de nós, esses dois pleitos mostram algo que tem sido pautado no mundo inteiro: a insatisfação do eleitor pela política tradicional e um olhar nacionalista seja por qual vertente política o país esteja sendo influenciado.

Na Jordânia, essa vitória da FAI demonstra que o povo quer reconhecer suas tradições e valorizar o pan-islamismo, numa lógica que fecha as portas para outras interações com o mundo.

Já no Sri Lanka, o êxito de Dissanayake é uma resposta a velha política de lá, tendo sido escolhido pela população por, mesmo sendo neomarxista, prometer olhar pelo desenvolvimento da economia local.

Mas por aqui, de forma geral, só tivemos olhos para duas eleições: as municipais do Brasil e a presidencial norte-americana.

Nelas, o fio de condução do comportamento do eleitor foi o mesmo. Um repúdio as práticas dos operadores da política tradicional e um olhar para o pragmatismo de resolver problemas pontuais e individuais.

Nos municípios brasileiros, o eleitor buscou apoiar aqueles projetos que mais tinham capacidade de resolver os problemas das cidades, isolando, em grande parte, as disputas protagonizadas pela polarização de 2022.

Nos Estados Unidos, a vitória de Donald Trump também teve um espírito semelhante. Por lá, os estadunidenses foram as urnas para dizer que eles já não suportam mais os métodos antiquados da política tradicional.

Mesmo que vejamos Trump cometer muitas faltas contra a liturgia do cargo mais importante do planeta, é fundamental entender que ele tem dado um verdadeiro “sacode” na política mundial.

Vale dizer que as eleições americanas não influenciam em quase nada para o Brasil, já que a nossa diplomacia e a deles vai permanecer a mesma.

Mas o comportamento do eleitor merece uma atenção, pois no mundo todo é possível perceber um padrão de comportamento, muito pelo grau de conectividade que vivemos nos dias de hoje.

Quando o globo pôde se tornar um lugar mais interligado, despertou no coração das pessoas a vontade de retornar para a um certo isolamento.

Longe de imaginar que isso seja um egoísmo coletivo, se é que isso pode ser lido como factível, mas temos nações em que seus povos querem fechar as suas portas para o resto do planeta Terra e passaram a pensar em resolver apenas os seus problemas, virando as costas para outras questões que impactam as nações como um todo.

Ouso dizer que o “nacionalismo de Trump” tem muitas características similares com o pan-islamismo da Frente de Ação Islâmica, onde o “Make Jordan Great Again” não seria um slogan tão distante do desejo daqueles que votaram neste partido.

Ambos, reservadas suas características locais, étnicas, religiosas e culturais, desejam vivenciar um apego extremo as suas tradições, sempre como forma de encontrar a solução dos seus problemas pontuais.

No ensimesmamento permitido pelas urnas, o ser humano tem um momento em que ele despeja todas as suas vontades, até mesmo as mais envergonhadas e ligadas as suas egolatrias.

Thomaz Tommasi
Presidente da Associação dos Empresários de Vila Velha (Assevila), mestre em Política Pública e Desenvolvimento Local, MBA em Diplomacia e Relações Internacionais e MBA em Liderança, Gestão e Política pelo CLP

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *