A montagem do primeiro escalão do governo muitas vezes é comparada a um quebra-cabeça. Se assim fosse, cada peça teria um lugar único e não haveria a possibilidade de novos arranjos ou composições. Nada mais distante do mundo político, portanto. E é bom que seja assim.
Por outro lado, da escolha das peças deve surgir um desenho que faça sentido e revele coerência com as promessas até então feitas.
O governador Renato Casagrande fez uma clara opção por manter a base do primeiro mandato. Para alguns isso significa continuidade, em contraposição ao período eleitoral, principalmente no primeiro turno, quando disse que se reeleito faria um governo renovado.
A pressão política do segundo turno talvez tenha refreado um ímpeto maior de renovação.
De qualquer maneira, na letra fria, das 23 secretarias houve alterações em 10 pastas.
Se a quantidade não indica por si só descontinuidade, as áreas e os nomes escolhidos sinalizam sim um novo momento.
A título de exemplo, podemos citar quatro secretarias. O chamado “núcleo duro” do governo, composto pela Casa Civil, Chefia de Gabinete, Secretaria de Comunicação e Secretaria de Planejamento, ganha a participação do vice-governador, Ricardo Ferraço, que vai comandar a pasta de Desenvolvimento.
A área da Saúde, que no primeiro mandato teve um enorme protagonismo por conta do combate à pandemia de Covid será de responsabilidade do gaúcho Miguel Paulo Duarte Neto. A troca indica uma mudança com foco principal em gestão. O novo secretario é economista, com experiência em direção hospitalar. Esteve à frente, em 2020 do Hospital Central, quando o mesmo passou a ser dirigido por uma fundação pública de direito privado.
Outra área sensível e que vem ganhando importância, inclusive no debate público, é Meio-Ambiente e Recursos Hídricos. A secretaria, normalmente envolta em preceitos ideológicos, será comandada pelo deputado federal Felipe Rigoni, que não foi reeleito.
Na agricultura estará à frente da pasta um nome de razoável consenso entre os partidos políticos e também entre o segmento, o engenheiro agrônomo e funcionário de carreira do Incaper, Enio Bergoli. Importante lembrar que o mesmo já foi secretário por duas ocasiões e que o segmento econômico é responsável por 30% do PIB no Espírito Santo.
Em geral, esses novos secretários têm conhecimento da máquina pública e também das interfaces com os setores produtivos, o que facilita o início do trabalho, principalmente levando em consideração que em cada uma dessas áreas administrativas há inúmeras demandas.
O principal desafio é fazer do poder público um instrumento eficiente a serviço da população, que crie um ambiente favorável para um desenvolvimento sustentável econômico e socialmente.