O medo é um sentimento poderoso. É baseado nele que nós, seres humanos, avaliamos situações em diversas áreas da vida e tomamos decisões que ensejam mais ou menos riscos.
Se o medo é positivo por um lado, por outro, quando se descola da realidade, tem enorme potencial para se transformar em paranoia.
Passa-se a acreditar que há uma ameaça iminente a própria vida ou de pessoas queridas.
Os últimos ataques em escolas potencializaram a percepção coletiva que o mal existe e que estamos todos sujeitos a ele.
Não se trata pois de menosprezar o medo, mas sim de encontrar evidências racionais que o justifiquem, em um primeiro momento, e que na sequência balizem as decisões que precisam ser tomadas para mitigar possíveis riscos.
No caso da violência contra as escolas, a proliferação de mentiras, as chamadas fake news, criaram um cenário ainda mais desafiador.
Pais deixaram de levar os filhos para as escolas. Adolescentes, num claro sentido de autopreservação, passaram a debater entre eles estratégias e medidas que deveriam ser adotadas caso a escola fosse invadida por algum criminoso.
Presencialmente ou em grupos de aplicativos de mensagem essa foi a tônica dos últimos dias.
No entanto, não há evidências reais de novos ataques, não há plano algum de uma orquestração criminosa contra escolas. O que há neste momento são boatos, apenas boatos.
Significa dizer que não devem ser investigados? Não, longe disso.
Mas transformá-los em verdade e guiar nossas decisões antes de qualquer investigação crível cria pânico e um desserviço para a sociedade.
O governo do Estado prometeu apresentar um plano de segurança para as escolas até o final do mês. As escolas privadas, por conta própria e orientadas pelo Sinepe, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares, têm conversado com os pais e adotado as medidas cabíveis.
Para além das ações com foco direto na segurança, há inúmeras questões para serem respondidas.
O escritor e especialista pernambucano Hugo Monteiro, pós-doutor em Estudos da Criança, entre outros diversos títulos, criou a alcunha “Geração do Quarto”, para identificar os jovens que apresentam como características principais o isolamento, a dificuldade em se comunicar e o fato de serem vítimas de bullying ou cyberbullying.
Para ele, uma coisa pode estar relacionada com a outra, na medida que os criminosos, de maneira geral, têm repulsa a diferença e enorme dificuldade de conviver de maneira harmônica com o outro, por terem eles próprios sido vítimas.
A questão da violência é extremamente complexa e o pânico generalizado abre espaço para a busca de soluções que desconsideram evidências racionais.