Sob qualquer perspectiva, a ação policial da semana passada, em Pedro Canário, é descabida.
A sociedade não pode ficar em silêncio como os próprios policiais fizeram durante o depoimento.
O que tudo indica é que o que ocorreu foi um assassinato, uma execução.
Isso, por si só, já seria suficiente para provocar indignação, afinal, a barbárie é a ausência de justiça, e na falta dela nada mantém a vida em sociedade.
Ainda pior que o silêncio são as manifestações de apoio a ação dos policiais vindas de pessoas que acreditam que manter a ordem pública, atribuição sim da polícia, confunde-se com o direito de escolher quem vive e quem morre, numa degeneração completa do sistema judicial.
Veja, não estamos falando de um confronto onde há o risco iminente. Estamos falando de uma ação deliberada, como mostram as imagens de uma câmera de segurança que flagrou a ação: o policial militar atira contra o rapaz já rendido.
O caso, aliás, serviu para intensificar o debate sobre a utilização de câmeras nos uniformes dos policiais capixabas, e é bom que assim seja. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostra que em São Paulo, onde a prática já está em vigor, o impacto tem sido positivo. Para citar apenas um dado, o número de mortes decorrentes de intervenção policial caiu 57% desde a implantação da tecnologia.
No caso de Pedro Canário, ainda que as imagens não sejam da própria polícia, sem dúvida vão servir para esclarecer os fatos e punir os responsáveis.
Por outro lado, há casos em que as imagens também servem para esclarecer denúncias infundadas contra os policiais.
Trata-se pois de criar, cada vez mais, mecanismos que garantam transparência. É nesse sentido que todas as vozes deveriam se unir.