Messi: doença no quadril pode aposentar cão herói da PM do ES
Aos 8 anos, Messi está em momento de transição. Atualmente, ele realiza tratamento para displasia, e sua continuidade no trabalho será avaliada após a recuperação
O pastor-alemão Messi, da Equipe K9 do 9º Batalhão da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES), em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, se tornou sinônimo de eficiência e parceria no combate ao crime. Mas aos 8 anos de idade, o cão herói farejador da PM capixaba vive atualmente dias incertos, pois uma doença no quadril ameaça forçar uma aposentadoria mais cedo do que se esperava.
Com uma carreira marcada por grandes apreensões e uma relação de companheirismo com seus treinadores, Messi inspira e fortalece no Espírito Santo o trabalho com cães farejadores, que inclusive vem atraindo policiais de outros estados do Brasil e até do exterior.
Em sua trajetória, foram centenas de operações realizadas, armas e drogas retiradas de circulação e um impacto significativo na segurança do Espírito Santo.
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O brilho de Messi em ação
Entre os feitos mais marcantes de Messi estão a apreensão de 16 armas de fogo escondidas dentro de um aparelho de som em Cachoeiro de Itapemirim, em 2023, e os 580 quilos de maconha localizados durante uma operação em parceria com a Ronda Ostensiva.
No total, o cão participou de uma média de 200 operações por ano, tornando-se uma verdadeira máquina de eficiência no combate ao crime.
O coronel Palaoro, que acompanhou de perto a carreira do cão, destacou que Messi foi treinado desde o nascimento e é fruto de um programa de criação dentro da própria PMES, sendo filho de outros cães policiais.
“Messi nasceu com o instinto apurado e sempre demonstrou grande dedicação, se destacando desde cedo”, contou o coronel.
Veja o vídeo:
O dia a dia com o condutor no trabalho da PM
Messi não é apenas um herói em ação, mas também um fiel companheiro fora das operações. Ele vive sob os cuidados do cabo Adriano Roveta, seu adestrador, condutor e tutor.
Roveta é responsável não apenas pelo treinamento e condução do cão, mas também por garantir que Messi receba todo o carinho e atenção que merece.
'Messi e eu estamos juntos há mais de seis anos, conheço muito bem ele e tenho uma relação de respeito por ele, por tudo que ele fez e ainda faz no combate a criminalidade", disse Roveta.
Em casa, Messi é parte da família e demonstra o mesmo espírito amigável e amoroso que o tornou especial na equipe.
A relação entre os dois é descrita como de confiança e cumplicidade. “Messi é muito carinhoso e demonstra isso no dia a dia de quem convive com ele. Ele é um fiel companheiro, sempre disposto a ajudar”, disse.
Treinamento, desafios e transição para a aposentadoria
O treinamento de Messi foi um dos fatores que o diferenciaram como farejador. Para ser eficiente em localização de drogas e armas, um cão precisa ter energia e gostar do brinquedo que serve como prêmio. Messi sempre exibiu essas características, o que facilitou seu desenvolvimento.
"Ele é muito intenso em tudo que faz, seja trabalhando ou até mesmo nos seus momentos na folga. É um cão grande de 35 kg e exige uma certa habilidade em domar e fera", comentou Roveta.
Apesar do sucesso, o treinamento também trouxe desafios. Situações de alta tensão, cenários inesperados e a necessidade de manter o foco em meio ao caos foram superadas pela dupla Messi e Roveta, que construíram uma parceria imbatível.
Agora, Roveta acompanha o drama de seu companheiro, que sofre de displasia coxofemoral (ou displasia de quadril):
"Messi fez uma cirurgia chamada de denervação, que é um procedimento adotado no tratamento de cães com displasia. Hoje, a polícia tem um olhar diferente com os cães acima de oito anos. Pelo novo entendimento na PMES, os cães acima de 8 anos são avaliados periodicamente, em relação a sua saúde, e podem trabalhar até os 10 anos. O pensamento agora é cuidar do Messi, observar a sua recuperação e, com ele recuperado, avaliar se ele continua na rotina de trabalho ou não", completou Roveta.
Aos 8 anos, Messi está em um momento de transição. Atualmente, ele realiza tratamento para displasia, e sua continuidade no trabalho será avaliada após a recuperação.
Caso se aposente definitivamente, ele continuará sob os cuidados de Roveta, vivendo uma vida tranquila e cercada de amor.
“Messi foi efetivamente o primeiro cão farejador do 9º BPM e deixa um legado de apreensões e a certeza de que essa modalidade é essencial no combate ao tráfico. Um caminho sem volta”, ressaltou o coronel Palaoro.
O que é displasia coxofemoral ou de quadril?
A displasia coxofemoral é uma condição genética que afeta principalmente cães de raças grandes e gigantes, como labrador, golden retriever, pastor-alemão, dentre outros. E até mesmo em gatos, também de raças gigantes, como maine coon, persa e himalaia, sendo a predisposição ainda maior em fêmeas, diferente dos cães.
"Como é uma doença hereditária, provoca, desde a fase jovem, alterações anatômicas no quadril, podendo, em casos crônicos, provocar deformidade das articulações, sobrecarga do membro saudável, dor e dificuldades de locomoção. O diagnóstico muitas vezes ocorre em estágios avançados, quando ocorre uma manifestação clínica evidente para o tutor. Por isso é importante o monitoramento precoce, especialmente em cães e gatos predispostos geneticamente", explica a veterinária Julia Junqueira Tocantins.
Segundo ela, fatores ambientais, dietéticos e raças predispostas podem acelerar o aparecimento dessa condição genética. Animais que moram em casas com pisos lisos, que possuem o hábito de subir e descer escadas em grande velocidade, pular de grandes alturas, animais obesos naturalmente tem um aumento do estresse sofrido pelas articulações.
"A doença possui graus de severidade, sendo de grau A, podendo chegar até o grau E. Independente do grau, o diagnóstico precoce feito através de anamnese, exame físico e radiografia são fundamentais para definir um prognóstico e tratamento individual, mesmo se tratando de um quadro que só é curativo através da cirurgia", destaca a veterinária.
Porém, de acordo com ela, relacionando ou não com o tratamento definitivo, é importante que o animal diagnosticado com a doença faça uso de medicações prescritas pelo médico veterinário de sua confiança, que geralmente são anti-inflamatórios, analgésicos e nutracêuticos.
A fisioterapia também é uma grande aliada, pois além de ser um tratamento não invasivo, ainda reduz a dor, ajuda a estabilizar a articulação e também pode diminuir a progressão da doença.
Embora os tratamentos possam aliviar os sintomas e retardar a progressão, apenas a cirurgia é considerada curativa.
Futuro da Equipe K9
Caso Messi precise se aposentar mais cedo, outros cães já estão prontos para dar continuidade ao trabalho. Atualmente, a PMES conta com mais de 60 cães policiais, incluindo a cadela Kiara, recentemente habilitada.
O programa K9, consolidado como um dos mais importantes da corporação, continua sendo um pilar no combate ao crime no Espírito Santo.
Messi, com seu faro apurado e carisma único, não é apenas um cão policial. Ele é um símbolo de dedicação, coragem e eficiência, que deixa um legado de excelência na segurança pública. E nos bairros, é amado pelas crianças.
*Texto sob supervisão da editora Erika Santos