O transporte coletivo na Grande Vitória, responsável por mais de 30% dos deslocamentos da população, ainda opera com características do século passado, sem modernização ou priorização, que poderiam ser conquistados com o BRT e modernização da frota, como pontapé inicial. Estamos na contramão da sustentabilidade urbana, definida pela Organização das Nações Unidades como uma das 17 metas globais.
Segundo definição do portal “BRT Brasil”, o “BRT (Bus Rapid Transit), ou Transporte Rápido por Ônibus, é um sistema de transporte coletivo de passageiros que proporciona mobilidade urbana rápida, confortável, segura e eficiente por meio de infraestrutura segregada com prioridade de ultrapassagem, operação rápida e frequente, excelência em marketing e serviço ao usuário”.
Segundo o portal “BRT Data”, este sistema já opera em mais de 20 municípios e algumas regiões metropolitanas do Brasil e estão em obras em outros 10. São capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Goiânia, Campo Grande, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Salvador, Natal, Belém e Teresina, a maioria já em operação. Na Grande Vitória, infelizmente, o projeto foi postergado pelo Governo do Estado.
A qualidade da mobilidade também é esquecida quando avaliamos o conforto de nossos ônibus, municipais ou intermunicipais. Paramos na década de 80. Assim como no BRT, essa realidade é diferente em outros municípios do Brasil, que formularam leis (ou metas) de tornar toda a frota climatizada em curto prazo, além de outros avanços tecnológicos. Isso ocorre no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Niterói, Fortaleza e Palmas – apenas as duas últimas com médias de temperaturas máximas superiores às de Vitória. Tornar a frota climatizada reduziria a poluição do ar respirado no interior do veículo, os danos auditivos provocados por ruídos, além, é claro, do maior conforto térmico, o que poderia fazer migrar pelo menos parte de quem utiliza os automóveis nos deslocamentos do dia a dia para os ônibus.
Quando confrontamos a realidade nacional com o fato de Vitória ter a maior receita per capita entre as capitais do Brasil (fonte: portal “Meu Município”, dados de 2013), constatamos que nosso atraso, pelo menos na capital, é muito mais motivado por falta de priorização política e da administração pública, do que financeira.
Essa falta de priorização promove uma injustiça social maior do que imaginamos, deteriorando a saúde física e mental dos passageiros – em grande parte a população de rendas inferiores, que passa horas do dia se deslocando de forma precária, além dos impactos na família. Como sabemos é como se as vias públicas fossem espaços priorizados dos automóveis – e das classes de rendas mais altas, visto que o espaço ocupado pelos automóveis é desproporcional aos ônibus, considerando-se a mesma quantidade de passageiros. Na contramão do desenvolvimento sustentável, aumenta a poluição e o consumo energético nas cidades, visto que aqueles que podem optar pelo automóvel, assim o fazem, afinal, não há benefícios pessoais em se optar pelo transporte coletivo: as viagens são muito mais demoradas, a falta de segurança é maior e a diferença de preço não é tão expressiva a ponto de justificar a abrupta queda de conforto.
Infelizmente, como ocorreu para obter alguns avanços no modal de bicicletas, conquistas efetivas e positivas são obtidas com pressão popular (como a dos cicloativistas). Somente assim o poder público dará prioridade ao assunto. Cabe a nós, portanto, refletirmos que modelo de cidade desejamos daqui em diante, se queremos nos desenvolver com sustentabilidade ambiental e social, e cobrar resultados de nossos representantes.
Eduardo Borges é engenheiro civil, mestrando em Arquitetura e Urbanismo, mestrando em Engenharia Civil, diretor do Sinduscon-ES e da Reserva Negócios Imobiliários.