Além da analogia política, nos bastidores da obra O Bem-Amado, de Dias Gomes, há uma história curiosa e verídica que se desenrolou na cidade de Guarapari, Espírito Santo.
Mesmo pontuando a seriedade da reta final do cenário político do Brasil em 2024, a releitura de “Sucupiras” traz uma rica informação verídica: a origem.
O país se prepara para mais um pleito eleitoral, e as semelhanças entre a realidade política contemporânea e o famoso personagem Odorico Paraguaçu, criado por Dias Gomes na novela O Bem-Amado, parecem saltar à vista.
Assim como Odorico, prefeito da fictícia cidade de Sucupira, os candidatos se preparam para conquistar o coração e os votos dos eleitores, navegando pelas águas turbulentas da política local e nacional.
No entanto, nesta narrativa política contemporânea, o foco se volta para os “Sucupiras” reais do Espírito Santo, os municípios que compõem o cenário eleitoral dessa região.
Assim como na ficção, esses municípios possuem suas próprias peculiaridades, personalidades e desafios políticos, refletindo a diversidade cultural e socioeconômica do estado capixaba.
A origem
Neste contexto, vale lembrar que, no Espírito Santo, o cemitério em questão era o São João Batista, construído em 1906 pelo então prefeito João Batista de Almeida, conhecido como “Juca Brandão”.
A pequena vila de pescadores enfrentava um dilema peculiar: o prefeito da época não conseguia inaugurar o cemitério reformado.
Frustrado com a falta de óbitos para inaugurar o cemitério reformado, o que lhe garantiria o tão almejado capital político, o prefeito teve uma ideia ousada e, para alguns, quase macabra: roubar um corpo de uma cidade vizinha, Anchieta, e assim realizar a tão aguardada cerimônia de inauguração.
Esse episódio inusitado e quase inacreditável se tornou folclore local e, mais tarde, serviu de inspiração para Dias Gomes criar a trama de O Bem-Amado.
Na obra, o fictício prefeito Odorico Paraguaçu luta incansavelmente para inaugurar o cemitério de Sucupira, mas enfrenta o mesmo problema que seu homólogo de Guarapari: ninguém morre.
Os poucos que morriam frequentemente o faziam em alto-mar, e os corpos raramente eram recuperados, o que tornava impossível realizar enterros e, por consequência, inaugurar o novo cemitério.
Esse fato verídico foi guardado para enriquecer ainda mais a reflexão sobre os “Odoricos Capixabas”, pois estamos prestes a fazer as nossas escolhas nas urnas.
Cemitério de Sucupira ressuscitado nas campanhas
O cemitério de Sucupira passa a ser ressuscitado em meio às campanhas eleitorais, quando observamos a miríade de candidatos, cada um com sua própria estratégia para conquistar o eleitorado.
Alguns adotam discursos populistas, prometendo resolver problemas urgentes da comunidade, enquanto outros optam por abordagens mais moderadas, focando em propostas realistas e sustentáveis, fundamentadas nos investimentos em sustentabilidade, tecnologia e inovação.
Assim como Odorico Paraguaçu, que via na inauguração de um cemitério a chave para sua reeleição, os candidatos a cargos políticos nas “Sucupiras” capixabas buscam suas próprias “obras faraônicas” para conquistar a simpatia dos eleitores.
Seja na promessa de infraestrutura, saúde, educação ou segurança, cada candidato tenta encontrar o seu “cemitério” político, algo que possa marcar sua gestão e garantir sua permanência ou ascensão no poder.
No entanto, enquanto as promessas grandiosas são feitas, é necessário reconhecer que o verdadeiro caminho para a prosperidade e o progresso sustentável das “Sucupiras” reais do Espírito Santo está na adoção de políticas voltadas para a sustentabilidade e o desenvolvimento inteligente das cidades.
Desafios nos municípios
Assim como Odorico Paraguaçu enfrentava os desafios de Sucupira com soluções mirabolantes, os líderes políticos devem enfrentar os desafios de seus municípios com visão de longo prazo e compromisso com a sustentabilidade.
Enquanto os eleitores se preparam para exercer seu direito democrático nas urnas, é importante lembrar que a política vai além das aparências e das promessas vazias.
É necessário um olhar crítico e informado sobre os candidatos e suas propostas, avaliando não apenas o que é dito, mas também o que é feito e o que está em jogo nas “Sucupiras” reais do Espírito Santo.
À medida que nos aproximamos do final do pleito eleitoral de 2024, podemos encontrar inspiração e reflexão na saga de Odorico Paraguaçu e nas “Sucupiras” do Espírito Santo, lembrando-nos de que a política, assim como na ficção, é um teatro de múltiplas facetas, onde as escolhas feitas hoje moldam o destino das gerações futuras.
Essa história singular, que é palco de exemplificação para os políticos que buscam os seus cemitérios famosos, metáfora para as obras faraônicas e populistas, destaca a ironia da vida sociopolítica brasileira.
Transformada em ficção, a trama do cemitério sem corpo se perpetuou na cultura brasileira como uma das mais marcantes sátiras sociais da televisão e da literatura, e aqui, neste texto, ganha vida como uma sátira construtiva, com humor e crítica à realidade política do país.
Em uma última análise, a história de Guarapari, com seu Cemitério São João Batista e sua fama de “cidade saúde”, continua a ser lembrada não apenas por sua contribuição à literatura nacional, mas também por sua longevidade histórica e cultural.
Vale lembrar aos políticos que, em vez de buscar soluções populistas de curto prazo, os líderes devem construir políticas que promovam a sustentabilidade ambiental, social e econômica, garantindo um futuro próspero para as gerações vindouras.
A verdadeira grandeza política reside na capacidade de enfrentar os desafios com sabedoria, visão de futuro e compromisso com a sustentabilidade das cidades.
Juba Paixão
Jornalista, publicitário, estrategista em campanha política e empresário de comunicação institucional, detentor da Cruz do Mérito da Comunicação, categoria Comendador, pela Câmara Brasileira de Cultura.