Por Vinicius Vieira Mota
Por que escolhi trabalhar com pessoas com autismo? Ou será que foram eles quem me escolheram?
Diariamente somos impelidos a fazer escolhas, nem sempre tendo claro o que virá no horizonte. A paisagem, distante, vai se tornando nítida à medida que vamos avançando.
Há dez anos, recém-formado e atuando como Engenharia Civil, vivi uma significativa crise profissional. Apesar da afinidade pela lógica e números, na prática, sentia-me totalmente deslocado, pois não era isso que fazia meu coração vibrar.
Ao ter o meu primeiro contato com a profissão de Terapia Ocupacional através de uma matéria na televisão, meus olhos brilharam e busquei informações sobre essa profissão e suas possibilidades, sentindo-me inundado pelo sentimento de que havia encontrado o que eu realmente queria ser quando crescer (nunca é tarde). Não foi nada fácil abdicar da minha profissão, optando pelo recomeço, retornando para mais quatro anos de faculdade em tempo integral. Apesar das incertezas e desafios, tinha fé que era a escolha correta, e que faria valer a pena. Feliz escolha, que me fez crescer também como pessoa, mudando minha forma de enxergar a vida, a sociedade e principalmente a relação com as pessoas com realidades diferentes da minha.
Apesar da identificação com todas as áreas, tive maior afinidade com o público da infância. E assim, o meu primeiro estágio foi no Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Capsi), onde tive meu primeiro contato com pessoas com autismo. O sentimento foi de perplexidade por me deparar com um universo novo e desconhecido, cheio de surpresas e representando um enorme desafio. Isso me fez optar por outro estágio na área (APAE), onde pude ter mais contato com esse público e aprender mais.
Ao me formar, não demorou muito para aparecer uma oportunidade de trabalho na APAE e em menos de um ano também na Amaes, instituição referência em autismo no estado. Era o início de uma jornada sem volta, que me fez buscar uma pós graduação específica na área do autismo e outras capacitações também. Hoje, apesar de disponível para outras condições, acabo atendendo quase que exclusivamente pessoas com autismo, de todas as idades, graus, ambientes, contextos.
Dito isso, não sei responder quem escolheu a quem, a verdade foi que nos encontramos e seguimos juntos. O que mais me encanta em trabalhar com esse público, é o significado que cada conquista ganha, para nós, para eles e principalmente para as famílias. Todo passo é comemorado com afinco e, assim, a vida se mostra mais valorosa. Além disso, urge a necessidade diária de sair da zona de conforto, exigindo empatia, paciência, criatividade, dedicação, afeto e muita formação para conseguir acessar as especificidades de cada um, seja através de cursos e capacitações, ou até mesmo no desenvolvimento de novas habilidades artísticas, esportivas e musicais que possam ser incrementadas nas terapias. E ainda sim, não temos a garantia do sucesso, nos colocando sempre no nosso lugar de meros aprendizes, vivendo um dia de cada vez.
Vinicius Vieira Mota
Terapeuta Ocupacional
Atuante na Amaes, Clínica Protea, Clínica Máximo Varejão e atendimento domiciliar