A linguagem não só transmite informações, mas carrega consigo valores, crenças e preconceitos. Certas expressões reforçam estereótipos e perpetuam preconceitos.
A frase “vocês deveriam aquietar o facho” dita pelo promotor de Justiça Luiz Antônio de Sousa Silva ao se dirigir a uma mulher pleiteando pensão alimentícia do ex-marido, com quem tem cinco filhos, revela profundas questões de poder e preconceito.
Em primeiro lugar, sugere que a mulher deveria ficar quieta ou parar de reclamar, ou seja, minimiza e deslegitima a queixa e a necessidade legítimas. É um reflexo de uma maneira de pensar que busca silenciar e controlar, ao invés de ouvir e compreender.
Um segundo ponto importante é que quando o promotor opta por essa abordagem ele não reconhece a vulnerabilidade que a mulher se encontra. Retira-se dela a opção de não ficar com quem não quer, mesmo quando submetida a “horrores”.
Enquanto esteve casada, durante 20 anos, ela sofreu violência doméstica e, tem inclusive uma série de medidas protetivas contra o ex-marido.
Logo, o uso da expressão “aquieta o facho” demostra completa falta de empatia em relação a gravidade do sofrimento e pode ter um impacto emocional devastador. Além disso, pode inibir ela própria e outras mulheres em situação similar a buscar ajuda da Justiça.
Tem sido comum em casos que ganham repercussão, o autor justificar como descuido, erro de expressão ou interpretação. Todo dia nos deparamos com um caso novo nas redes sociais.
No entanto, é crucial reconhecer que a linguagem molda a forma como percebemos e interagimos com o mundo. Quando usamos termos e expressões carregados de preconceito, estamos, conscientemente ou não, perpetuando essas visões distorcidas.
A frase dita pelo promotor é inaceitável em qualquer contexto.
Ele tem a obrigação de usar uma linguagem respeitosa, apropriada e, principalmente, consciente das complexidades envolvidas.
A mudança na forma como falamos é um passo essencial para a mudança na forma como pensamos e agimos.