A prisão do traficante conhecido como Marujo, na semana passada, deve ser comemorada. No entanto, a espetacularização de ações dessa natureza tem diversas implicações que estão para além de uma vitória contra o crime.
Para as autoridades públicas, a captura e a apresentação de figuras ligadas ao tráfico de drogas como um troféu servem para legitimar as políticas de segurança e são usadas politicamente para construir e reforçar a imagem de governos firmes e decididos no combate ao crime organizado.
Essa abordagem superficial pode desviar a atenção de soluções mais sustentáveis e integradas, que passam, obrigatoriamente, por políticas sociais e econômicas voltadas para a prevenção. Caso contrário, como diz o ditado popular, estamos enxugando gelo.
Há ainda que se considerar o aperfeiçoamento do arcabouço jurídico pelo poder legislativo, e a necessária celeridade na atuação do poder judiciário.
Outro ponto que merece atenção é a utilização de alguns termos para se referir a determinados espaços urbanos. De acordo com a polícia, por exemplo, Marujo comandaria o tráfico de drogas no “Complexo da Penha”.
A escolha de palavras importa na medida que elas moldam nossa compreensão do mundo. Ao referir-se a um conjunto de favelas desta maneira, ignora-se a diversidade das comunidades e contribui para uma percepção distorcida que associa automaticamente esses locais ao crime e à violência.
Além de reforçar barreiras simbólicas entre essas comunidades e o resto da sociedade, a simplificação diminui o senso de identidade e pertencimento dos moradores, afinal ninguém diz “eu vivo nesse ou naquele complexo”.
Uma abordagem mais consciente e menos estigmatizada por parte das autoridades poderia contribuir para ampliarmos a compreensão dos desafios a serem enfrentados. Nesse aspecto, organizações da sociedade civil e do terceiro setor têm muito a contribuir.
A título de exemplo, a Gerando Falcões já impactou mais de 5.500 comunidades com ações de educação, desenvolvimento econômico e cidadania. Todas elas iniciativas transformadoras.
A superação do ciclo de violência requer sim a intervenções das autoridades de segurança, mas também políticas públicas que ajam na complexidade do problema e não ignorem as raízes socioeconômicas profundas que alimentam a indústria do crime.