Operações policiais estão envoltas sempre em um grau de tensão e de risco impetrados pela própria dinâmica da ação. Não raro há confrontos armados e vítimas. Cada qual conta uma versão da história.
Na semana passada, em uma dessas operações na Grande São Pedro, em Vitória, um policial militar atirou duas vezes contra um rapaz. A cena registrada por um circuito de câmeras no local mostra que ele já havia se rendido e estava com as mãos acima da cabeça, como é de praxe em abordagens policiais.
Sob a perspectiva legal, o Governo do Estado prontamente se pronunciou e o caso segue sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, como deve ser, ainda que com pouca transparência. Também foi aberto inquérito na Justiça Militar e o soldado afastado das funções.
Para além da brutalidade da cena registrada em vídeos, o que chamou a atenção foi a defesa enfática da Associação de Cabos e Soldados, sob o argumento de legítima defesa, ainda que o rapaz já estivesse contido, e o apoio de uma parcela da população, que aproveitou o caso para fortalecer o discurso a favor de ações policiais mais letais, como uma “licença para matar”.
É sob a perspectiva ética e moral que os argumentos merecem ser pontuados, já que afrontam o princípio constitucional da dignidade humana, do qual todos nós somos partícipes.
A alusão de que o rapaz já tinha passagens pela polícia e chegou a ser preso por tráfico de drogas em 2018 foi o suficiente para rotulá-lo como alguém que merecia ser eliminado, num claro desrespeito à vida e à lei.
Esse tipo de argumento distorce o papel da polícia e corrobora uma postura justiceira.
E, quando isso acontece, quando a circunstância está acima de princípios e responsabilidades, quando relativizamos a dignidade humana, todos, todos saem enfraquecidos.