Os orientais acreditam que cada um de nós nasce com um determinado número de respirações para realizar durante o curto espaço de tempo entre o nascimento e a morte. A coisa funciona como uma espécie de cartão de crédito para ser usado com muito critério para não ser bloqueado antes da hora.
Se o portador desse cartão tiver o cuidado de respirar pausadamente durante a sua existência, é claro que poderá aproveitar melhor o seu crédito e ele terá sempre um saldo a mais disponível.
Por outro lado os ansiosos, que respiram sempre com pressa e descompassadamente, terão dificuldade em acumular esse saldo, já que o que vão respirar pela vida afora mal dará para o consumo.
Respirar é tão importante, e ao mesmo tempo tão sutil, que às vezes nem percebemos e muito menos nos damos conta da bênção que recebemos diariamente da vida, sem que seja preciso fazer qualquer esforço.
Todos nós deveríamos nos sentir extremamente poderosos por sermos portadores dessa bênção. Mas não é assim que acontece.
A maioria perde o fôlego por qualquer coisa… Já acorda reclamando da vida.
Se faz sol diz “quem aguenta esse calor insuportável?”.
Se chove, “meu Deus do céu, o que está acontecendo, para quê tanta água?”.
Tem gente que vive em completo litígio com as estações do tempo – se é inverno, anseia pelo verão; se é outono, reclama: “por que a primavera está demorando tanto?”.
Mas toda e qualquer insatisfação promove ansiedade que, por sua vez, altera o ritmo da respiração, comprometendo a saúde emocional, física e espiritual de qualquer pessoa.
Os créditos do “cartão” que nos foi concedido pelo Criador na hora do nascimento vão gradativamente ficando escassos durante a vida e o seu portador, evidentemente, mais próximo da morte.
Um jeito saudável e muito prático de usar bem o nosso cartão de crédito é fazer a parada essencial.
É preciso dar uma trégua na agenda social para respirar…
É importante fazer com frequência o questionamento: como estou gastando os meus créditos? Como estou valorizando o meu viver? Que importância eu estou me dando? Por que tenho me ocupado tanto com o “não essencial “ e me descuidado tanto de mim?
A respiração nos dá todas essas respostas. Quanto mais silêncio fazemos, mais depressa vamos equilibrando a entrada e a saída do ar em nossos pulmões.
Na medida em que o ar penetra e sai, nos damos conta da redução do fluxo de pensamentos. Ela vai diminuindo, diminuindo, até que cessa completamente.
Neste estágio, a respiração se processa lentamente, quase parando, no ritmo idealizado no plano divino.
Nosso corpo físico é uma poderosa máquina que funciona independente da nossa vontade.
Nenhum de nós precisa avisar os pulmões quando será a próxima respiração e nem orientar o coração sobre a melhor forma de bombear sangue para as artérias.
Cada órgão sabe o seu papel para o bom desempenho do corpo humano e todos juntos, unidos e cooperativos, fazem o seu melhor, sem a necessidade da interferência do homem.
Quando fazemos uso inadequado de alimentos, nosso corpo físico aciona imediatamente o alarme. Ele reage através de sinais precisos, provocando intoxicação ou mal estar com a finalidade de nos avisar para que tomemos as devidas providências.
Pouquíssimas pessoas morrem de intoxicação alimentar graças a essa sabedoria do corpo. Porém, muitas pessoas estão perdendo a alegria de viver por não cuidar da estrutura mental.
É bom que se diga: alimento inadequado produz danos à saúde tanto quanto pensamentos e sentimentos tóxicos.
Quando se fala em saúde plena, é imperioso pensar em bem-estar físico, mental e espiritual.
A saúde perfeita só é alcançada quando os três pilares são cuidados com a mesma atenção.
Mas o que mais se ouve falar hoje em dia é sobre a depressão. A mídia fala o tempo todo que é a doença do século.
Ao menor sinal de tristeza, os que se queixam de depressão se refugiam nos remédios que prometem aliviar os sintomas, mas poucos são os que se dispõem a fazer uma autoinvestigação para descobrir a causa da doença.
Se a saúde foi perdida no coração, é no coração que deve começar a sua cura.
Uma sucessão de pensamentos e sentimentos tóxicos vai inevitavelmente comprometer a saúde emocional e mental de qualquer pessoa.
Se o processo não for estancado, a pessoa diagnosticada como depressiva vai se tornar uma cliente vitalícia da Psiquiatria, ou na melhor hipótese, perambular entre as milhares de terapias que foram criadas para atender ao número cada vez mais crescente de pessoas que se recusam a olhar para dentro delas a fim de realizar a reforma interna.
A boa notícia é que o cérebro é programável e nós podemos aprender a selecionar melhor os alimentos mentais que digerimos diariamente.
Segundo as pesquisas da área do comportamento humano, nós produzimos por dia uma média de 60 mil pensamentos. E boa parte, por incrível que pareça, é tóxica.
O nosso diálogo interno poucas vezes nos favorece, ele está sempre nos jogando para baixo, nos fazendo desacreditar de nós, enxergando o mundo de uma forma sombria.
Você já observou atentamente os seus pensamentos?
É capaz de separar o que é útil do que não tem utilidade?
Se ainda não fez esse exercício, aproveite esta oportunidade.
Torne-se o observador da sua mente e você vai ficar surpreso com a quantidade de lixo que a mente produz a todo instante.
É aquilo que os sábios do Oriente alertam: o inferno não é um lugar geográfico, localizado fora de nós… Ele é um certo tipo de mente e está bem dentro de nós, alojado no cérebro.
No supermercado alguns são extremamente cuidadosos na hora de comprar alimentos.
Eles verificam a data de validade, conferem os selos de qualidade e só quando se certificam do que estão realmente comprando, colocam os produtos no carrinho e levam para casa.
Sem dúvida nenhuma um belo exemplo, bonito de se ver. Mas aí eu fico me perguntando: por que não ter esse mesmo cuidado com relação aos pensamentos e sentimentos?
Se cada um de nós respirasse mais e passasse a selecionar cuidadosamente os alimentos mentais que produz sem cessar e lança no mundo, seríamos todos inevitavelmente mais saudáveis e mais felizes.
Acordar cedo, respirar profundamente antes de qualquer atividade, cantar no chuveiro, desenvolver amor por si mesmo, se declarar para os seus afetos, assoviar, sorrir, rolar na grama, tomar banho de cachoeira, deixar o vento tocar o nosso rosto, assistir ao pôr do sol, ser gentil com as pessoas, agradecer a Deus por existir…
Tudo isso renova a química do corpo, modifica os padrões de pensamentos e permite que você recarregue sua bateria interna.
Funciona também acordar todas as manhãs com a firme intenção de ser feliz, com a consciência de que tudo que vier pela frente é bom, porque todas as coisas que nos acontecem são oportunidades preciosas de aperfeiçoamento espiritual.
Viemos aqui para isso, não é verdade?
Que possamos nos lembrar da receitinha básica de felicidade ensinada pelos orientais: respire… respire muito e sempre!