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'Aqui quem freia sou eu', disse instrutor de tirolesa a engenheiro morto no Morro do Moreno

João Paulo Sampaio dos Reis, de 47 anos, registrou em vídeo os últimos momentos antes de descer no equipamento, no último sábado

Foto: Reprodução/Facebook

Um vídeo gravado minutos antes do acidente que matou o engenheiro João Paulo Sampaio dos Reis, de 47 anos, na tirolesa no Morro do Moreno, em Vila Velha, no último sábado (01), mostra os últimos momentos da vítima. As imagens, registradas por ele, mostram a descida das duas jovens que o acompanhavam no passeio, a filha e uma amiga.

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Durante a gravação, enquanto uma das meninas se preparava para descer, João Paulo questiona ao instrutor se haveria risco da tirolesa 'ir direto'. O funcionário diz que isso é "impossível", explicando o funcionamento do sistema. "Aqui quem freia sou eu. No outro tem (sistema de freio). Está tranquilo", afirmou.

A tirolesa do Morro do Moreno é composta por dois lances. No segundo lance, local do acidente, o sistema de frenagem é apenas automático. O equipamento não freou e o João Paulo se chocou contra uma estrutura de madeira.

O engenheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), Giuliano Basttiti, responsável pelo acompanhamento do caso, descreveu que o local é de difícil acesso e explicou o mecanismo de todo o trajeto da tirolesa.

Segundo ele, há dois lances com duas bases. A primeira base é a inicial, na qual a pessoa coloca os equipamentos e faz a partida. Ela tem 100 metros de comprimento até a segunda base e, toda a velocidade, é controlada pelo instrutor que fica na base, ou seja, de forma manual. 

Já no segundo lance, que pega a segunda e terceira base (destino final), a velocidade é controlada pelo sistema de frenagem automática. A velocidade média é de 35 km por hora e são 400 metros de extensão.

"Pelo que levantamos até agora e segundo testemunhas, ele atingiu a segunda base. Parou para a ancoragem e foi para a segunda parte (segundo lance), onde tem um sistema de molas e amortecimento" explicou Giuliano.

O engenheiro do Crea disse que os equipamentos de frenagem foram retirados para perícia da Polícia Civil, então não foi possível analisá-los no local. Giuliano alertou do perigo de se ter apenas uma opção de segurança.

"O operador fica em um lugar alto, exposto a situações de estresse, sol, chuva, pode ter um desmaio ou um mal súbito. Na engenharia de segurança não se pode deixar na mão de uma pessoa apenas, pois podem acontecer falhas", frisou.

Giuliano chamou a atenção para a necessidade das empresas do ramo de atividades físicas de aventura repensarem a segurança dos seus equipamentos e redobrarem a atenção.

Donos da empresa se manifestam

Na manhã desta segunda-feira, um dos donos da empresa responsável pela tirolesa do Morro do Moreno se pronunciou pela primeira vez. O empresário Alex Magnago e a advogada, Lucinéia Vinco, concederam uma entrevista para a TV Vitória/Record TV.

A empresa é composta por três sócios, que buscam entender o que de fato aconteceu para provocar o acidente. "Da mesma forma que a família quer informações, nós também. É lastimável, é uma vida, um pai de família, a mesma coisa que eles querem nós também queremos. Tivemos milhares de descida nesses dois anos de funcionamento", disse Alex Magno.

Após o acidente o Corpo de Bombeiros esteve no local e uma perícia da Polícia Civil foi realizada. No primeiro momento, a informação era que o freio da tirolesa poderia não ter funcionado. Mas o sócio explicou como funciona o sistema onde João Paulo morreu. Segundo ele, é um rapel guiado, com um o sistema de freios semelhante ao do rapel.

"Mesmo a pessoa tendo habilidade para esse tipo de atividade, tem uma outra para fazer a segurança do participante, para que caso ele tenha um surto, desmaio ou solte sem querer, um profissional fica embaixo para assegurar a descida" explicou Alex.

Ele esclareceu ainda que a tirolesa tem essa proteção chamada de "anjo". "As pessoas vão pelo cabo de aço, mas é controlado. O senhor João Paulo, infelizmente não chegou no sistema de freio ABS", disse. 

Passeio em família

Reis decidiu passar o feriado do Dia do Trabalho junto com a filha de 14 anos e uma amiga dela. Testemunhas disseram para o Corpo de Bombeiros que as duas adolescentes desceram a tirolesa antes do engenheiro e que, só mais tarde, souberam o que havia acontecido.

A vítima era engenheiro, mas trabalhava como despachante junto a Polícia Federal e ao Exército. Ele era casado e deixa dois filhos: além da adolescente de 14 anos, um menino de 8.

Durante o domingo (2), uma equipe do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea) esteve no Morro no Moreno para uma vistoria no local.

Bombeiro investigado e cena do acidente alterada

Um cabo do Corpo de Bombeiros será investigado pela corporação, de acordo com nota enviada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo (CBMES) na noite deste domingo. Ele é sócio da empresa Eco Vertical, responsável pela tirolesa no Morro do Moreno.

A TV Vitória/Record TV, apurou que o local do acidente foi alterado pelos responsáveis, que retiraram os equipamentos do corpo da vítima antes da chegada da polícia. A informação foi obtida junto aos bombeiros. Além disso, o capacete utilizado por Reis também não foi encontrado. Segundo policiais militares, o cabo se negou a apresentar o equipamento que havia retirado. Eles prestaram depoimento no Departamento de Polícia Judiciária de Vila Velha e foram liberados.

O Corpo de Bombeiros, por meio de nota, esclareceu que o militar sócio do empreendimento não estava a serviço no momento do acidente e sua conduta será apurada no inquérito policial a ser instaurado pela Polícia Civil, responsável pela apuração das causas do acidente. "Caso a apuração dos fatos venha a indicar descumprimento das normas de conduta dos Bombeiros Militares, as providências cabíveis serão adotadas", conclui.

A Polícia Civil disse que o caso segue sob investigação e estará aguardando o resultado da perícia feita no equipamento. Não irá repassar mais detalhes para preservar a apuração do incidente.

O cabo do Corpo de Bombeiros também foi procurado pela reportagem do jornal Folha Vitória, mas não retornou o contato. 

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