A importância do crédito no Brasil fica clara nos números: 75% das compras são parceladas, de acordo com a Federação dos Bancos, a Febraban. E nesse cenário, a cada R$ 10,00 destinados ao consumo, R$ 4,00 são por meio de cartões de crédito.
Quando compramos algo e dividimos o valor total, alguém precisa garantir, por exemplo, que o lojista vai receber o valor comercializado. Quem faz isso são os bancos, que por sua vez cobram juros quando o consumidor não arca com o valor correspondente.
Que a taxa atual de juros, em torno de 445% ao ano é abusiva poucos economistas discordam. Por outro lado, resolver questões dessa natureza na base da “canetada”, como querem os deputados federais, é uma medida inócua e ineficaz, ou o que é pior, pode provocar efeitos negativos.
O projeto de lei, aprovado na semana passada, propõe que o setor apresente em até 90 dias uma proposta de redução da taxa. Se isso não acontecer, o limite passa a ser 100% da dívida.
Esquecem que taxa de juros é uma maneira de precificar o risco e, ignorar o histórico e o comportamento de pagamento podem trazer prejuízo para a saúde financeira de todo o sistema.
Outro ponto é que se os bancos não podem ajustar a taxa de juros de acordo com o risco que o cliente oferece, a própria concessão do crédito pode se tornar mais restritiva.
Importante frisar que atualmente metade das operações está inadimplente.
Fato é que a redução da taxa de juros é intrinsecamente relacionada a fatores estruturais e estruturantes, ou seja, da forma como está organizado não funciona e para organizar é necessário planejar as medidas em detalhes.
Por exemplo, há que se estabelecer ações de educação financeira. É inegável que muita gente utiliza o cartão de crédito como se fosse uma renda extra, e na hora de quitar a fatura paga o valor mínimo.
Um ponto positivo do projeto é a possibilidade de o consumidor transferir a dívida para outra instituição financeira que ofereça melhores condições. Isso estimula a concorrência e cria um ambiente de negócio promissor. É nesse sentido que as medidas devem ser debatidas, o resto é demagogia.