Ouvir é um pilar fundamental da boa governança e da democracia. Sem isso, o governante perde a capacidade de interpretar os sinais da sociedade. É o que vem acontecendo com o governo Lula, principalmente com o próprio presidente.
Em muitas falas, o que transparece é uma postura quase rancorosa, algo do tipo “vão ter que me engolir”. Além disso, Lula fala sobre tudo, a ponto de ser o maior inimigo do próprio governo. Não ouve, por exemplo, quando o mercado “grita” que o desrespeito a determinadas regras é inaceitável, entre elas a interferência em empresas públicas ou no Banco Central.
Os sinais estão aí: a bolsa cai, o dólar sobe, os investidores vão embora, e o cenário econômico piora. Se Lula não aguçar os ouvidos, as dúvidas sobre a qualidade do governo só vão aumentar. Não é possível continuar insistindo em gastar mais do que se arrecada sem colocar em risco avanços importantes no campo do desenvolvimento econômico e social.
A estabilidade financeira é frágil e há pressões inflacionárias, por exemplo, os conflitos internacionais e a redução da produção de alimentos por conta de eventos climáticos recentes.
O controle do déficit público não pode estar ancorado tão somente em aumentar a arrecadação. A ideia retrógrada e descolada do cenário atual estrangula ainda mais o setor produtivo e o contribuinte brasileiro.
Se Lula apurar os ouvidos vai perceber que essa receita já não faz bolo. Além dos indicativos econômicos, há um indicativo político, como se vê no baixo protagonismo do PT nas eleições municipais.
Cultivar uma relação de escuta ativa e contínua com a sociedade assegura que as políticas públicas sejam mais eficazes e justas.