Nos últimos anos, o Brasil vem sendo apontado como uma potência em energia limpa, mas o “Brazil Climate Summit 2024” trouxe à tona a questão que líderes empresariais e governamentais precisam enfrentar: como transformar esse potencial em ação real e posicionar o país como líder global na transição energética?
Embora boa parte da nossa matriz energética seja renovável, o país enfrenta grandes desafios relacionados à sua infraestrutura urbana e ao impacto das mudanças climáticas.
São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, têm riscos crescentes de inundações e ondas de calor, que afetam diretamente milhões de brasileiros e geram prejuízos bilionários.
As enchentes recentes no Rio Grande do Sul são um exemplo dos impactos dos eventos climáticos extremos.
Segundo os dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), esta tragédia pode gerar um impacto negativo de até R$ 97 bilhões na economia brasileira, este ano.
Cidades em risco
O evento evidenciou dados alarmantes. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 8,2 milhões de pessoas vivem em áreas onde há risco de deslizamento e enxurradas no Brasil.
Sem uma ação coordenada, esse número só tende a crescer. Não à toa, a necessidade de adaptação urbana e infraestrutura resiliente foi um dos pontos centrais do debate no “Brazil Climate Summit 2024”, com propostas que vão desde investimentos em drenagem urbana até a utilização de tecnologias emergentes como a Inteligência Artificial para prever e gerenciar desastres.
Oportunidade bilionária
Outro ponto destacado foi o desenvolvimento de combustíveis sustentáveis para aviação (SAF).
Algumas empresas locais estão liderando a produção de bioquerosene, colocando o Brasil em uma posição estratégica para encabeçar um mercado que pode movimentar US$ 15 bilhões globalmente até 2030.
Isso não apenas reduz as emissões do setor de transporte aéreo, mas também cria oportunidades de investimento e de emprego.
Justiça climática
No entanto, a transição energética não pode ser apenas econômica. O Centro Brasileiro de Justiça Climática destacou a necessidade de incluir as populações mais vulneráveis nas soluções.
Se as políticas de adaptação e mitigação não levarem em conta os mais pobres – uma medida urgente – o Brasil continuará enfrentando desigualdades crescentes.
O “Brazil Climate Summit” serviu, sobretudo, para que vejamos a oportunidade que o Brasil tem para se tornar uma grande liderança na transição energética global.
Contudo, o caminho para o sucesso dependerá da capacidade de integrar inovação, justiça social e sustentabilidade em uma estratégia nacional coesa.
Maria Emilia Peres
Sócia da Deloitte Brasil para Estratégia em Sustentabilidade e Inovação