Quando escolhi escrever sobre alfabetização emocional, o que me veio em mente foi uma frase que mamãe, com toda sua simplicidade mineira, falava quando eu era ainda uma menina: “Sofrimento faz parte da vida. E tem gente que tem queda pra sofrer e sofre em demasia.”
Naquela época eu ficava pensando o que seria “demasia”. O tempo passou e ainda tenho gravado no meu áudio interno essa expressão: Tem gente que tem queda pra sofrer…
O que faz com que uma pessoa experimente grande sofrimento em uma situação e em outra consiga “tirar de letra”, mesmo em contextos semelhantes?
Hoje, na área que escolhi para trabalhar, a do comportamento humano, percebo o quanto desconhecemos nossa estrutura emocional e, em consequência disso, o quanto nos tornamos reféns de nossos próprios sentimentos.
Existem dois grupos de pessoas: um que sabe gerenciar suas emoções, dotado de inteligência emocional, e outro que ainda não se alfabetizou emocionalmente.
Na maioria das vezes não sabemos identificar e lidar com as emoções e aí sofremos “em demasia”. Sem necessidade, diga-se de passagem.
Alfabetização emocional significa identificar e reconhecer as emoções, entender que elas são aliadas e não inimigas. Elas são como um alarme sinalizando que algo não está bem e é necessário ficar atento e fazer algumas mudanças.
Algumas pessoas tratam a questão de forma simplista demais, ignorando, reprimindo as emoções e não permitindo que elas se expressem. E aquelas emoções que são sufocadas e não expressas, certamente ficam reprimidas em nosso corpo físico, ocupando espaço e criando desconforto.
Outras pessoas dão um valor sobrenatural às emoções, têm uma urgência de rotulá-las como se fossem doenças que precisam ser tratadas com urgência, não percebendo-as como algo positivo.
Ao reprimir ou neutralizar, resistindo a experimentar as emoções, essas pessoas estão prejudicando a sua saúde, às vezes de forma irreversível.
A diferença entre a pessoa que tem Quociente Emocional alto e uma pessoa que é desprovida dele, é que uma age de forma inteligente, com mais maturidade diante das situações e maior competência social, enquanto a outra, analfabeta emocionalmente, se desestrutura com facilidade, nas mais simples situações.
O perigo disso é que a pessoa que tem baixo Quociente Emocional tem pouca resistência para enfrentar a dor.
Muitas vezes se coloca como vítima diante das circunstâncias, não assumindo responsabilidade e culpando o outro ou as situações externas.
É preciso entender uma coisa: felicidade e sofrimento temperam a nossa existência terrena e nos permitem entrar no fluxo da vida, nos altos e baixos, exercitando nossa força interna.
Como se diz lá na roça: “Se não passar pela quentura da panela o milho não vira pipoca”.
Precisamos parar imediatamente com essa mania esquisita de só valorizar as emoções reconhecidas como positivas. Todas emoções são importantes e necessárias à nossa evolução.
Não se trata de evitá-las, mas sim, saber tirar delas o melhor aprendizado.
Quanto mais nos alfabetizamos emocionalmente, mais depressa vamos desenvolver a confiança na nossa competência para lidar com os momentos desafiadores que exigem de nós uma competência extra.
Este é o grande aprendizado que a maturidade nos traz: o sofrimento será sempre proporcional à nossa inteligência emocional.
Quanto mais intimidade temos com as nossas emoções, quanto mais aceitamos a vida como ela nos chega, mais desfrutaremos da grande aventura que é viver!
E viver é uma reconstrução constante…
A Programação Neurolinguística nos ensina a reconhecer as emoções no lugar de resistir a elas.
Aprender a ficar em estado de alerta, se tornar um observador de si mesmo, saber lidar com muita consciência e poder apreciar com naturalidade a diversidade de experiências que a vida nos proporciona, nos traz uma compreensão maior da nossa existência.
O monge Zen japonês Shunryu Suzuki (1904-1971), descendente espiritual direto de Dogen, o grande mestre Zen do século XII, resumiu a origem do sofrimento humano em uma única frase: “Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor.”
A dor tem, portanto, uma causa raiz no apego às situações conhecidas e a resistência ao novo.
Então a dica é: torne-se receptivo, fique consciente dos seus pensamentos e do efeito deles no seu corpo, nas suas relações e na sua vida.
Procure transformá-los em pensamentos de compaixão, mantendo um profundo respeito para com você e com todos os seres vivos do planeta.
Flua com a vida. Faça como o rio, que prossegue mansamente o seu caminho, sem oferecer nenhuma resistência. Tudo que encontra pela frente, seja lá qual for o obstáculo, o rio simplesmente o contorna e segue…
Por andar assim, tão em harmonia com a natureza, sem nenhum apego ou resistência, o rio alcança o oceano, a sua grande meta.
No budismo tibetano há uma prática chamada Tonglen que consiste em exercitar os encargos da vida sem se sentir sobrecarregado.
Como? Aceitando tudo que chega, com alegria e oportunidade de crescimento, perdoando a si mesmo e aos outros quantas vezes forem necessárias, vivendo e deixando os outros viverem e serem do jeito que são.
Lao Tsé, o grande sábio chinês, autor do Tao Te Ching, uma das obras fundamentais do Taoísmo, ensinou: “Quando você aceita a si mesmo, o mundo inteiro o aceita e o acolhe”.
O segredo não é brigar com a vida, mas aceitá-la e ser feliz em demasia…