O Brasil vem passando por profundas transformações. Nossas crises, econômica e política, trazem grande desconforto para a população e revelam graves problemas da nossa sociedade. Mas a mesma crise que nos tira da zona de conforto e nos preocupa também pode contribuir para o crescimento e o amadurecimento do nosso país.
Nessa linha, pensadores como Kondratiev (1926), Shumpeter (1939) e Prescott (1990) desenvolveram teorias acerca dos ciclos econômicos, identificando características e ganhos potenciais advindos de crises. Períodos de crise são tempos de transformação, de mudanças profundas e estruturais. Períodos em que surgem grandes oportunidades, inovações e lideranças. No Brasil isso não é diferente. Enquanto vivemos a crise mais aguda da nossa história, observamos grandes e necessárias transformações sendo feitas.
Na política, uma pauta desafiadora está sendo encarada. A PEC do Teto dos Gastos e as reformas trabalhista e da previdência são exemplos disso. Todas essas mudanças são de extrema importância e preparam o país para um futuro mais sustentável. Não há dúvidas de que essas atualizações das leis não seriam pensadas em períodos de bonança. Como exemplo, o superciclo de commodities, na década passada, trouxe uma falsa impressão de que o Brasil era o país do futuro e de que boa parte dos nossos problemas estava resolvida. A partir dessa falsa impressão, sediamos uma Copa do Mundo e uma Olimpíada. Gastamos, mal, o que não podíamos, e agora pagamos o preço do desajuste.
A administração pública também passa por um grande aprendizado, infelizmente da forma mais dura possível. É claro e cristalino como escolhas na gestão dos recursos (escassos) dos estados se refletem diretamente na vida da população. Friso que usei a palavra “escassos” entre parênteses não porque são poucos recursos, mas porque são limitados. Este tem sido o erro de muitos gestores públicos: ignorar o fato de que recursos são limitados, finitos. Estados sem gestão gastaram além do que deviam e agora pagam uma conta alta, deixando desprotegidos aqueles que mais precisam. Por outro lado, estados com equilíbrio nas contas públicas passam para outro nível de debate: a qualidade dos gastos e a melhora do ambiente de negócios. Tiramos uma lição disso: equilíbrio das contas é um pilar que precisa ser preservado sempre.
Já o setor privado enfrenta um novo tipo de crise, caracterizado pelo longo período de recessão, pela queda expressiva de investimentos, produtividade e do Produto Interno Bruto (PIB). Tudo isso com o agravante do desemprego, da queda de renda e do elevado número de empresas e pessoas endividadas. Esse desafio adicional vem colaborando para que a retomada não seja tão rápida quanto gostaríamos. Voltando à teoria dos Ciclos de Negócios (Prescott, 1990), períodos como este apresentam grandes potenciais de negócios, com boas chances de retorno e, portanto, são um incentivo ao investimento.
São nestes momentos que se destacam e nascem as grandes lideranças, cada uma em seu setor de atuação. Os líderes são aqueles que conseguem antever as mudanças de cenários e traçar ações que ataquem os problemas de frente, que conduzem seus times durante a turbulência e saem da tempestade melhor do que entraram.
Bruno Funchal
Economista e secretário de Estado da Fazenda